Geralmente, ao longe, a gente pode escutar os ruídos abafados de algum jogo de vôlei, ou uma pelada de praia jogada ao entardecer. E tudo isso vem misturado ao cheiro bom de maresia, um cheiro fresco, saudável, mas que a gente renega pois indica a umidade que vai estragar eletrodomésticos e fazer a roupa cheirar a mofo. Mas quem é que pensa nisso, à beira mar, com um bom livro? Ou, se a noite já caiu, quando se passeia, de banho tomado, apreciando a brisa que sopra para secar nossos cabelos com brincadeiras sem fim? Essa me parece a moldura ideal para doces palavras de amor. Melhor ardentes, pontuadas por beijos. Aqui solto um suspiro de saudades.
Mas volto ao silêncio, desta vez dos escritores. Escritor faz silêncio? Sim, enquanto escreve, ele se mantém calado, na escuta das vozes interiores. Mas, como se passa muito tempo em silêncio, na frente de um computador ou de um caderno, quando a gente encontra um público disposto a nos ouvir, falamos muito. E nos esquecemos de que somos muito melhor por escrito. Já escutei muita bobagem por aí, já falei a minha quota de bobagens e vou seguir ouvindo e falando, enquanto der. Mas sempre saio das palestras pensando que poderia melhorar minha "redação". Viver por escrito é mais suave, dá tempo para fazer revisão. Quando silenciamos e escrevemos podemos ouvir a nossa própria respiração, podemos escutar a respiração do outro. Damos asas aos pensamentos, os nossos e os dos outros. E é em silêncio que percebemos uma outra linguagem que se manifesta em gestos, às vezes inconscientes. E é nos silêncio que podemos ler os sorrisos, os olhos revirados, o abanar de cabeça os pequenos sinais que os outros nos dão, e que servem de jangadas nas nossas tempestuosas ondas de palavras.
Perdoem-me então, aqueles que andavam com saudades aqui do blogue. Andei falando demais, escrevendo de menos. Silenciarei para poder usar melhor as palavras. E deixo vocês com ainda um outro tipo de silêncio, esse nosso impossível silêncio urbano, feito de ruídos de trânsito, de gritos de criança, de cantos de alguns pássaros, de marteladas distantes, de motores de helicópteros, de aulas de música. Esse silêncio que nos avisa que pertencemos a uma cidade viva, ainda amável, mas muito bagunceira.
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