Tuesday, June 12, 2012

Lapiseira e Canetinha

Me diverti com a crônica do João Ubaldo no domingo passado. Mas sofri, também. Sofri bastante, pois, ao contrário do que se possa imaginar por aí, o retrato que ele pinta da vida de escritor é muito realista. Quantas vezes me vejo indo para um e outro lado, mais ou menos distante, tentando cativar um público com minhas habilidades, não de xaxado pois, como não sou comadre Sebastiana, não tenho habilidade nesta dança, mas repetindo o A, E, I, O, U, Psilone. Então, frente a uma plateia geralmente inadequada, em feiras de livros que não vendem os meus livros pois os organizadores ou a editora não se interessaram em providenciá-los, subo no palco e, sem nenhum vergonha, exibo despudoradamente meu amor pelos livros e me deixo levar, encantada, pelas histórias que relembro, pelo prazer que me proporcionaram tentando, pelo exemplo, fazer que alguém na plateia descubra o grande barato que é a literatura. Outras vezes, em regiões tão pobres que sei que a única chance de lerem o que escrevi será através de uma biblioteca, se houver, me sinto esmagada pela vontade que essa plateia tem de ler, de conhecer, de escapar  do "nada e a nossa condição". E, por umas poucas palavras, já embarco em outra canoa, ao rememorar o conto de Guimarães Rosa. Adoro o Rosa que conheci nas páginas dos livros que li. Com que emoção descobri que Grande Sertão era, não apenas legível, mas uma grande história, absorvente, lírica, cheia de aventuras e de pathos, com a história de amor mais comovente que já li até hoje! Quantas estórias e histórias do Rosa se aninharam no mais fundo de mim, me fizeram compreender o mundo e suas gentes e nossa cotidiana loucura. E Buritis, outra grande história de (des)amor, até hoje me provoca lágrimas de pena da bela princesa encantada… Não, eu sei que não existe nenhuma bela princesa encantada na história, mas a personagem me evoca uma. Solitária, tão especial, mas sem alternativa, seu príncipe fraco não foi audaz e ela acaba presa na lama, com o sapo, se odiando. Nossa condição, o nada… E, já que voltei ao assunto, essa história de dor, de perda, uma dor maior do que as palavras e o entendimento podem suportar me comove e me intriga. Seus contos são difíceis de compreender racionalmente, apelam a um outro tipo de conhecimento, ainda não estudado pelos sábios.  Como se manter indiferente à Terceira margem do rio? Ao próprio Nada e a nossa condição? Às emoções de Soroco, sua mãe, sua filha? Contos lindos, que se instalam diretamente na alma, e que passamos a vida tentando esclarecer, mas sabendo tudo de antemão?
Meu caro João Ubaldo, sei que você nunca vai ler este meu desabafo, mas li o seu e assino embaixo, com lágrimas (embora rindo). Adoro sua dupla caipira, aguardo ansiosa a revelação de seu parceiro, e desde já fico pensando numa dupla em que eu pudesse me encaixar. Embora adore uma lapiseira, já estou viciada demais em computadores para adotar este instrumento. Quem sabe Teclado e Telinha não seja o meu futuro? Já me vejo, como no filme de Mel Brooks, dançando com um andador  e obtendo mais de um milhão de acessos no YouTube. Acessos…Cliques… Os novos nomes do prêmio Nobel de Literatura…

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