Tuesday, February 19, 2013

Aniversariando

Aniversariar é uma arte.
Aos poucos, com a repetição, a gente vai aprendendo que não tem muito o que esperar da data. Alguns amigos se lembram. Outros, não. Alguns amigos telefonam, outros nos mandam mensagens por e-mail, telefone, facebook. Outros vêm a nosso encontro, outros se escusam.
E a arte, onde está?
Está no sorriso feliz que, por delicadeza, colocamos em nosso rosto, mesmo a contragosto. Principalmente quando se sabe que a data de nosso nascimento deixou de ter importância para os outros. Há um tempo em que nossa data de aniversário é um motivo de comemoração de "maravilhas". É a data em que surgimos no mundo e passamos a ser o ente mais importante para um alguém qualquer. Tenho uma amiga cujo filho é médico e se embrenhou pelas selvas. Num belo dia, foi chamado para assistir a um parto de uma índia. Quando chegou, o bebê, minúsculo, já tinha nascido e estava exangüe entre as pernas da mãe. O jovem pegou o pequenino e cuidou dele, massageou seu coraçãozinho com a ponta dos dedos e rejubilou com seu primeiro vagido, ainda fraquinho. Esse menininho terá o dia de seu natalício comemorado com carinho e emoção por este rapaz sensível, enquanto ele viver. Talvez sua mãe, e seus parentes também se relembrem da data com grande alegria. Mas o indiozinho, provavelmente, vai crescer, seus pais e seu médico desaparecerão, provavelmente antes dele, e ninguém mais ficará comovido e relembrará o milagre de seu nascimento…
Passei minha infância sem maiores comemorações. Naquela época, não eram usadas. Mas ninguém estava especialmente feliz com o meu nascimento, ou, pelo menos, essa era a impressão que eu tinha. Na adolescência, tive uma festa de aniversário, meus quinze anos, ameaçada por uma das enchentes no Rio. Não era uma super-produção, mas era a minha festa. Um amigo, o Ricardo Zambelli (por onde andará ele?) tinha uma banda e ia tocar lá em casa. Eu fiz meu próprio bolo – nessa época eu conseguia fazer bolos deliciosos – em formato de coração, pois era a única forma que eu tinha em casa. Mas a chuva começou a cair e as ruas foram alagadas. A garagem do meu prédio encheu e os carros flutuavam, descontrolados. Eu olhava a intempérie e sofria, com a certeza de que ninguém iria aparecer. Mas, maravilhada, vi chegarem amigos ensopados, os rapazes da banda rebocando seus instrumentos encharcados, e me encantei com a festa, embora até hoje tenha certeza de que a festa em si é que era o atrativo, e não o meu aniversário.
Casada, descobri que meu dia de nascimento era realmente razão de júbilo para alguém. O Guilherme realmente se importava comigo, disso eu tenho certeza. E, mesmo nas comemorações mais simples, o carinho dele tornava meu dia especial.
Agora, sei que tenho amor e carinho a meu redor, mas também sei que o meu aniversário é apenas mais um dia do calendário. Ninguém vai acordar maravilhado porque, num ano remoto, uma menina indesejada nasceu para se tornar a pessoa mais importante da vida de outrem. Agora voltei a ser uma pessoa comum. E, no dia do meu aniversário, sofro, lembrando do que um dia fui.
Mas sobrevivo, estou sobrevivendo bravamente, e vou sorrindo, agradecida de ter tantas pessoas que querem demonstrar, com carinhos realmente verdadeiros ou com originalidades requentadas, que sou uma pessoa querida, amada verdadeiramente. Só não sou mais aquela pessoa especial.

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