Meu querido editor, o renomado Sr. Pereira, acaba de me avisar que, este mês, saio como "garota propaganda do prêmio SESC" no jornal Racunho que vai para as bancas amanhã. Espero não afugentar os candidatos.
Quando o SESC nos pediu para fazer fotos para essa chamada, o meu "irmão em SESC", o André de Leones, fez uma contra-proposta: um calendário de nus, com o Cremasco na capa. Achei que os ares de Paranaguá e as saudades de casa haviam avariado para sempre os miolos do rapaz, mas, depois, no decorrer da semana, fui assistir a um filme, Irina Palm, que me fez perceber que há gosto para tudo. E, se os homens podem fazer fila para transar com um buraquinho na parede, é porque somos muito mais complexos do que penso.
Aliás, estou lendo muitas coisas ao mesmo tempo que estão me fazendo pensar e refletir muito sobre solidão e sexo, e leitura. Hoje li As avós, de Doris Lessing e Desonra, do Coetzee. Duas amigas que dormem com os filhos uma da outra (essa triangulação aponta para outra coisa, eu sei), mas uma das passagens que me tocou foi quando um dos filhos, na cama com essa mulher mais velha, se recusa a aceitar a pele flácida de seus braços e lhe diz que ela não pode envelhecer com ele. Em Desonra, o professor universitário, pai de uma lésbica, ao falar da amante com a filha sente a luxúria percorrendo seu corpo --- o problema é que ele está sentado na cama da filha, que acabou de ser estuprada por três homens violentos e bárbaros. --- Na verdade, não é só isso que provoca o leitor: é o fato de que ele compara o corpo da amante com o da filha, e que inúmeras vezes ele fala da carne jovem, do corpo de carnes duras, da sensação corporal que o levou a apreciar tanto seu interlúdio amoroso com a jovem estudante.
Vou ter que ruminar muito essas histórias, para entender o que é que as tornaram tão desagradáveis para mim. Acho Coetzee um autor totalmente desagradável -- uma pessoa inconveniente, que insiste em temas que a sociedade prefere silenciar. Até aí tudo bem, isso é instigante, chamar-nos a refletir sobre as facetas escondidas, colocar o holofote sobre as coisas reprimidas de nossas vidas. O problema é que ele não sugere soluções nem caminhos. Na verdade, ele bloqueia as estradas e as soluções que possamos encontrar, e zomba de nós. Nos desmascara e segue indiferente e amoral, iconoclasta.
Barrocamente eu diria que Coetzee é um autor que amo detestar...
Voltando à Doris Lessing, ela é uma chata, que escreve bem. Lá nos EUA ela tem um grande fã clube, mas aposto que os leitores dela nunca aceitarão os livros de Coetzee, e vice-versa. Porque ela não quer fazer ninguém pensar, ou melhor, ela quer que pensem que é muito liberal, mas ela só conta situações, não há nenhuma reflexão. Seus personagens são tão verdadeiros quanto "as garotas-propaganda" de cerveja, de sorrisos, de remédios para emagrecer. New age. A vida dos semi-deuses.
Fiquemos com o Quixote, amigos: ele zomba dos leitores, mas é ele quem chama a atenção de que a aventura da literatura está na leitura, mais do que na escrita.
1 comment:
Ola Lucia, td bem>>
Fazia tempo que tinha prometido para mim que ia procurar seu blog. Li seu livro `Hstória de Amor` que a Barbara me emprestou!
aliás deixa eu me apresentar. Sou a Bela, nova au pair dela...rs
E agora sua nova leitora!
bjs
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