Acordo hoje e me perco em indagações: onde estava eu no domingo passado? Sem o bendito caderninho, já me parece impossível lembrar do que fiz. Foram tantas as cidades, tantos os caminhos… Mas antes mesmo de ir verificar, consegui me lembrar — acordei em Brescia. Mas, como lembrei do caderninho, vou transcrever aqui alguns trechos:
"Se Paris vale uma missa, Brescia nos valeu uma espécie de réquiem. A cidade não nos foi mostrada, e viemos parar direto num hotel (aliás, muito bom) ao lado da estação. Infelizmente, de manhã, um roubo: Um casal de velhinhos teve sua bolsa roubada no restaurante do hotel. Ninguém percebeu. O restaurante cheio, com o nosso grupo e mais os jovens da sinfônica de Seoul, e alguém se apossa de uma bolsa de turista, onde há passaporte e $$$, calmamente, sem testemunhos, sem que ninguém se aperceba."
Se o início do dia não foi dos melhores, sua continuação foi melhorando. O ônibus nos levou a Sirmeone, no lago de Garda, o mais bonito de todos. Quando chegamos, já que íamos tomar um barco, a Lei de Murphy se manifestou mais uma vez, e, enquanto estivemos embarcados, choveu e fez frio. Mal atracamos o sol abriu. C'est la vie!
Sirmeone fica numa ilha, na ponta de uma península estreita e compridinha. Nesta ilha, um castelo e as lembranças romanas: oliveiras de mais de 700 anos e as Termas de Catulo, uma das maiores da antiguidade, aproveitando as fontes de águas quentes, uma das quais ainda alimenta o lago, e se revela em borbulhas que sobem, alegres, até a superfície.
Mais um trecho do caderninho:
"Pelas ruas, uma impressionante quantidade de gente e de carros luxuosos, vê-se que é um lugar de turismo elegante, mas também popular. Nas lojas, uma quantidade absurda de sorvetes, paninis e pizzas nos tira a fome. E, na saída, a descoberta da Termas Fonte Boiola."
O caderninho continua, falando da região e de sua produção agrícola, tudo informação prestada pelo Gian Luca, nosso guia que se dizia apenas acompanhante. E menção aos ciclistas, que estavam por toda a parte. Enquanto isso, o motorista, Simone, nos levava até Riva de Garda, no outro extremo do lago, próxima da Áustria e, por isso mesmo, cheia de tradições austríacas. Comemos uma comida típica alemã, a tal da carne salada, uma espécie de carpaccio com essa carne salgada, bem gostosinha.
Depois fomos para Verona, onde estava acontecendo o fim do Giro d'Italia. Impressionante a quantidade de público que compareceu à cidade para ver o vencedor do torneio de ciclismo mais importante do país.
Um último trecho do caderninho:
"Agora viajamos entre montanhas, acompanhando um rio que se faz prateado entre os vinhedos. Ele brinca, ora à direita, ora à esquerda da estrada. O sol se filtra por entre as névoas que cobrem as partes mais altas das montanhas e de suas escarpas. Continuamos, e as montanhas vão se afastando cada vez mais, até que são apenas sentinelas distantes, ostentando nos cimos um pouco de neve."
Em tempo, a foto é de Riva de Garda.
1 comment:
Esse "caderninho" é uma benção e vale ouro!!!Acho que você deveria sentar e organizar tudo ou quase tudo que escreveu e torná-lo público porque é uma pena esconder do mundo esse seu olhar sobre as coisas. Você tem uma delicadeza incrível para abordar o mundo, aliada a uma pitada daquele humor essencial ao escritor, um toque de humor que lembra o melhor dos meus queridos William Faulkner e Eudora Welty. Grande abraço, daqueles bem primordiais, daqueles que passam ao largo dos abraços "mesmice", Tereza.
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