Thursday, August 06, 2009

Peixes e pescados

Os falantes nativos de espanhol diferenciam os peixes dos pescados. Nossos hermanos jamais comeram um peixe, mas sempre comem pescados. Hoje, lendo o artigo da Cora, lembrei-me disso, numa telepática tentativa de consolá-la por ter comido a carne de um esperto "peixe-gato", um fóssil vivo, mas isso na sua versão pescado. Lembrei também de uma coisa que me fascina e me encanta: as cores dos peixes: observados debaixo d'água, enquanto nadam e também nos observam, curiosos, os peixes possuem tons lindos, nuances maravilhosas, uma espécie de alma exterior (Machado a encontrava até nos humanos). No entanto, mal são retirados do reino das águas claras (pois nesse é que sou capaz de observá-los) essas cores desaparecem, se perdem num acinzentado, desmaiam em subtons, se é que isso existe. Um dourado, por exemplo. Exposto num balcão faz que os fregueses se perguntem por que lhe deram esse nome. Os vermelhos empalidecem. As pintas dos namorados desmaiam. Listras e cores, pintas e manchas todas procuram o tom metálico do cinza, os pastéis do desânimo. Talvez porque o que nos interesse, ao contemplar o pescado, não seja mais sua beleza, mas a cor de sua carne depois de preparada. Quantas vezes escuto a freguesa perguntando ao feirante: Esse peixe é bem branquinho? -- e se justifica: É que meu marido (ou filho, ou sogra) só come peixe quando é bem branquinho. Ou então, mais sofisticada, ela questiona o comerciante sobre o tom pálido do salmão: Gente, mas que salmão mais anêmico!
Sou uma devota consumidora de peixes, desde que não me venham inteiros para o prato. Um filé de linguado, uma tranche de cherne, um belo filé de vermelho, preparados de maneira simples, basta grelhar, me encantam. Restaurantes há que só me veem pedir um único prato, como por exemplo o salmão ao molho de mostarda e dill, com pequenos pedacinhos de banana, do Guimas. Ah, que delícia! No entanto, passei um jantar (na França, meus amigos!) em jejum pois o pedido da amiga que estava sentada em frente a mim foi uma truta, que veio inteira, nadadeiras abertas, mandíbulas ferozes abocanhando o próprio rabo, olhos cegos de raiva que, não obstante minha inocência, despejavam sobre mim a violência da interrupção de sua vida. Nem gosto de lembrar…
E, como sempre retornamos ao assunto essencial, a vida, que seja bem vindo ao mundo o pequeno Lorenzo, que ele chegue para ser príncipe e magnífico, como o encantador florentino que tanto incentivou as artes. Mas que ele não tenha a vida marcada por batalhas, que seu caminho seja de paz, que a terra floresça à sua passagem, que as mulheres lhe sorriam e os homens lhe respeitem, que os livros o encantem e lhe ensinem seus tesouros. Lorenzo e sua irmã, a bela Sofia, sua primeira e devotada súdita sou eu!
Assim como saúdo a chegada de um príncipe, dou um adeus à mãe de minha xará, que partiu quando eu estava viajando e só agora soube de sua ida. Tão frágil, a castelã de Petrópolis descansa agora em paragens ainda mais altas que a serra, velando por toda sua família e amigos. Suspiro um até breve, saudosa do meu amado…

1 comment:

Ricardo Timm de Souza said...

Prezada Lúcia,
meu nome é Ricardo Timm de Souza, moro em Porto Alegre e sou professor universitário. Foi com muito prazer que li teu belo livro LINHA DE SOMBRA; "O carona" e "O ovo" me impressionaram especialmente. Acompanho teu trabalho desde a publicação de A SECRETÁRIA DE BORGES, pois, no mesmo concurso SESC 2005 por ti merecidamente vencido, recebi Menção Honrosa por meu livrinho OCASO - CONTOS DE ENTRELUZ. Estou muito feliz, pois agora o editei, e teria o máximo prazer, se for de teu interesse, em te mandar um exemplar. Basta indicar um endereço para envio.
Atenciosamente, com os melhores votos,
Ricardo.- r.timmsouza@terra.com.br