Monday, November 11, 2013

Uma carta de amor

Sim, meu querido ausente.
Escrevo uma carta de amor, nesta manhã de sol claro e brisa fresca, e imagino que talvez você tivesse prazer se a recebesse. Mas, talvez não. Seus interesses podem ser outros agora e, sem nem sequer lembrar que existo, se esta carta chegasse até você, sua reação seria de surpresa e de um certo enfado, palavra antiguinha que nós ainda conhecemos e talvez seja este nosso único elo em comum: palavras antigas, em desuso.
Entre nós existe apenas o não-dito. O silêncio. Não o silêncio do ponto final, mas o das reticências.
Não apago o que escrevo. Deixo aqui, na tela, esta carta que jamais será enviada, e me pergunto a razão para escrevê-la. É que anseio por companhia, por olhos que se iluminem ao me ver, por afagos. E me iludo ao pensar que sim, ainda é possível amar. Sei o contrário, mas me iludo, nesta manhã de sol claro, de céu pálido, de mar desbotado. Nesta minha solidão, nem mais o verão aquece, e aqui seria o local de colocar um sinal de reticências, mas nem é preciso.  Em todos os sentidos. No não-sentido.
Ausência, o meu único presente. E, assim, coloco o ponto final, fazendo mais curta esta carta de amor ridícula. E gosto desse diminutivo tão essencial que já nem mais parece um diminutivo.
Gostaria de que sua mão agora acariciasse meu rosto e que você me dissesse que não é motivo para desesperar, que amanhã é terça, e vou acordar diferente, mas talvez não acorde e que não tem importância. E por isso termino, assim, reticente e imprecisa, talvez …

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