Gosto desta conversa que estabeleço aqui com dois queridos cronistas de domingo, o Ubaldo e o Veríssimo. Este fala do futuro e de seus artefatos, e eu me lembro da reportagem que assisti e que nos ensina de que são necessários apenas 3 segundos (ou seriam milionésimos de segundo?) para que recebamos uma informação e a arquivemos em nosso cérebro. Daí que nossa vida seja totalmente dependente da memória. Sou aquilo que lembro, e, como vocês podem ver, vou ficando cada vez mais imprecisa e difusa, com essas memórias que já não se fixam com a mesma facilidade. No entanto, o Veríssimo fala de artefatos do futuro que invadem nosso presente. Ou não invadem, se esfumam e desaparecem, como o Concorde, que já pareceu, um dia, ser o futuro da aviação e hoje não passa de uma vaga memória que pertence, ainda, a uns poucos. Elege ele, como o único artefato da ficção científica a estar presente no que ainda chamamos de hoje, ao tal radinho de pulso do Dick Tracy. Como não sou muito ligada a quadrinhos, não me lembro deste detalhe. Dick Tracy, para mim, foi um filme com um homem que já foi o objeto de desejo de muitas mulheres lindas e famosas, e de outras sem beleza e fama, também. Warren Beaty! Quem se lembra dele ainda? Quem ainda pode imaginar o ideal de beleza que ele representou? Sic transit gloria mundi… Peter O'Toole, Robert Redford, Alan Delon, – a impressão que tenho é de que só os feios escapam. Por alguma misericórdia, os feios se tornam atraentes, alguns até melhoram. Jean Paul Belmondo, por exemplo. Yves Montand, não sou muito boa de nomes, vocês bem sabem. Abro aqui um parênteses para lastimar a beleza do Cauã Reymond, que provavelmente vai desaparecer e deixar as jovens de agora, no futuro, com essa mesma sensação de perda que sinto agora. Volto ao assunto da memória, sob o domínio da qual vivemos: O aparelhinho que o personagem dos quadrinhos levava no pulso seria semelhante a um celular de hoje, que podemos levar amarrado no pulso. Só que estes celulares são um dos principais causadores de nossa perda de memória: como, em seus chips, armazenamos todas as nossas pequenas lembranças e identidades (senhas, números de telefones, endereços dos amigos, datas de aniversário dos parentes, vencimento de contas, compromissos assumidos) cada vez esquecemos mais. Logo, vivemos menos.
Enquanto vivemos, no entanto, usamos nossos idiomas para nos expressarmos, e aí é que entra a crônica do Ubaldo. Como estamos nos esquecendo de tudo, até das regras de nossa própria língua esquecemos e vamos adotando, com uma total falta de critério, tudo o que a "globalização" nos impõe.
Paralimpíadas é a mãe, diz ele. Desse jeito vamos todos acabar como os vira-latas do Nelson… Mas, como não existe uma versão de complexo de vira-latas nos chips do nosso celular, a gente nem sabe o que é isso, e dá de ombros, sem entender bem o que é que esse tal de cronista quer dizer. E é por isso que, talvez, ao fim de suas crônicas sempre apareça uma identificação por escrito "João Ubaldo Ribeiro é escritor". Por que será que o mesmo não ocorre com o Veríssimo? Talvez porque esse tenha deixado de ser gente e agora seja apenas uma grife. Volta e meia me aparecem com um texto que dizem ser dele. Textos que eu sei que não são, porque atacam assuntos que ele defende, ou porque são de uma qualidade muito baixa. Isso é o que me diz a memória que ainda guardo de outros tempos. Mas as maquininhas atestam a autoria. O melhor é abanar o rabinho e sorrir latindo como dizia… quem, mesmo? Talvez o São Google saiba!
Enquanto vivemos, no entanto, usamos nossos idiomas para nos expressarmos, e aí é que entra a crônica do Ubaldo. Como estamos nos esquecendo de tudo, até das regras de nossa própria língua esquecemos e vamos adotando, com uma total falta de critério, tudo o que a "globalização" nos impõe.
Paralimpíadas é a mãe, diz ele. Desse jeito vamos todos acabar como os vira-latas do Nelson… Mas, como não existe uma versão de complexo de vira-latas nos chips do nosso celular, a gente nem sabe o que é isso, e dá de ombros, sem entender bem o que é que esse tal de cronista quer dizer. E é por isso que, talvez, ao fim de suas crônicas sempre apareça uma identificação por escrito "João Ubaldo Ribeiro é escritor". Por que será que o mesmo não ocorre com o Veríssimo? Talvez porque esse tenha deixado de ser gente e agora seja apenas uma grife. Volta e meia me aparecem com um texto que dizem ser dele. Textos que eu sei que não são, porque atacam assuntos que ele defende, ou porque são de uma qualidade muito baixa. Isso é o que me diz a memória que ainda guardo de outros tempos. Mas as maquininhas atestam a autoria. O melhor é abanar o rabinho e sorrir latindo como dizia… quem, mesmo? Talvez o São Google saiba!
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