Thursday, December 02, 2010

O bestseller do momento

Nestes tempos de questionamento à literatura, vejo-me com apetites mudados: estou comprando meus presentes de amigo oculto e como sempre achei que livros são os melhores presentes do mundo, tenho andado à caça de alguns. Mas, acreditem, a única coisa que me apetece ler, no momento, são as cartas que aparecem nas mãos da polícia e dos repórteres da TV. Quantas folhas, quantos desabafos, quantas denúncias. Creio que ali se encontra um tesouro para as editoras que, unindo-as, mesclando-as, editando-as, poderão fornecer o livro mais importante para o conhecimento dessa Terceira Margem do Rio a que foram forçadas tantas pessoas. Caladas, entre tráfico e a sociedade civil, esmagadas entre descaso e violência, essas pessoas conseguiram resistir e agora escrevem longas cartas, ou curtos bilhetes, onde cada palavra possui o peso das toneladas que a todos admiram.
Ler essas cartas, analisá-las, classificá-las, isso talvez nos ensine alguma coisa a respeito de nós mesmos. A mim, o que está ensinando, no momento, é que a escrita é aquilo que nos mantém humanos, quando tudo e todos tentam nos provar que não somos nada. Uma folha de papel escrita com maior ou menor clareza, um depoimento cheio de esperança, um grito de socorro.
Que a gente nunca se esqueça destas mãos que traduziram dor, medo e revolta. E que a gente respeite e leia com unção as cartas que um dia nos chegarem aos olhos!

1 comment:

Adhemir Marthins said...

Lucia, tudo está tão evidente e ao mesmo tempo tão distante. Parece que o sofrimento alheio não nos atinge. Será que nos acostumamos com tudo isso? A única morte sentida ainda é de um ente querido, de resto não nos chocamos mais. O que fizeram conosco? Que as leituras de cartas assim nos sensibilize, nos toque, nos aproxime um pouco mais do outro tão diluído por este tempo frio e veloz. Forte abraço.

www.ilhadasletras.blogspot.com