Saturday, June 14, 2014

A pátria de chuteiras

I
De quatro em quatro anos me descubro torcedora de futebol. Não acompanho os jogos do Brasil, porém. Ligo a TV e perambulo pela casa, tentando fazer uma ou outra coisa, enquanto todos os meus sentidos ficam atentos a espera do tão esperado grito de GOL. Odeio os locutores de futebol, que demoram uma eternidade neste Goooooooooooooooooollllllll e custam a confirmar ser do Brasil. O que me ameniza a ansiedade são as generosas explosões de fogos. No meu imaginário, são como fogos de Reveillon e vejo tudo colorido, brilhante, alegre. Este ano, encontrei uma brincadeira que me encantou: mensagens no Facebook, absolutamente piradas, que eu ia fazendo, baseadas em pequenos retalhos de coisas que escutava sendo ditas na TV, ou respondendo aos comentários às minhas próprias bobagens. Só posso dizer que este primeiro jogo do Brasil foi perfeito. Vitória, quatro gols brasileiros (um foi contra, eu sei, mas quem pode criticar o cavalheirismo dos donos da casa?), facebook e brincadeiras, fantasias, filhos acompanhando na torcida, tudo legal. Nem o joelho machucado numa queda estúpida por causa de um elevador que parou fora do nível me deixou chateada. Era um pretexto a mais para desviar minha atenção da ansiedade. Ia buscar gelo, ou espirrar um cataflan, e nisso a posse de bola voltava para o Brasil-il-il, pois durante a Copa o meu país é assim, com eco e peito inflado de amor.
Nos outros jogos, não ligo, embora tente acompanhar, torcendo para os que me parecem mais simpáticos e menos ameaçadores numa possível final contra o Brasil-il-il. Foi assim que ontem comecei torcendo pela Holanda. Simpáticos, acariocados, o Flamengo da Europa vestiu azul, cor de minha predileção. Quando o jogo começou, vi uns momentinhos, mas depois tive que sair. Estava certa, ao me arrumar, que os meus favoritos iam levar uma surra. A impressão que dava é que havia mais jogadores espanhóis em campo. Para onde se olhava, lá estava o uniforme branco, enchendo a tela. Já na saída de casa, um gol da Holanda!!! Resolvi me atrasar um pouquinho. Precisava de ver se tinha sido do Robben cujo nome de ladrão (se pronunciado à brasileira, parece uma ordem, se pronunciado à estrangeira, lembra o famoso personagem inglês, que roubava aos ricos para dar aos pobres). Só então entendi que, se a Espanha parecia tomar o campo, é porque estavam ali plantados, como balizas, para os meninos praticarem seus dribles e fintas (nomes lindos, mas não me peçam para explicar pois não sei diferenciar uma coisa da outra; só sei que são mágica feita com os pés e uma bola que desaparece e reaparece onde menos se espera). Bem, saí e quando cheguei ao local de destino, descobri que o resultado tinha sido Holanda 5, Espanha 1. OK, por mais que eu simpatizasse com o time, não torcerei mais por ele. A não ser que perca na próxima partida, e eu possa dizer que esse resultado foi sorte ( mas acho que não foi, não). Eu bem que gostaria de continua torcendo por eles, mas o Brasil-il-il é o meu amor, e não me atrevo.

II
Tem um monte de gente escrevendo sobre futebol, no facebook, nos jornais, no twitter. Tem um monte de caras falando sobre futebol, também, mas isso eu não escuto: ou troco de canal ou mudo de posição na rodinha.  Voltemos aos que escrevem: uns entendem muito de futebol, e merecem todo o meu respeito, mas… quando são brasileiros e se colocam encastelados em uma lógica analista que os faz criticar os nossos jogadores tenho piedade deles. Uma das melhores coisas da vida é se "apaixonar". Diz Proust (e ele cabe citar até em textos sobre futebol) que se apaixonar por mulher linda não tem graça, muito maior é a paixão de quem se encanta por uma feiosa, pois aí a imaginação revela toda sua grandeza. O meu time pode não ser perfeito, mas estou apaixonada por ele. Pelo Oscar, pelo Neymar pelo David Luiz, e até mesmo pelo Fred. Não critiquem, não deixem que a lógica estrague a paixão. O Fred caiu, foi covardemente desequilibrado pelo adversário. O Fred é ótimo deitado, gente! Faz gol, arranja falta…Deixa ele deitar, gente.  Não procurem defeitos na pegada do goleiro, na cabeleira do volante, no chute do zagueiro, na finalização do atacante. Eles são o nosso Brasil-il-il, e enquanto estiverem no páreo, a gente deve torcer por eles com toda a nossa paixão. E, se vocês ficarem escrevendo essas coisas, não passarão de chatos que, no dia do casamento, queiram falar do desengonçado do noivo, do terno mal passado, da perna torta. Eu sou a noiva apaixonada, não vejo nada. Tudo o que me interessa, no momento, é o SIM, aquela taça que quero levantar  e brindar. A embriaguez da alegria e a promessa de uma noite de núpcias me deixam indiferentes a tudo o mais. Vambora torcer, gente, e se o prazer de vocês é analisar os defeitos, concentrem-se nos convidados, e deixem meu noivo em paz. Meu Brasil-il-il é perfeito. (Agora, se ele perder…viro mulher abandonada, entendem?)

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