Sunday, May 29, 2011

Frio no Rio

Meus amigos estão todos comentando: que frio é esse? Concordo, está frio, mas gosto tanto… Tiro casacos e cachecóis do armário, ponho as botas, redescubro o prazer de uma taça de vinho… E como tem vinhos bons agora no Brasil! Qualquer vinho em taça, num bom restaurante, é saboroso e agradável. E eu, agora, que descobri que sei alguns nomes de uva, finjo conhecimento e pergunto: Você teria algum Malbec? Ou Carmenère? E me sinto muito chique.
Mas, voltando ao frio: aproveito a temperatura e a chuva para ficar em casa. Leio, escrevo, faço resenhas… Me angustio, nervosa, ao ver que me distraí e marquei duas coisas no mesmo dia. E agora? Volto aos livros, aos escritos. De repente, me dou conta de que estamos no fim do mês. Coisa chata, tenho que pagar contas, perder tempo digitando aqueles números intermináveis dos boletos. Socorro! A pilha de livros, ao meu lado, é enorme. Não posso guardar ainda os livros da tese. Nem os de Rimbaud. E tem aqueles que quero mandar aos amigos. Humm, aqui faz falta uma lareira. Bem, seria agradável sentar à beira do fogo, bebericando um vinho e lendo… Na verdade, não seria, não: sou alérgica, o fogo me faz mal. Nunca me dei bem com lareiras, embora ache-as lindas.
Alguém me propõe "fondue". Não, obrigada. Minha comidinha de inverno é sopa. Adoro. Volta e meia vou a Argumento tomar uma sopa de cebola, ou uma de abóbora. Outras vezes, vou até o Garcia e tomo uma de couve-flor. Delícia. Ou faço em casa boas sopas de legumes, caldos verdes, canjas, sopas de ervilha. Sei fazer boas sopas.
Nesta época do ano há uma outra coisa que adoro: festas juninas. São as minhas preferidas! Aquelas iguarias à base de milho me deixam com água na boca. O próprio milho cozido já é uma comida dos deuses. Quentinho, salgadinho, que delícia. Bolo de aipim, pamonha, churrasquinho, paçoca. Tem gente que aprecia o quentão. Para mim, é muito forte. Mas aceito um vinho quentinho, com canela. Não sei como se prepara, quem fazia era minha amiga Gabi, alemã, que preparava essa bebida tão cheirosa e reconfortante. Ai, que saudades de Angra! As festas de casamento na roça, as pescarias, a quadrilha que nunca aprendi a dançar. Minha avó ensinava simpatias: a da casca da laranja, a da clara do ovo, a dos papeizinhos na água. Nunca funcionaram! Gostava mais do correio amoroso, pois sempre recebia uma declaração de amor. E sempre enviava uma, marcada com um beijo de uma boca pintada de vermelho forte, cor da paixão.
Me admiro de lembrar: um dia meu coração já bateu apaixonado. Todo meu corpo vibrou, na antecipação de um abraço. E agora, que fim levou aquele corpo vivo, meu sangue agitado, meu coração? Há de ter caído na fogueira.
Agora sou apenas uma estrelinha, brilhando friorenta, sorrindo com as lembranças. Mas não vou lá, não vou lá, não vou lá… Tenho medo!

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