Bem, apesar do progressivo desinteresse, fui criando "amigos" entre os jornalistas e cronistas. Há alguns que eu sempre leio; outros que eu leio de vez em quando e que me pergunto porque é que não sou mais assídua; outros que leio só porque o título ou a manchete me interessaram, e me pergunto porque é que ainda perco tempo lendo coisas daquele alguém...
Apesar disso, nunca ligava os nomes às pessoas, e ainda hoje tenho dificuldade em fazer isso. Como é que, a partir daquela foto de um sujeito moreno e mirrado que ilustra a coluna, vou identificar aquele senhor de óculos, mais alto do que eu – que sou alta para os padrões brasileiros, 1,70m– parecendo um professor universitário? É ele quem escreve sobre boemia? Que entende tudo de samba?
No fim de semana passado, lá em Búzios, minha amiga me apontou: –Olha lá o Ancelmo! Ele já tinha passado, e eu fiquei olhando as costas curvadas de um senhor de sunga, queimado de sol, fazendo sua caminhada entre amigos, fascinada com essa discrepância entre imagem mental e imagem física. Depois lembrei que meus olhos não são muito confiáveis: eu me vejo no espelho de uma maneira que não corresponde em nada às fotos que tiro. Sempre me assusto ao me mostrarem minhas fotografias, e me pergunto, será que sou assim como me revelam as câmeras? Ando evitando os retratos, com medo, já que não me reconheço nas versões que elas capturam...
Digressões, digressões... Acho que tenho lido muito Proust!
Voltando aos amigos, fico feliz quando os encontro nos jornais ou nas revistas como autores ou como assunto. Outro dia foi a vez do Alberto Mussa, amigo querido, que estampou todos os cadernos de cultura de uma vez só, com seu novo e instigante livro: Meu destino é ser onça. Não é um romance, é uma recriação do mito e um estudo sobre a antropofagia, prática que tanto perturbou o imaginário europeu do século XVI (mas que já vinha atormentando os espíritos, desde sempre, e que continua a pairar ameaçadoramente nos cantos mais obscuros de nosso imaginário). Hoje, quem tem seu rosto estampado num instantâneo risonho é o Alcione Araújo, que conheci lá em Passo Fundo e que, por ser meu vizinho, já vi muitas vezes passando pela praia nas suas caminhadas matinais. Isso na página da frente do Segundo Caderno. Na de trás, a Cora Rónai, dessas "amigas de papel", apaixonada em defesa dos animais, com uma eficiência invejável em todos os gadgets moderninhos, falando (escrevendo) sobre uma coisa que me deixa sempre espantada: escapamos! Nossa cidade, antes tão princesinha, agora é traiçoeira. Nunca sabemos porque ou quando seremos o alvo da vez. Ela, com seu equipamento, escapou, embora no mesmo dia, no mesmo local, a Carol Castro tivesse sido depenada, sem que ninguém nem percebesse que algo de anormal estava acontecendo. Talvez porque roubos não sejam mais anormais. E isso na mesma edição que mostra, no mesmo local, os bandidos de classe média (média? são é classe alta!)sendo levados para os camburões, que nem chamavam a atenção parados ali em frente ao prédio de luxo.
Bem, por enquanto, fico feliz ao ver meus amigos nos jornais e revistas, pois eles ilustram coisas que julgo positivas. Um estuda nossa cultura, outro batalha pelo espaço, mais que merecido, no teatro, outra luta pela nossa casa e seus habitantes –oikoslogia. Vejo o nome de Marcelo Moutinho assinando a revista do Império Serrano, defendendo uma nossa tradição de alegria e cultura. Vejo o texto do Secchin no Rascunho, um conto inteligente, onde ele mistura Alencar e Machado com a facilidade de quem é íntimo dos dois. Leio as críticas publicadas sobre livros de amigos, ou as que os amigos escrevem sobre obras que ainda não li, leio as crônicas que me explicam novelas e emoções, fico contente de que, mesmo sentadinha aqui no meu canto, olhando minha nesguinha de mar, possa me sentir tão ligada às pessoas que admiro, em sintonia com tanta gente boa!
No comments:
Post a Comment