Não há uma vez que se entre num táxi que o motorista não tente começar uma conversa. Eu sempre converso, pois imagino como não deve ser passar o dia todo calado, principalmente quando se tem todas aquelas horas no trânsito dedicadas à reflexão. Assim sendo, já escutei excelentes idéias para diminuir os engarrafamentos, recebi numerosas receitas de repelentes naturais, já escutei grandes discursos contra o governo, alguns poucos em defesa do governo, e, por minha vez, já contei algumas histórias, invariavelmente ligadas a ruas cujos nomes são de escritores. Uma delas começou quando o motorista me perguntou se podia entrar na Paula Barreto e eu o corrigi:
--Paulo.
Ele logo quis saber se eu tinha certeza, pois já que era ele quem passava sempre por ali, tinha uma espécie de "superioridade", direitos de uso-capião quanto ao nome. E me explicava:
--É Mena Barreto e Paula Barreto.
Geralmente não insisto, afinal, as placas de rua têm uma espécie de vida própria, independente de seus homenageados. Mas, desta vez, decidi lutar pelo meu querido João do Rio, e afirmei minha certeza, e ainda o brindei com o pseudônimo e mais algumas informações adicionais. Vencido, ele capitulou:
--É...pode ser...
Chegamos. Na esquina, a placa não me desmentia, e eu, educadamente, não tripudei. Apenas sorri e separei o dinheiro. Paguei, dispensei o troco, e já fechava a porta quando ele disse:
-- Sã e salva, na Paula Barreto.
Dei de ombros, pensando que o Paulo talvez ficasse mais contente sendo Paula, e imaginando o que o João não escreveria sobre isso.
2 comments:
Esta não foi conversa, apenas a oportunidade surgida durante uma corrida de táxi na N.S. Copababana. Paramos no sinal ao lado do velho Copa, que ostenta algumas fotos do hotel há quase cem anos atrás. Uma delas mostra a fachada da Nossa Senhora de Copacabana, onde, no mesmíssimo local onde estou agora nesse táxi, um carrinho estava parado há um século atrás. A súbita transposição do tempo "encurtado" pela coincidência que eu presenciava, foi genuínamente maravilhosa. E imaginei que um fotógrafo, postado no mesmo ângulo, poderia repetir infinitamente aquela imagem séculos afora, como um plissado no tempo inacreditavelmente estancado na coincidência de um táxi parado naquele local. Foi muito divertido:-)
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