Friday, July 20, 2007

Putz Grila!

Mutatis Mutantes...

Eu sei que a expressão é mutatis mutandis, mas quis fazer um trocadilho. Adoro trocadilho, devem ser aqueles anos todos que passei estudando Derrida e Lacan. Estudei, estudei, e tudo o que consegui guardar foi o gosto pelos trocadilhos. De Lacan fiquei com muita inveja: ele era genial. Ao Derrida fiquei indiferente. Acho que não entendi nada do que li.
Mas, depois de tanta digressão, volto aos Mutantes: eu sempre adorei esse grupo e nada pode me deixar mais contente do que essa comparação Rita Lee e os mutantes /Lucia Li e os inventantes...
Ando meio desligada... Fiz dessa frase meu leitmotif. Sempre andei meio desligada, foi uma maneira de me proteger. Como estar sempre ligada -- e sempre sofrendo? Porque há sempre uma porção de razões para sofrer, quando a gente se liga. E basta ligar a tv para começar o martírio. Quem não sofreu com esse acidente terrível, com jeitinho de atentado? Que horror, um inferno se instalando ali, do outro lado da rua, do outro lado da tela, e a gente olhando, sem poder fazer nada?
Um dos meus queridos inventantes, o Henrique, mandou um emocionado poema sobre esse desastre. Estou copiando abaixo, leiam e confiram.
De resto, vou mudar de lugar por uns tempos. Lá vou eu de novo para Dallas. Escrevo de lá.

CHÃO DE ÍCARO

E subiram sobre a largura da terra,
e cercaram o arraial dos santos e a cidade querida;
mas desceu fogo do céu, e os devorou. (Apocalipse 20:9)

Eu mergulhei na noite e suas sendas trespassadas,
Com a sensação da liberdade sobre os meus martírios.
E tudo o quanto já nos coube nas vivências terrenas
Rendeu-se à travessia vitoriosa para além destes domínios.

Daí que os céus sucumbiram ao clamor da minha angústia
E conquistei-os como um bardo que entoa docemente o seu canto
Tendo a sedução insidiosa com seus sorrisos de lírios.

Abandonei a lua – tão tímida e opaca –, outrora metafórica,
Ao mesmo tempo em que soube das estrelas todas mortas.
E então que essa soberba aniquilou meus infinitos
Enquanto a nódoa mitigava qualquer perfeição dos sonhos.

Porém, no claustro ardeu o grito denso das fatalidades
Por meio de um véu espesso, oriundo da madrugada,
Que me lembrou o peso espesso dessas mãos de chagas.

As vestes nuas sobre o céu cobriram o instantâneo,
Num grunhido de fantasmagoria sobre o jardim esquecido
(À revelia da inocência silenciosa daquelas pétalas,
Em cuja fronte jamais repousaria novamente o orvalho.)

Perdi o vão do tempo e a largura absurda dos espaços:
Na ostentação viril de suplantar o céu longínquo,
Sequer notei que a chuva demasiado fria dessa noite
No espanto desordenado queimou todas as nossas asas.

2 comments:

André de Leones said...

O poema do Henrique é lindíssimo.

E depois eu falo que você vai todo mês pros USA e você vai e me desmente...

Boníssima viagem, tranqüila e proveitosa.

Beijos.

Vera Helena said...

Lúcia, querida, desculpe-me por atrapalhar sua viagem, mas você é perfeita para a matéria sobre Carlos Drummond de Andrade, a ser publicada na próxima edição revista Língua Portuguesa. No e-mail explico melhor do que se trata a matéria.
qualquer dúvida, meu e-mail é verossi@uol.com.br
Beijos, Vé