Saturday, March 09, 2013

Mr. Darcy

Leio no jornal um artigo falando sobre o fascínio de Mr. Darcy, exercido ainda hoje sobre as mulheres do século XXI. Reflito, será mesmo possível que um homem do século XVIII (vá lá, XIX, pois o romance foi publicado em 1813– mas Jane Austen começou a escrever sua história em 1796 e a primeira versão da mesma já estava pronta em 1797) exerça tamanho atrativo sobre as mulheres "liberadas" do século XXI?
Ou nós ainda não estamos realmente liberadas, ou o fascínio de Mr. Darcy se deve a alguma coisa que merece ser estudada seriamente por outro alguém mais douto e com mais seriedade do que eu. – Aha! Toquei no ponto crucial! – Passei a bola para uma figura mais séria, mais professoral, de mais – por que não dizer? – autoridade. Vejam, eu mesma continuo com essa canga intelectual que me faz abaixar a cabeça e me considerar mais supérflua, incapaz de voar alto no domínio intelectual, embora, sem modéstia, me considere uma pessoa culta e inteligente. Mas, é claro, sou mulher… tenho uma atenção mais difusa… me deixo levar pelos sentimentos e emoções e julgo pelas aparências, precipitadamente. Sendo assim, posso aceitar que o fascínio de Mr. Darcy possa ser explicado pela camisa molhada de Colin Firth (mas, sinceramente, nem toda a razão e a lógica do mundo me impedirão de suspirar ao ver Colin Firth nas telas, mesmo que seja no papel de gay). Só que não me conformo com essa explicação e me indago ainda outra vez: o que vemos em Mr. Darcy? Vemos um homem em posição superior, que ignora mulheres que brilham pela posição social, pela riqueza, e pela beleza  e que se interessa pelo intelecto, pela criatividade e sinceridade de uma mulher. Acho que é por isso que ainda suspiramos por alguém como ele: alguém que nos olhe como seres humanos e que nos faça triunfar sobre peitos e bundas de silicone, sobre holofotes da mídia e insolências do poder.
Mas, sinceramente, alguém poderia escutar a declaração de amor de Mr. Darcy, hoje em dia, sem rir? Depois de passar o romance inteiro em silêncio eloquente, que só a insegura da Elisabeth não entende, ele faz a declaração não de seu amor, mas de sua derrota: "Em vão tenho lutado comigo mesmo, mas nada consegui…"
Oh, céus, Mr. Darcy!!! O gostinho de vitória é muito bom, mas o que a gente quer é triunfar sem tripudiar. Don't spell it out! Passe logo aos finalmentes! "You must allow me to tell you how  ardently I admire and love you".  A chave está aí. E não é no love, é no admire. E vamos logo aos beijos, pois essa é que é a boa rendição! Ai, Mr. Darcy!!!! Que ardor é esse?!

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