Friday, April 25, 2008

Aprendiz de sereia

Imaginem uma ilha de lindos contornos, a quatro graus sul do Equador, habitada por pássaros e peixes, rodeada de águas tépidas e transparentes... Foi lá onde fui fazer meu treinamento para sereia. Noites de lua cheia e de muitas estrelas pareciam anunciar os céus azuis e o sol equatorial, intenso e inclemente. Netuno, porém, tinha outros planos. Chamou seu filho Éolo, guardião dos ventos, e cobriu a ilha com um manto de nuvens, lavou-a com chuvas fortes e impediu que minha dermatologista ficasse rica. Salvei minha pele, e me diverti na mesma. O clima não atrapalhou as belezas que estavam, em sua maioria, no fundo do mar. Nem tão ao fundo, ali mesmo na beira da praia, as tartarugas e arraias, os peixes coloridos e curiosos nadavam e nos convidavam para entrar nas águas morninhas, salgadas e incrivelmente transparentes. Passeamos de barco, de buggy, nadamos no raso, nadamos no fundo, nadamos embaixo d'água, e nadamos em terra, lavados pela chuva e pela lama. Encontramos lagartos enormes e pequenas lagartixas, admiramos pássaros que voavam para deleitar nossos olhos com seu balé, e outros que se escondiam nas ramagens para cantar a sinfonia da ilha. Os pontos altos foram tantos que mais parecem um planalto: tudo que fizemos nos pareceu especial. O passeio de barco pelo mar de dentro, acompanhado por golfinhos brincalhões e exibidos; o incrível rugido de leão numa caverna invadida pelas ondas; boiar de acquaplana, as pranchinhas de acrílico transparente, puxadas atrás do barco por um longo caminho -- atividade que não só diverte os olhos mas que ainda propicia uma excelente hidromassagem. A lista não termina aqui. Os mergulhos com snorkel nas praias, cada uma revelando um atrativo diferente; a fila para mergulhar na Atalaia, um aquário de pouca profundidade e de infinitos peixes; a peregrinação a todos os mirantes da ilha, cada qual revelando uma paisagem mais bela; a onipresença do morro do Pico, visível de todos os pontos da ilha, mas desenhando-se de forma diferente a cada ponto de observação. Guardei para o final nossa tarde de scuba-diving, que nos exigiu coragem mas nos premiou com êxtase. Fomos a treze metros de profundidade, nadamos no meio dos cardumes dos peixes encantadores, olhamos a moreia entocada, que parecia nos ameaçar abrindo e fechando a boca, sua maneira de respirar. Vimos polvos, tartarugas, arraias de dois tipos diferentes, peixes diminutos, peixes enormes, um deles chegou até a beijar minha boca, talvez pensando que eu fosse uma sereia encantada... Para minha tristeza, não sou. Tive que subir de volta ao barco, e no dia seguinte só meu lábio inchado provava que o beijo não tinha sido um sonho. Um último passeio, nas esculturas ao ar livre em frente ao museu dos tubarões, me permitiu tirar um retrato com cauda de sereia. Fiquei com esse consolo.

3 comments:

Anonymous said...

Uau... de ficar com água na boca! Beijos, Eugenia.

André de Leones said...

Uau mesmo. Uau.

Guido Cavalcante said...

Esse me parece um bom lugar para morrer. Um "tuc" no coração, a boquilha do tupo de respiração solta deixando um rastro de borbulhas e depois o longo mergulho nessa paisagem submersa maravilhosa que vc descreve. O corpo afundando, seguido por uma mujltidão de peixinhos coloridos e ao chegar no fundo, entrando tranquilamente na cadeia alimentar dos habitantes daquelas paragens.