Mas há belos momentos no filme, sobretudo quando a câmera nos oferece close-ups dos olhos de Saramago: uma mistura de medo e de sonho. Inteligentes, os dois cônjuges nem sempre nos encantam pelas suas tiradas. Na verdade, as palavras "inteligentes" o são muito pouco. Quando a gente fala com a emoção – e Doña Pilar que me perdôe – diz coisas mais belas, mais relevantes. Pode ser que mais piegas também, admito. Mas é muito mais relevante assistir a emoção de um autor vendo seu filme ser exibido e se emocionando com isso que assistir a senhora consorte a reclamar para si a palavra presidenta. Falta-lhe um pouco de sensibilidade linguística… Imaginem termos que passar a dizer a amanta, ao invés de a amante. Perde-se a tesão e o único resquício do particípio presente, o que tiraria a constância desse amor. Por isso humildemente me oponho a essa violência linguística. E isso para não falar nada da sua defesa da Hilary, e das pequenas grandes faltas de delicadeza que ela esbanja pelo filme.
Quem cresce ali é o Saramago. Em sua derrocada, ele vai crescendo, demonstrando uma força e uma elegância que nos admiram. E sua grande compaixão, qualidade que julgo encontrar nos escritores que mais admiro. O respeito pelo leitor e pela verdade que julgamos descobrir nos detalhes insuspeitados. Foi uma bela tarde.
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