Wednesday, March 14, 2007

Beleza pura


As fotos que tirei não revelam o encanto que senti ao ver essas geleiras de perto. O fato é que, ao viajarmos, as experiências nos bombardeiam por diversas frentes: Vemos, ouvimos, sentimos, cheiramos, provamos. Esse passeio de barco até as geleiras se compõe com outras sensações: o frio, por exemplo, que era intenso, apesar de ser verão. O ruído e o movimento do barco em que estávamos. As explicações dos guias. O gosto de café ou de chocolate quente. O som que parece reagir de forma diferente, junto ao gelo. Para mim, essa viagem tinha ainda outra dimensão: as viagens dos exploradores -- Darwin e Moreno -- eram mencionadas a toda hora. E minha própria viagem ao outro fim do mundo, ao Nord Cap, tão desolado, tão diferente deste fim de mundo ameno, cheio de árvores, habitado por selvagens nus e curiosos. Bem, desses a gente só tem notícias, há muito que desapareceram. Mas, debaixo de nossos vários agasalhos, em pleno verão, era impossível deixar de pensar naqueles seres que, para se proteger, só usavam a gordura dos leões marinhos.
O ponto alto da viagem? Não foi atravessar os Andes a pé, foi mesmo a visita a Upsala, o glaciar silencioso que se desfaz em icebergs, verdadeiras esculturas em águas marinhas. É bem verdade que não cheguei a caminhar sobre o glaciar Perito Moreno. Isso talvez tivesse dado maior relevo a essa massa de gelo que avança, que estala, que atroa e desmorona constantemente. Do que fiz e vi, a chegada a Upsala foi a melhor parte.

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