Começo por um que me deslumbra, embora talvez não seja a melhor coisa que o autor escreveu: Pantaleão e as visitadoras. Muito antigo, já não me lembro bem de quando ele é. Mas só sei que saiu ainda muito próximo dos tenebrosos anos da censura, em que até o Ballet de Moscou foi censurado. Imaginem, censurar um ballet. Imaginem, censurar! Pois eis que vem a prelo um livro em que os militares (os peruanos, é verdade) são alvo de zombaria e irreverência. Mas uma zombaria e irreverência de tal maneira construída que nos provocava risadas, muitas risadas. Quem não leu, corra para encontrar o romance, todo escrito em cartas e memorandos, numa variedade de "discursos" que esbanja conhecimentos de retórica e cuja "seriedade" e excelente performance de seu protagonista, tão certinho, na desordem da selva, no Carnaval do sexo e nos desvairios da religião nos divertem até às lágrimas.
Fizeram um filme, chatinho... Mas o romance é nota dez! Com certeza não foi este o romance que deu o Nobel ao Mário, mas que ajudou, lá isso ajudou.
Gosto também de um outro, picante que só ele, e que não lembro se são Os cadernos de Dom Rigoberto ou se se trata de Elogio à Madrasta. Cheio de erotismo, descreve quadros entre Dom Rigoberto e sua amada, jogos sexuais em que encontramos perversão, malícia e sensualidade. (Olhando para trás, julgo reconhecer neles alguma coisa de meu bem amado Felisberto Hernández, que quase ninguém conhece no Brasil, e que merecia ser traduzido. Las Horténsias é uma obra prima!)
Gostei de tudo o que li de Vargas Llosa - coisa que nem sempre acontece. Nem Virginia Woolf, nem mesmo Proust escapam de minhas críticas. Mas, Vargas Llosa, por diferentes que sejam seus romances, todos os que li me agradaram. Até do opúsculo que ele escreveu, dando conselhos a um escritor, gostei. Mas, até hoje não consegui ler as Travessuras da menina má, livro que vive se escondendo de mim. Comprei-o antes mesmo que fosse traduzido, em español, lá na Argentina. Pois coloquei-o na mala, e não pude continuar a leitura que tinha iniciado ainda no hotel. E, ao chegar aqui, o livro foi direto para a estante, e se perdeu na indisciplina de minha biblioteca. Tenho esperanças de que agora, com ela domesticada por meu Dédalus/Guilherme, o poeta das classificações, o livro seja facilmente alcancável. O que me falta agora é tempo.
Volto então para o Rimbaud, de quem pretendo falar na segunda. Preparo minhas aulas com carinho, e renuncio ao prazer da leitura de nosso querido premiado. Renúncia que não é custosa, pois deixo de ler um mestre da prosa para mergulhar na embriaguês dos barcos-poema, que me transportam ao encantamento.
Então, feliz prêmio Nobel para todos: os que já o receberam, os que agora são premiados e os que sonham com ele, no futuro…
1 comment:
Também acredito nessa magia que o livro tem, nessas viagens que a literatura permite. Viagens para fora e para dentro de nós mesmos. Como sempre, fico ansiosa quando você descreve a magia de um livro que ainda não li. Ansiosa para ir ler o livro e, como já disse num outro momento, minha lista de indicações presentes nas suas postagens está aumentando. Só que agora me encantei com Mario Quintana e ganhei uma caixa com livros dele (os livros vêm nessa caixa, tipo box de DVDs). paralelamente fui ver de que se tratava esse livro das Travessuras da Menina Má (em inglês ficou Bad Girl, acho que para lembrar o mito da Southern Belle transformada em Bad Girl) e também achei o máximo, com incursões por Paris, Londres, Madrid, etc. Enfim, viva o Nobel, viva Vargas Llosa e que bom que vc já está traduzindo o seu livro ... Beijocas, T.T.
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