A madeira tem os seus sinais
rumor demais…
Guardei esses versos de memória, mas guardo pouca coisa de memória, só me ficam as sensações de beleza e encantamento.
Por exemplo, tive uma professora, a Socorro, da qual gostava muito. Hoje nem sei que matéria ela ensinava. FundIber? O que seria isso? Tive outra, Maria Arminda, que passou por minha vida um único semestre, mas me deixou um presente para a vida toda: Marcel Proust. Tive uma professora, chatinha, tentando me ensinar complemento nominal. Era de uma sofisticação bizantina, o argumento dela. Mas ensurdeci e continuei sabendo apenas o que o Ivan Alves, o extraordinário professor do cursinho, me ensinou. Aprendi direitinho com ele. E com o Manuel Maurício, mefistofélico, incrivelmente provocador. Eu o adorava. Assim como adorava a Marlene e suas aulas sobre Drummond, a quem, por sua vez, ela adorava. Parecia o próprio poema: Lucinha adorava Marlene que adorava Drummond que estava namorando sei lá quem, o que me deixou chocadíssima o dia que descobri. Era como pegar meu avô em flagrante de adultério! Sofri com isso. Depois perdoei. E mais depois ainda, entendi. Juventude é muito radical e moralista.
Mas chega de divagações. O romance de Puig foi me arrastando por memórias desalinhavadas, quase que me afogando. Volto a ele para dizer que minha teoria da cor do baton e da palidez das ideias só deve ser aplicada nos palcos iluminados da vida. Sempre que alguém se postar num palco e tudo o que se notar for a cor do baton, é sinal de que as ideias são anêmicas, transparentes, minguadas… Na nossa humana experiência, no dia a dia, no cotidiano fugaz, um baton vermelho tem muito a contribuir com nossa realização. Minha querida Helena, a musa dos 90, não sai sem um batonzinho. E insiste para que eu o use, também.
Hoje de manhã, quando saí para caminhar, não passei baton, não. Mas devia de estar com a boca mais vermelha que o costume, pois fui notada. Primeiro uma gracinha – e só os homens que achamos feios e inapelavelmente sem graça soltam gracinhas… Depois olhares. Fiquei meio encucada. Achei que estava com alguma coisa estranha na roupa, ou no rosto. Mas me olhei no espelho e estava normal. Deve ter sido o casaco, fechado até em cima, que me protegia do frio. Depois que abri o casaco, ninguém mais me olhou. Amanhã irei de baton. Vermelhíssimo!
1 comment:
Lá vai a minha lista de livros para ler aumentando... Agora fui procurar esse do post e vi que em português é Boquinhas Pintadas. Eu falo três línguas muito bem (até sonho em inglês quando estou na terrinha), mas o espanhol é difícil. O pior é que tenho duas amigas que falam belissimamente e um dia fiquei numa mesa de restaurante num Congresso internacional com elas e as amigas delas e o espanhol delas era lindo, com vários acentos de países distintos: Argentina, Equador, Chile!!! Voltando ao post: Esse livro deve ser o máximo se foi capaz de trazer a você tantas recordações (escolhi de propósito essa palavra e não lembranças). Dessas pessoas mencionadas conheci a Marlene e o André. Marlene me deu aulas e era sempre entusiasmadíssima. André foi meu colega, um ótimo colega e sinto sua morte precoce. Enfim, precisamos conversar sobre os batons. Tem uma professora (eu ia dizer blogueira, mas ainda não consegui introjetar isso -- me soa estranho: é profissão?) que começou um blog para falar de 365 batons, mas só chegou ao 140 !!! E ela fala muito do batom vermelho da Clarice. Postou muitas fotos e em todas Clarice está lá, com seu batom que sobressai até em foto preto e branco. Eu esqueci de contar uma coisa: de manhã, eu já saio do quarto de batom ... Beijos, muitos, T.T.
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