Uma semana triste, que começa com o sumiço de um avião, com a partida de um amigo, com a venda de uma velha TV... Alguém pode estranhar meu luto por uma TV, mas é que, depois de vendê-la, lembrei-me de que é uma coisa a menos de minha outra vida. Porque eu me sinto vivendo uma vida que não é mais a minha, de verdade. Uma vida a que, legitimamente, não tenho direito. Então, a cada vez que tenho notícias da morte de alguém, conhecido ou não, me sinto culpada: com que direito continuo por aqui? Que sacrifício esotérico terei feito, que pacto com o anjo da morte? Pergunto isso porque hoje, assistindo uma entrevista do Fernando Morais com o Edney Silvestre, ele falou das loucuras do Paulo Coelho, que estava convencido de ter feito um acordo com o anjo da morte, por ocasião de uma tentativa de suicídio não completada. Mas as loucuras não são apenas dos magos. As diversas teorias que escutei a respeito do voo 447 da Air France me fazem pensar em Simão Bacamarte: ou tenho que sair por aí prendendo lunáticos ou eu mesma devo me encerrar num asilo. Do deslocamento do Triângulo da Bermudas à ascenção dos crentes dos últimos dias, abduções por alienígenas e outras coisas igualmente improváveis, as versões vão se multiplicando desavergonhadamente, tal como os desmentidos.
Será que algum dia saberemos o que aconteceu? Precisamos de fatos, de provas, de alguma explicação que contente nossa lógica -- ou falta de!
Bem, enquanto isso, vou escrevendo, lendo o que posso, testando os meus limites para não deixar nenhum prato chinês cair no chão. Preciso dar uma escovada no Borges -- fui convidada a falar sobre ele. O que tenho para dizer sobre ele? Muito pouco, quase nada. Autor difícil, mas que nos engana com uma aparente simplicidade. Em sua longa vida escreveu muitas coisas interessantes, mas o interesse maior parece-me se concentrar no jogo de ambivalência entre realidade e ficção. A literatura, em Borges, é determinante para a vida -- uma inversão do que geralmente se admite. Talvez por isso a gente se sinta tão tentado a responder-lhe uma ou duas coisinhas. Para terminar, um dedinho de Nick Hornby. É sobre ele que devo escrever neste mês, para o Rascunho. Um amigão, do mesmo gênero do Manguel, é a impressão que tenho dele.Um cara com quem gostaria de trocar figurinhas, mas as figurinhas dele são, na sua maioria anglo-saxãs. As minhas são, bem, "ecléticas". E nunca fui sistemática o bastante para dizer que conheço "tudo" sobre algum autor. Mas conheço o bastante para dialogar um pouco com ele, antes de sair divagando sobre outras coisas. Coisas como a inconstância da internet em minha casa. Que mistério essas coisas, hein? Um pisca-pisca de conexão, que nme deixa absolutamente insegura!
Bem, aproveito agora que ela está on para postar esse texto.Qem sabe quando vou voltar a conseguir me conectar de novo?
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