Tenho fotos e lembranças para compartilhar, mas não tenho tempo para selecionar e escrever! A vida é sempre assim, uma negociação. Se viajo, trago muitos assuntos, mas os trabalhos se acumulam, e, na volta, tomam todo o tempo em que poderia estar escrevendo. Mas, vamos lá, vou roubar um pouquinho de tempo das tarefas. Afinal, hoje é domingo, e preciso me dar algum prazer…
Falar um pouquinho da Itália, para não deixar a viagem cair no esquecimento, vamos começar por aí.
Em primeiro lugar, por que voltar a Itália? Tinha ido lá em maio… É verdade, mas não me perguntei isso na hora de requisitar a passagem. As milhas estavam lá, dando sopa. Não tinha passagem para Paris, mas havia para Milão. Fechei os olhos e lembrei do Duomo, belo e branco, imponente em sua praça enorme, em suas infinitas espirais. Voltei, e fiz muito bem de ter voltado. Mas agora tomei algumas decisões, ciente de que decisões são tomadas para depois serem revistas: Não vou mais viajar assim de impulso. Gosto de ir aos lugares com a expectativa de fazer programações culturais que aqui são muito raras ou impossíveis. Então, agora, só viajarei quando houver temporada de ópera, peças de teatro, ballets estreando, concertos que prometem ser inesquecíveis. Desta vez, Milão não tinha Scala - mas tinha Fórmula 1: não é a minha praia, mas deixou a cidade absolutamente vibrante, como há muito tempo não via uma cidade tão festiva. As ruas de Milão pareciam festas, um enorme coquetel para o qual todos os habitantes e turistas tinham sido convidados. Resultado: as pessoas mais lindas circulando, os sorrisos mais belos enfeitando faces já belas. As vitrines estonteantes, vendedores esfalfados, mas pacientes, longas filas nos caixas, mas sempre um lugar nos bares e restaurantes onde a gente se deixava ficar até tarde, esperando o crepúsculo que tardava a chegar. A gente esperava, o corpo refrescando junto com o dia, e, de repente, sem que conseguíssemos perceber quando, a noite tinha chegado. O céu ainda estava iluminado, mas as silhuetas se recortavam escuras contra aquela luz, que já não iluminava. E logo aparecia uma estrela, como um cão, inquieta, cintilando muito. Depois se aquietava e adormecia, entre outras estrelas chegadas mansamente, como gatos. Na falta de lua, eram elas que indicavam nosso caminho, depois das taças de vinho que deixavam nossos olhos sonhadoramente embaciados. No hotel, os lençóis, tão macios, abafavam nosso suspiro de cansaço, ao nos acolher para a noite, que só durava um instante. Logo chegava o sol para nos chamar lá para fora.
Além de Milão, ainda tive Florença, Roma e Veneza. Destas três irmãs, Veneza é a que se desencaminhou. Gasta, prostituída, abastardada em uma paródia de si mesma, mesmo assim ela me recebeu bem: a grande regata histórica, o festival de cinema, ela bem que tentou me seduzir. Mas suas ruas superlotadas de turistas de quinta, seus camelôs abarrotados de tesouros venezianos "made in China", seus músicos descuidadamente desafinados e o tempo frio e chuvoso fizeram que ela fosse preterida em favor das outras cidades irmãs, exibindo suas belezas gloriosamente banhadas de sol. No entanto, para que não digam que briguei com a cidade, a foto do início mostra o lado sem andaimes da Piazza de San Marco. A catedral proustiana e os mouros carpentierianos, juntos na mesma foto…
Volto em breve, com fotos e mais comentários.
1 comment:
Lucia querida, que bom que voltou! Isso parece meio egoísta e, confesso, é um pouquinho... Mas, é claro, saber que está se divertindo é muito bom. Mas é muito bom também ler suas idéias, as metáforas que você cria, é tudo muito prazeroso. Essa da estrela como um cão é incrível. Saber de Veneza foi meio anti-climático, mas deve ser meio triste ver um belo lugar, ou seja, belo outrora, que agora está contaminado.Bom, vou indo, tenho de aprender comentar pouquinho, para não atrapalhar.Beijocas, T.T.
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