Se pessoas tivessem um dicionário de antônimos, eu seria, certamente, o antônimo de boêmia... Nada mais distante de mim do que o desejo de ir para um bar tomar chope. Jamais aprendi a gostar de cerveja, bebidas me dão sono, já não gosto mais de comida de botequim... Então, o que me leva a aparecer ora num bar ora noutro aqui no Leblon, no Centro, ou Ipanema? Os amigos, é claro! Por uma dessas fatalidades, sou uma daquelas pessoas que, sem vocação para a boemia, acho graça no universo do Bar. Muito já se falou sobre a diferença do botequim carioca para o botequim (se é que existe) paulista, não estou dizendo nada de novo, mas acho que as diferenças começam no propósito da ida ao botequim: Ninguém vai ao botequim para beber, ou para comer. O problema é que, no verão, faz muito calor, e é preciso tomar chope para refrescar. Meus amigos me dizem que o chope é a bebida mais refrescante que existe, e eu acredito, pois sempre acredito no que meus amigos dizem, mas não me convenço...Daí que sigo na água, sem gás. Ou me aventuro na caipirinha, uma única, que pode durar toda a noite, ou voltar quase intacta para desgosto do barista (e existe isso, em botequim? talvez, em SP...) De vez em quando, tomo água tônica, até hoje não descobri por quê.
No inverno, o chope hidrata as cordas vocais, e assim vamos consumindo barris e mais barris de chope pelas noites afora. Enquanto isso, nos botequins carioca, desenrola-se o mesmo fenômeno que na praia: as pessoas se encontram, circulam, paqueram, discutem a política, o carnaval ou o futebol, comentam as leituras, reclamam da vida. Não sou tão assídua que possa fazer uma classificação dos botequins, mas já reparei que, em alguns, conversa-se mais. Em outros, paquera-se. Em outros, exibimo-nos, nós, os descolados, que conhecemos todo o mundo que é para conhecer....(ah, quem me dera...eu sou apenas platéia para os chiques e famosos) E, para cada tipo de boteco, um nível de barulho diferente. Regra geral, não se escuta música em botequim carioca, a não ser que surja, espontânea, uma roda de samba ou de violão. Mas, dia de jogo, as TV's aparecem como por milagre, e os olhos se afastam das paqueras para acompanhar os lances. Chega de nhenhenhém. Ia apenas falar da conversa de ontem à noite, com um meu "irmão em SESC", que me incentivou a continuar com meu romance, meio parado entre outros projetos. E agradecer a ele, Cremasco, pelo presente: Histórias prováveis, livro de contos que agora vou ler. Não foi com esse que ele foi premiado, foi com um romance histórico sobre a formação do estado do Paraná, uma espécie de saga familiar, chamado Santo Reis da Luz Divina. Assim mesmo, Santo no singular, pois é o nome de um personagem.
Recomendando livros para amigos, lembro aqui do A elegância do ouriço, da Muriel Barbery; dos livros de Amos Oz; dos últimos do Philip Roth. Tenho lido poucos brasileiros ultimamente, já que minhas resenhas para o Rascunho têm me levado a passear pelo mundo e pelo tempo. O último brasileiro que li foi o do Galera, Cordilheira, mas não me empolguei, embora ache que ele escreva muito bem. E que é um rapaz corajoso, tendo assumido a narração numa primeira pessoa feminina... Isso é muito século XIX, quando os homens não estavam ameaçados pelo feminismo. Hoje em dia, me admira que a crítica não tenha crucificado seu romance...
4 comments:
Sou solidária com suas preferências boêmias. Também seria fuzilada por manter uma garrafinha de água por toda a noite.
Ainda não consigo participar dessa vida literária noturna (prioridades aos filhos pequenos). Mas se fosse hoje, acho que iria preferir um cantinho com música suave, um bom ar-condicionado, cadeira confortável, salgados de forno apetitosos, e um suco bem gelado.
Hummm, não sei não, mas acho que estou meio fora da vida boêmio-literária, não!? :)
Que bom que você ainda consegue achar graça! rs
Beijos.
Procurari por Muriel Barbery. Marciofo
Querida, capricho de uma manha de domingo: visitá-la, nem que seja pelo blog.
Quanto à Cordilheira: grande livro. Li durante o fim de ano, quando dividia o quarto com a Eleonora, em Campos do Jordão. Li em voz alta vários trechos para ela (principalmente aqueles 'escritos' no livro da narradora. Concordamos que aquilo era pena feminina, escrito de mulher.
Beijos, Eugenia.
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