Monday, February 04, 2013

Ai de mim, leitora ociosa…

Leio, e leio por prazer.
Creio que esta é uma confissão cada vez mais rara. Quase tão rara quanto as questões levantadas por Rubem Braga, ociosamente, em sua crônica "Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim…" No entanto, parece que, na época, era mais comum do que se pensa essa dúvida apavorante de como se chamaria a fêmea do cupim.  Como sou dada a um escabichamento, lá fui eu ao meu dicionário procurar a femme fatale que cortou o ingresso de tantos ao Instituto Rio Branco e… aleluia!  Pensam que esta é uma exclamação de júbilo? Bem, não deixa de ser, mas é também a solução do mistério.
ALELUIA - designação comum aos exemplares alados (macho e fêmea) dos insetos isópteros ou cupins, quando abandonam o ninho para o voo nupcial após o qual as fêmeas fecundadas formam novas colônias; arará, cupim, sililuia, siriruia.
O mistério, aliás, já tinha sido desfeito por Manuel Bandeira, em seu texto "A fêmea do cupim". Graças a uma amiga aficcionada às palavras cruzadas ele descobriu que a palavra almejada pelo concurso de ingresso à diplomacia brasileira era arará, a qual depois encontrou no seu Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa – indicando que tamanho não é documento.
Como estava com a mão na massa, aproveitei para descobrir que quem nasce no Cairo, cairota é. Escardinchar não está no Aurélio, lamento, mas encontro a palavra sinema. Aposto que poucos conheciam o vocábulo, mesmo que os que já conheciam a anatomia das orquídeas e que fossem capazes de identificar a parte da coluna que representa os filetes estaminais concrescidos. Nem mesmo toda minha propensão ao escabichamento me permitiu ir atrás dos novos enigmas. Até porque me distraí com seresma, talvez prima das sereias, mas que não passa de uma mulher mole, indolente e inútil. Mas eu não sou nada disso! E, embora não tenha tempo para descobrir o antônimo de póstumo, sou prestimosa e ofereço-lhes um sinônimo para saudade – escabiosa. Advirto, porém, que esta saudade não é um sentimento, e sim uma flor, e não das mais belas. Uma flor roxa e humilde, daquelas que custam a fenecer…

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