Vou fazer uma resenha, mas meu tempo está solidificado numa pedra, que pesa sobre meu coração, há cinco anos. Minhas mãos estranham a ausência das mãos que com elas se mediam. Perdidos, tempo e afeto, só as memórias. Mas as memórias são sempre mais novas, são sempre de um tempo mais novo…
Uma citação: " Sentiu-se como aquele menino que de repente se via com um balão vazio nas mãos, como se alguém o tivesse roubado, mas não, o balão ainda estava lá, tinham somente retirado o ar de dentro."
Na minha infância aprendi muito com os balões: inflados, eles ansiavam por subir, e era necessário mantê-los à força, amarrados com nós bem dados, seguros por dedos firmes e sempre atentos. Ao menor descuido, eles se iam, sem nem ao menos se despedir. Por algum tempo era possível ficar olhando-os subir, ainda dava para se distinguir, no céu cada vez mais imenso, o pontinho de cor. Depois, era apenas um sinal, a cor contraída num ponto negro e dolorido. E, apesar dos esforços, até esse ponto desaparecia, só nos sobrava a memória da dor.
Havia outros que mantínhamos por mais tempo junto a nós. Mas esses também iam escapando devagar. Já sem forças para libertarem-se, seu voo era apenas uma afirmação de leveza, e eles exibiam seus rostos tristes e enrugados, sua superfície cada vez mais opaca, cada vez mais próximos de nossas mãos. Até que murchavam, amarrados a uma corda que era, para os balões apagados, sua condecoração.
Balões eram tristes, na sua beleza efêmera. Mas a gente só sabia que eles eram tristes no momento da perda. A gente não sabe da vida a metade…
2 comments:
Lúcia, lindo... A gente não sabe da vida a metade. Esse seu post foi tão tocante. E os balões.
Até já achei balão uma coisa linda e fiz um poema sobre balões, numa antologia publicada nos anos 70. Balão para mim era beleza, levando sonhos, sonhos de liberdade, de outras possibilidades. Depois fiquei mais cônscia das queimadas, da destruição das matas. E hoje os olho com carinho e preocupação. Carinho, talvez por me lembrar da sensação que eles provocavam em mim quando eu era jovem; preocupação, por não saber onde irão aportar e se farão algum estrago. Agora só solto balão com gás, sem aquele foguinho cintilante que tremia muito quando se soltava das nossas mãos. Que sabemos da vida pouco, lembro de personagens de Shakespeare que filosofavam sobre tal constatação. Talvez nem a metade, talvez bem pouquinho. Mas não será isso o mistério que nos seduz, mistério que nos lembra o que disse Manuel Bandeira? Grande abraço, minha querida. T.T.
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