Me diverti com a crônica do João Ubaldo no domingo passado. Mas sofri, também. Sofri bastante, pois, ao contrário do que se possa imaginar por aí, o retrato que ele pinta da vida de escritor é muito realista. Quantas vezes me vejo indo para um e outro lado, mais ou menos distante, tentando cativar um público com minhas habilidades, não de xaxado pois, como não sou comadre Sebastiana, não tenho habilidade nesta dança, mas repetindo o A, E, I, O, U, Psilone. Então, frente a uma plateia geralmente inadequada, em feiras de livros que não vendem os meus livros pois os organizadores ou a editora não se interessaram em providenciá-los, subo no palco e, sem nenhum vergonha, exibo despudoradamente meu amor pelos livros e me deixo levar, encantada, pelas histórias que relembro, pelo prazer que me proporcionaram tentando, pelo exemplo, fazer que alguém na plateia descubra o grande barato que é a literatura. Outras vezes, em regiões tão pobres que sei que a única chance de lerem o que escrevi será através de uma biblioteca, se houver, me sinto esmagada pela vontade que essa plateia tem de ler, de conhecer, de escapar do "nada e a nossa condição". E, por umas poucas palavras, já embarco em outra canoa, ao rememorar o conto de Guimarães Rosa. Adoro o Rosa que conheci nas páginas dos livros que li. Com que emoção descobri que Grande Sertão era, não apenas legível, mas uma grande história, absorvente, lírica, cheia de aventuras e de pathos, com a história de amor mais comovente que já li até hoje! Quantas estórias e histórias do Rosa se aninharam no mais fundo de mim, me fizeram compreender o mundo e suas gentes e nossa cotidiana loucura. E Buritis, outra grande história de (des)amor, até hoje me provoca lágrimas de pena da bela princesa encantada… Não, eu sei que não existe nenhuma bela princesa encantada na história, mas a personagem me evoca uma. Solitária, tão especial, mas sem alternativa, seu príncipe fraco não foi audaz e ela acaba presa na lama, com o sapo, se odiando. Nossa condição, o nada… E, já que voltei ao assunto, essa história de dor, de perda, uma dor maior do que as palavras e o entendimento podem suportar me comove e me intriga. Seus contos são difíceis de compreender racionalmente, apelam a um outro tipo de conhecimento, ainda não estudado pelos sábios. Como se manter indiferente à Terceira margem do rio? Ao próprio Nada e a nossa condição? Às emoções de Soroco, sua mãe, sua filha? Contos lindos, que se instalam diretamente na alma, e que passamos a vida tentando esclarecer, mas sabendo tudo de antemão?
Meu caro João Ubaldo, sei que você nunca vai ler este meu desabafo, mas li o seu e assino embaixo, com lágrimas (embora rindo). Adoro sua dupla caipira, aguardo ansiosa a revelação de seu parceiro, e desde já fico pensando numa dupla em que eu pudesse me encaixar. Embora adore uma lapiseira, já estou viciada demais em computadores para adotar este instrumento. Quem sabe Teclado e Telinha não seja o meu futuro? Já me vejo, como no filme de Mel Brooks, dançando com um andador e obtendo mais de um milhão de acessos no YouTube. Acessos…Cliques… Os novos nomes do prêmio Nobel de Literatura…
Meu caro João Ubaldo, sei que você nunca vai ler este meu desabafo, mas li o seu e assino embaixo, com lágrimas (embora rindo). Adoro sua dupla caipira, aguardo ansiosa a revelação de seu parceiro, e desde já fico pensando numa dupla em que eu pudesse me encaixar. Embora adore uma lapiseira, já estou viciada demais em computadores para adotar este instrumento. Quem sabe Teclado e Telinha não seja o meu futuro? Já me vejo, como no filme de Mel Brooks, dançando com um andador e obtendo mais de um milhão de acessos no YouTube. Acessos…Cliques… Os novos nomes do prêmio Nobel de Literatura…
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