Sunday, May 09, 2010

Dia das mães

Destesto dia em que a gente se sente na obrigação de ser feliz! Sempre impliquei com essas obrigações: estar apaixonado no dia dos namorados, se sentir livre no Carnaval, honrar pai e mãe nos dias respectivos, dar um exagero de presentes no Natal, achar que tudo vai mudar no Ano Novo, e por aí vai… O pior de tudo é que cada vez sinto mais patente essa tradução de amor e carinho em $$$$. Fulano ama tanto sua mãe que lhe dá um carro, mas Sicrana supera seu amor, pois lhe dá um apartamento. E o filho da mendiga? O quanto ele sofre e se sente inferiorizado porque ao invés de dar um conjunto estofado da casa Bahia só pode dar para sua mãe a bala que estava guardando há tanto tempo, e que já está até melada? Pois, para mim, tem mais valor o taxista que me trouxe ontem para a casa, que me confessou que gostaria muito de ir ver as acrobacias aéreas, mas não ia poder, pois era dia das Mães. "Prefiro ficar com ela", foi a frase despretensiosa que ouvi, de um homem jovem, bem apessoado, que não estava querendo impressionar ninguém e que, por delicadeza, talvez nem comente seu desejo de ver os aviõezinhos se arriscando enquanto riscam os ares. E aí eu penso: E estes pilotos, será que eles não têm mães? Qual a mãe que vê seu filho fazendo essas maluquices sem sentir as garras do temor em volta de seu coração? Me lembro da amiga que ganhou de presente, de seus filhos, o filme dos dois se atirando de Bungee-Jump. Ao invés de uma declaração de amor piegas e melosa dos filhos distantes, ela vê o que lhe parece uma tentativa de suicídio! Ficou mal, chorou, mas os filhos riram dela e a chamaram de boba. "Mamãe exagera", foi o que eles me disseram, quando os encontrei. O pior é que a gente se controla, amarra um sorriso, diz com voz um pouco trêmula "Meu filho, tome cuidado!". E fica tentando se convencer de que o importante é que nossos filhos vivam felizes; que nós não devemos impedi-los; que eles sabem o que estão fazendo e que mais vale uma vida bem vivida que a pusilanimidade.
Passamos a vida fingindo que está tudo bem, quando, na verdade, a vida é uma sucessão de perdas primordiais que vamos tentando preencher com nossos atos. Nascemos e somos, imediatamente, mutilados: cortam nosso cordão umbilical, até então nosso suprimento de tudo o que necessitávamos. Temos que começar a respirar, sugar, chorar, comunicar, exigir, lutar. E nossa testemunha, desde o início, é nossa mãe. E é por que ela se comove com nossa fragilidade, por que ela se esforça para nos compreender, porque traduz nossos vagidos, é por ela ser quem é que sobrevivemos. E aí, chega um dia, e a gente pensa que pode, com um anel de brilhante, agradecer o que ela fez por nós. Um abraço, beijos, um presente e logo partimos para nossa própria satisfação, para nossas obrigações, para longe… E nem guardamos na lembrança o rosto que, de ano para ano, se apaga um pouco mais…
Hoje estou muito argumentativa! Só estou solidária com aqueles filhos que, como o Chico Buarque, passam seu primeiro dia das mães de órfãos. Estes, acredito, devem estar refletindo no verdadeiro valor de suas mães. Liberados do presentinho, que depende de seus bolsos, podem pensar em suas mães com seus corações vulneráveis pela ferida recente.
Mãe, seu colo, seu silêncio, suas implicâncias, os instantes de prazer e alegria que passamos a seu lado e depois os instantes em que nos alegrávamos por não mais precisarmos de sua presença e ajuda. Mãe com seus ralhos e implicâncias, com suas impaciências e seus transbordamentos. Mãe.

5 comments:

Anonymous said...

Aqui houve um almoço chester e salmão. Maria Helena, Guilerme, Maro eu e Santana.Nossa fiel escudeira com mais de 20 anos d ebons serviços prestados, lealdade absoluta e generosidade é considrada a 2a mãe dos meninos. Orquídeas para cada uma delas. Minha mãe, que não sai mais da cama teve sua comemoração particulas. Presentinhos e casadinhos de doce de leite. Veja a foto dela no meu mural do Face. Hoje foi um dia especialmente felz. Salve mnha amiga a mãe Lúcia. Beijos Marcio

Anonymous said...

muitos erros de digitação, deve ter sido a caipirinha.Marcio

Amauri said...

Feliz dias das Maes!!
O pior é que concordo com voce. Para nao ficar no de sempre, comemoramos o dia das maes brasileiras, por que aqui é em Outubro, almocando no la Stampa e depois no teatro assistindo La Bella y la Bestia, mais infantil que isso só a criancada que invadiram o teatro.
Mas tudo bem foi dia das maes mesmo!! No Brasil! Beijos

Guido Cavalcante said...

texto maravilhoso no seu ceticismo e no desdém pelos costumes e normas extratificadas

Anonymous said...

Adorei o texto e sua coragem! Márcio Galli