Sunday, March 31, 2013

Bananas!

Tenho um problema de memória que não sei corrigir bem. Minha única memória em funcionamento é a afetiva, só lembro das coisas que falam à minha emoção. E esqueço nomes e rostos, mas me lembro da ação. Me lembro de histórias lidas, mas não recordo em que livros, misturo nomes e faço cara de parede quando me dizem "Fulano de Tal", certos de que devo conhecer, pois escreveu alguma coisa célebre, ou foi ministro da cultura, ou é o síndico do prédio em que vivo… Mas lembro de coisas, geralmente coisas sobre as quais li.
Sendo assim, há uns anos atrás li a respeito de uma exposição de arte contemporânea. Um banco qualquer, muito chique, estava inaugurando uma agência e nesta agência quis fazer um espaço de galeria de arte. Até aí tudo bem. Tem um banco aqui perto de minha casa que se auto-intitula Van-Gogh, por exemplo. Os bancos, desde umas duas décadas, descobriram que arte pode ser investimento. Só que o curador dessa galeria talvez fosse muito idealista, ou, quiçá porque não houvesse ninguém no banco com expertise para fazer curadoria de uma galeria de arte e tenham chamado alguém de fora, essa pessoa resolveu que a primeira exposição do banco seria com arte contemporânea, e essa manifestação artística era igualzinha a que agora ocorre na casa Daros. Cachos de banana, reais, pendiam como escultura e maravilharam a todos os convidados no dia da inauguração da agência, uma segunda-feira. Nos restantes dias da semana, os clientes estranharam o cenário, comentaram, foram entrevistados, tiraram fotos, alguns gostaram, outros detestaram, outros acharam aquilo tudo uma bobagem. E aí chegou o fim de semana. E os bancos fecham nos fins de semana. E era verão. E o calor dentro da agência fechada provocou o amadurecimento e até mesmo o apodrecimento precoce das bananas, o que, por sua vez, provocou uma infestação daquelas mosquinhas de banana. Na segunda-feira o banco não pode abrir. Nem na terça, por conta de limpeza e dedetização. Creio que passaram uns três dias fechados. E, uma vez reabertos, o cheiro entranhado afastou muitos clientes, e nunca mais falou-se em galeria de arte dentro de agência bancária. Mas os jornais noticiaram, e eu li, e agora não posso deixar de me lembrar, ao ler sobre esta exposição na Casa Daros que pretendem que as bananas cumpram "em público seu ciclo de vida". Eles estão calculando dois meses para que os viçosos se transformem num "fio escuro". E depois importarão novos cachos verdes até que, no dia 8 de setembro, eles finalizem a exposição. Resta saber alguns detalhes: o que farão quando as moscas surgirem e o cheiro começar a se entranhar?

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