Wednesday, June 13, 2007

Ítaca

Há um pequeno livro de poemas no mercado que parece uma jóia preciosa: Poemas, de Konstantinos Kaváfis, publicado pela José Olympio. O tradutor é José Paulo Paes, que faz uma longa apresentação. O poeta é ótimo. Quem gosta de poesia e ainda não o conhece, tem que correr "em busca do tempo perdido". Como estou dirigindo um grupo de estudos que está examinando A Odisséia, fui checar o poema Ítaca, na tradução acima e na de Marguerite Yourcenar, ambas excelentes, só que a da MY é em prosa.
De presente para meus leitores, transcrevo Ítaca, pois o que é belo tem que ser compartilhado.

Ítaca

Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
As muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar,
mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho,
mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

1 comment:

Anonymous said...

Lúcia, li Kavafis por causa da Rachel, isso lá pelos idos de 1980. Tenho a tradução do José Paulo Paes, que acho linda.
Por curiosidade:a Jacqueline Kennedy pediu que quando morresse fosse lido esse poema em seu enterro. O homem com que ela vivia (um judeu hungaro que administrava sua fortuna, e com quem ela teve um caso de décadas, depois da separação do Onassis) o fez.
Beijos da Eugenia.