Meu amado, hoje eu te chamaria para passear pelas ruas deste Rio enevoado, que misteriosamente esconde suas ilhas e propõe que olhemos para a terra firme. Tomaria tua mão e te levaria a lugares que não costumamos frequentar, à procura de obras de arte semeadas pela cidade, para ver se nossos olhares amorosos as ajudariam a germinar. Com passos despreocupados, quase de dança, relembraríamos o encanto do ballet de ontem à noite. E sorriríamos juntos, no mistério das lembranças compartilhadas. Você e eu, cansados de andar, faríamos uma pausa para tomar uma água de coco e conversar à sombra. Sim, eu sei que você ia preferir uma cerveja gelada, mas o sonho é meu e eu te ofereço algo saudável e natural, cuidando de teu corpo imaterial. Depois, de mãos dadas, quem sabe escolheríamos um museu, onde pudéssemos ver ainda um pouco mais de arte, quem sabe uma livraria, onde você adorava me levar para observar-me, sádico, estorcendo-me nas garras do vício da leitura. Saltando de livro em livro, estonteada, folheando, separando, gemendo a dor de não conseguir ler todos, só encontraria sossego depois que você, com habilidade, me ajudasse a escolher algum livro que acabaria entre nós, na cama, ao fim do dia. Mas a esta hora já teríamos fome, e iríamos almoçar, longe ou perto. A comida seria boa, suave, e nossos olhos satisfeitos, brilhariam de prazer e alegria por estarmos ali juntos, desfrutando a calma do feriado. Iríamos a um cinema, depois. Um filme francês ou português, para usufruir dos festivais. Depois, um café, quentinho, e a nossa interminável conversa seria sobre o filme e a estranheza das imagens ou o intrincado da história, ou a graça das imagens e a força dos personagens. Vamos para casa? Um de nós dois perguntaria, e o outro não conseguiria apagar o brilho malicioso do olhar. Vamos! Você escolheria uma música para preencher a penumbra. Talvez tomássemos um vinho, talvez não. Mas nós nos beijaríamos muitas e muitas vezes. E eu lembraria de uma coisa urgentíssima para te dizer: Te amo, sabia?
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