Wednesday, November 06, 2013

Falas e observações

E la fui eu para San Diego, falar sobre dois filmes: um de Gláuber Rocha, "Terra em transe"; outro de Teresa Prata, baseado em romance do Mia Couto, "Terra sonâmbula".
À primeira vista, os dois têm pouco em comum, mas o que me chamou atenção foi o fato de a literatura ocupar um papel importante em ambos. Achei graça no filme que se apoia na escrita… E também tem o lance político. Teresa diz que não fez um filme político, mas ela mesma afirma que tenta fazer, com sua obra, que as pessoas vejam a guerra de um outro ponto de vista. Contemplar a guerra significa meditar sobre as forças políticas que levaram a essa guerra. Mas ainda tem mais um ponto de intersecção: o povo. Em Gláuber ele está presente, como coadjuvante, mas aparece como massa sendo manipulada. Em Teresa ele também se encontra presente, só que já manipulado, regenerando-se. O otimismo e um certo lirismo da jovem a distancia da perplexidade e urgência de Gláuber, que faz uma denúncia. Ela já vê as coisas terminadas, a catástrofe já ocorreu, e daí uma certa  lentidão…
Bem, afora minha palestra, estive presente em outras sessões e o que me chamou a atenção foi a quantidade de sessões dedicadas a "leituras" de obras literárias. Fiquei conhecendo autores novos, e gostei muito do que escutei. Outra coisa que me agradou foi o fato de que agora temos sessões em "food studies". Gente, quando comecei minha tese e explicava o que ia fazer, as pessoas me olhavam desconfiadas, pensando que eu queria escrever um livro de receitas, ou algo assim… Ninguém entendia, vejam só. E agora já fazem até sessões em separado sobre o assunto.
Mais um comentário sobre o PAMLA foi a confirmação de uma coisa que estava notando já há algum tempo: os personagens estão envelhecendo. E daí o interesse por essa "geriatria literária", e por exemplo, sessões sobre: as avós na literatura francesa. Claro que assisti à palestra sobre a "avó proustiana". Adorei.
Mas não foi só a conferência, a cidade de San Diego é encantadora. E o hotel onde ficamos hospedados e onde assistimos a palestra, é excelente, bem à beira do mar, com barquinhos, barcões, bicicletas e até  aquela motocicleta em pe, cujo nome sempre esqueço e parece com Sedgewick. Para mim, a temperatura estava muito fria, mas para os americanos radicados em lugares como Minnesota, era o paraíso e alguns foram nadar e aproveitar o bom tempo. Eu fui até a praia, fora da baía, ver o Pacífico, mas não tive coragem nem sequer de molhar os pés na água.
Agora estou de volta ao Texas, e já vejo os sinais do outono: vento, árvores mudando suas cores, chuva… A temperatura, para mim, está um gelo. Mas com um casaco ou dois, vou-me aguentando. Em breve volto ao Brasil, e ao calor. Ou ao ar condicionado, pois calor demais enjoa…

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