Depois, atrasadíssima, quis atender ao pedido de minha nova editora, a Escrita Fina, e contar qual foi o meu primeiro livro. Cheguei à conclusão que me era impossível falar de um primeiro livro, como se fala, por exemplo, de um primeiro amor, ou de um primeiro sutiã. Ler é um vício, e suponho que nenhum viciado saiba dizer qual foi a "dose" que o viciou. Teria sido o primeiro trago num baseado? A primeira injeção que despejou, gota a gota, a heroína no sangue? A terceira carreira de pó, a quinta pílula de êxtase? O segundo gole de champanhe? O sétimo cigarro, como um selo que passasse a repetir "para sempre, para sempre"? Que livro fez de mim a leitora em que me transformei? Acabei escrevendo um pequeno texto, tão cheio de reminiscências que não acho que sirva para o blog em questão. Vou mandar, mas acho que não vai sair…
E agora cá estou eu aqui, interrompendo a leitura para assistir ao pouso do helicóptero do Obama. Um barulho fora do normal, um enorme helicóptero pousando aqui a dois passos de casa, a corrida até a varanda e a surpresa da bela Lua, brilhante e redondinha, sobre um manto de nuvens. Meu filho me explica: é uma lua especial pois há 18 anos nosso satélite não se aproximava tanto assim da terra. E, além disso, é o equinócio, e, segundo o Márcio, que faz anos no equinócio, esta é uma época muito poderosa. Devemos, segundo ele, fazer um pedido à Lua por esta ocasião. O que eu peço é fácil de advinhar: inspiração para continuar escrevendo, reconhecimento para os textos já escritos, uma editora que me valorize e leitores, muitos leitores, para minha obra. O que posso fazer se sou sempre múltipla? Se não me conformo em pedir uma única coisa, se não consigo me decidir entre livros, se as histórias se multiplicam em minhas lembranças? Talvez seja este meu protesto dylanesco, mesmo sem perceber, vou esperneando pela vida afora, querendo, desejando, lutando, mesmo quando penso que estou apenas aceitando o inevitável…
1 comment:
Querida, acho melhor verificar a data desta postagem porque ontem eu acessei duas vezes e só na última é que tinha texto novo e Obama nem estava no Rio no dia 16. Fico contente ao saber que Dylan Thomas é tão prestigiado pelos roqueiros. Quando eu entrei em contato com sua obra foi lá pelos idos de 1973 e ele na verdade era um dos poetas preferidos do meu professor e orientador querido, Carly Silva. Como Dylan era bem criativo e havia textos que pareciam caóticos, o conceito de coesão foi meu assunto de dissertação de Mestrado. Amei seus comentários sobre o primeiro livro e fiquei tentando me lembrar do meu e não consegui. No meu caso, houve um dado curioso: eu passava horas junto a meu pai, principalmente no sítio em Itaipu, e nessa época nem havia luz, nem nada, só um gerador que ligávamos pouco à noite. E ficávamos eu na rede, ele na cadeira de balanço com suas mais de um mil e uma histórias... Tinha até de saci e o entorno, em noites de lua, com todas aquelas árvores e folhagens se contorcendo ao vento, era meio aterrorizador para uma menininha cheia de idéias como eu. Mas eu amava. Além disso, ouvíamos muito rádio com suas histórias de Jerônimo, o herói do sertão, e tantas outras cujo título me falha agora. Quanto a ser múltipla, acho isso uma benção. Sabe que seus olhinhos sempre revelavam o seu Eu interior? Eles eram brilhantes, inquietos, observadores, parecendo um processador captando o visível e invisível. Um grande abraço, meu carinho, sempre, T.T.
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