Friday, September 11, 2009

Literatura, twitter e otras cositas más

Passei o dia hoje preparando uma comunicação que vou fazer num seminário da UFF. Acabei perdendo a noção do tempo, coisa que às vezes me acontece quando fico muito enfronhada no que estou escrevendo. Enquanto isso o dia 11 de setembro passou e eu quase nem notei. Só agora, e fiquei arrependida de não ter lembrado nem um pouquinho do trauma que foi esse dia. Me lembro que foi o Guilherme quem me avisou do que estava acontecendo. Eu estava no carro, voltando para casa (sim, eu sei, eram nove e pouco, mas eu já tinha feito mil coisas, antigamente eu era uma mulher muito ativa.) e o Gui ligou, querendo saber melhor o que estava acontecendo. Eu não entendi nada, achei que um avião da ponte aérea tinha batido no prédio redondo lá perto do Santos Dumont. E ele me corrigia, dizendo que tinha sido em NY. Bem, sei que voltei para casa e fiquei de olhos grudados na TV, vi os prédios em chama, um avião sendo perseguido, o pentágono, os prédios desmoronando. Num primeiro momento, aquele prédio ferido ali em Manhattan, nem me dei conta da tragédia, nem da grande nem das milhares pequenas tragédias individuais, as mortes, os medos, os atos de bravura e os de mesquinharia. Hoje quando penso nas torres gêmeas, penso no amigo que perdi, nos filhos dele e na mulher. Penso nas pessoas tentando se salvar, descendo escadas intermináveis, mas acabando todos esmagados entre escombros. Penso no filho de uma amiga, vendo tudo aquilo pela janela, e depois correndo pelas ruas, sem saber para onde. E, hoje, fico pensando que, se já houvesse twitter, teríamos uma obra coletiva monumental. Em que estariam pensando aquelas milhares de pessoas, as envolvidas na catástrofe e as que nem sabiam do assunto? O twitter chegou tarde para esse grande colapso, mas talvez esteja aí no dia do Juízo Final. Que, pelo menos aqui no Brasil parece cada vez mais próximo. Com os tornados que agora resolveram devastar o sul do país, as enchentes fora de época, deslizamentos de terra, e o discurso belicista de Lula, nosso guia atrapalhado que nos leva às cegas para o colapso final. Com tanto discurso eleitoreiro, a realidade virou retórica, e tem tanta importância como uma notícia de jornal. Por falar em notícia, volto ao twitter, desta vez para comentar a Cora Rónai que postou algo assim: "deslizamentos de terra no Haiti matam uma pessoa" – e isso é notícia? 
Ai, Cora,bem sei que você não está menosprezando a vida desaparecida, mas ficou feio, esse post. Melhor fazer como seu amigo Millor, o mais perfeito autor de twits que já li. Tudo o que o Millor twita nos faz sorrir e pensar, os 140 caracteres dele equivalem a um livro de 140 páginas.
Para terminar, só quero dizer que o Amauri, meu fiel e querido leitor, tem toda razão. Os mortos não nos perturbam, os vivos é que nos exasperam. O que falei foi algo que tirei de uma conversa com uma amiga espírita. Bem que eu gostaria de acreditar nessas coisas de almas, no poder desses "trabalhos" e das "orações". Iria de bom grado visitar uma dessas mães-joanas que prometem trazer a pessoa amada em três dias, se eu acreditasse um pouquinho.  E, como sou incrédula, também não consigo acreditar no Nelsinho Piquet.  Daqui a um tempo, a Cora vai postar: "Brasileiro mente e prejudica economia mundial" – e isso é notícia?
Nós tamos ficando tão desmoralizados…

2 comments:

Guido Cavalcante said...

Esse artigo na Wired com certeza vai interessar para a sua apresentação sobre twitter y otras cositas

http://www.wired.com/techbiz/people/magazine/17-09/st_thompson


Uma coisinha: o primeiro fato a ser reportado pelo Twitter, foi o ataque em Bombaim, Índia, em 26/11/08 e que terminou em 29/11 com 195 mortos.

Guido Cavalcante said...

Esqueci desse outro texto muito interessante sobre leitura: "Is Google making us stupid?"

http://www.theatlantic.com/doc/200807/google