Saturday, July 03, 2010

A medida do homem


Comecei o dia hoje zapeando a TV e encontrei um Starte com a excelente Bianca Ramoneda e o genial Calatrava. Para quem não o conhece, ele é o arquiteto que vai fazer nosso "Museu do Amanhã", no Cais do Porto Revitalizado do Amanhã…
Conheço as obras dele por fotos, mas duas delas tive a oportunidade de ver pessoalmente: a Torre de Montjuic, em Barcelona (que não me impressionou muito) e a bela floresta de colunas que é a Estação do Oriente, em Lisboa. Nesta estação, infelizmente, não pude entrar, pois fui visitá-la antes da inauguração da Expo 98. Perdi a chance de visitar as obras de arte que abriga. Um dia, quem sabe?, tomo coragem, volto à Lisboa dos meus amores, e vejo tudo, tintim por tintim.
Mas voltando ao programa, Santiago de Calatrava é encantador. Fala bem, expõe suas ideias com simplicidade e modéstia, elogia Niemayer com efusão. Entre outras coisas, fala da relação da arquitetura com o homem. Diz que, depois da roupa, a arquitetura é aquilo que mais está próximo ao homem, e que depende de sua medida, tal como a roupa. Engraçado, pois, sem nunca ter estudado arquitetura, tive esta "revelação" numa de minhas visitas a Roma. Há alguns lugares de Roma que sempre "revisito", sendo o Panteão um deles. Sempre me impressionou aquele edifício gigantesco, rodeado por outras belezas em proporções mais próximas de nossa humanidade. Uma vez, sentada num café, conversando com o Guilherme, comentei que aquilo parecia revelar o espírito dos homens do Império. As construções imperiais, todas, possuem dimensões que parecem ter sido construídas para deuses, ou semideuses, e me parecia que os romanos da época deviam se sentir assim, maiores que a vida.
Agora, escrevendo isso, penso que eu mesma dou demonstração dessa relação. Minha casa com o Gui era grande, aberta, precisando ser assim para poder abrigar nossa imensa felicidade. Agora, sozinha, as dimensões de meu lar se reduziram, como a de uma flor que se fecha ao cair da tarde…
Volto mais uma vez ao Calatrava. Seu nome se origina em uma construção, o castelo de Qal'at Rabah (castelo na planície) construído há uns mil anos atrás. Depois de tomado, tornou-se propriedade dos Templários e, mais tarde, com a extinção da Ordem, serviu de sede a uma nova Ordem dos Cavaleiros de Calatrava. O castelo, ao longe, parece uma criação da natureza, uma montanha meio erodida pelos ventos. O arquiteto de hoje, fiel ao seu nome, constrói obras que chamam a atenção pela sua "organicidade", por sua inspiração nos elementos da natureza, na transcrição de uma engenharia do orgânico. Olhem as obras dele e vocês entenderão o que quero dizer. Rótulas, olhos que parecem piscar, pássaros no momento de alçar voo, florestas metamorfoseadas em catedrais de galhos. Tudo lindo, com ares absolutamente leves, e, com a precariedade do equilíbrio que mostra como nós, humanos, somos apenas um pequeno segundo de equilíbrio na instabilidade da vida.

1 comment:

Ricardo Vasconcelos said...

Lúcia, fica desde já convidada a visitar Milwaukee, para onde me mudo daqui a um mês, mais ou menos, onde o museu de arte da cidade (a parte nova) foi construída por Calatrava. Pelo que percebo, deu uma nova personalidade à cidade. http://www.mam.org/info/details/calatrava.php