Muito melhor que fazer spinning em Dallas é visitar seus museus. Ficam um ao lado do outro, no cultural district, que, na verdade, não é bem em Dallas, mas em Fort Worth, na cidade universitária. Os museus são lindos, belas obras de arquitetura, com espelhos d'água e design moderno, esculturas na entrada, ótimo acervo, embora não muito grande, e extraordinárias exposições. Fui ver From Mirror to Portrait, no Kimbell Art Museum, e Ron Muek no Modern Art Museum of Fort Worth. Duas exibições excepcionais, sendo que a primeira, como é coletiva e temática, dá até para fazer uma enorme monografia. Como se pode dizer coisas sobre essa insistência artística em fazer retratos e auto-retratos na era da fotografia! E retratos auto-fágicos que se alimentam não dos modelos, mas da própria concepção de retrato, uma coisa de louco. Nunca tinha parado muito para pensar sobre isso, embora goste imensamente de retratos. Sou até razoalvelmente boa em desenhá-los e esculpi-los (é, tenho uma veiazinha de artista plástica, mas nada que me faça abandonar a literatura). Adorei, adorei, adorei.
Também adorei a expo do Muek, que sempre me impressionou muito com suas peças tão intensamente realísticas no detalhe, embora totalmente modificadas nas proporções. Seu bebê gigantesco, um recém-nascido que toma uma sala inteira de um museu, mas que surge ainda com seu cordão umbilical quase que latejante, e suas marcas de sangue como insígnias da batalha pela vida, contrasta com a pequena dimensão do pai morto, indefeso, inerte e diminuído, vencido pela morte, mas comoventemente apresentado como uma criança que necessitasse de ser apanhada no colo para ser consolada...
Demais!
Acho que estou, finalmente, começando a gostar de Dallas (ou, pelo menos, de Fort Worth, já que os museus se concentram na cidade universitária.) Mas, o moderno perfil dos edifícios de Dallas, sua natureza escultórica, me fascina. Fico contemplando os edifícios ao longe, quando passo pelas auto-estradas (que também são altas-estradas, em seus cinco andares inacreditáveis) e me parece que estou passando por uma cidade do futuro, com suas torres todas únicas, todas belas e friamente espelhadas.
Mas aí me deparo com uma orgia arquitetônica de uma lanchonete à beira da estrada imitando um palácio das mil e uma noites e me pergunto que estranho país é este, onde a beleza se revela em bom e mau gosto, e onde a paródia se instaura a cada passo do caminho?
2 comments:
Olá, Lúcia, eis aqui aquele cara que passa sempre pra dizer que esteve por este cantinho...
sempre bons posts!!!
abraço.
Lucia!
Como voce me disse uma vez, fiquei interessado em conhecer Dallas nos detalhes.
Aproveite bem sua viagem, mas não demore para voltar.
Forte abraço.
Post a Comment