Wednesday, October 09, 2013

Lições que ainda não aprendi.

A vida nos ensina… O quê, mesmo?
Achava que uma das lições que deviam ser aprendidas era a de "não cuspir no próprio prato". Pelos vistos, estava errada. Vejo que as pessoas que são levadas para representar o país com o aval de uma instituição, assim que recebem o microfone, desqualificam a instituição e o país que estão ali representando e, com isso, são ovacionadas. Bem. É assim? Deve ser assim? Num raciocínio lógico, se você foi a pessoa escolhida por uma instituição e uma sociedade racista, homofóbica, incompetente, etc. das duas uma: ou você se iguala a essa instituição/sociedade ou você as denuncia antes de se beneficiar dos privilégios ofertados por essa instituição/sociedade. Usar os benefícios e denunciar quem lhe proporcionou os mesmos, não é uma postura ética e nos coloca a todos como ou otários ou aproveitadores. Creio que não aprendi a lição número 1 da nossa pós-modernidade: "ética é para os otários". Ou talvez a primeira e mais importante lição seja: "aparecer a qualquer custo".
Mudando de lição, vejo esse debate sobre as biografias: uns são contra, outros são a favor. Enquanto isso, fui assistir ao filme Salinger, uma biografia de J.D. Salinger, autor de O apanhador no campo de centeio. Gostei do filme. Mas o que ficou martelando em minha cabeça foi o "mea culpa" que o diretor fez na entrevista final. Como não existem identificadores, fiquei sem saber quem era esse último entrevistado, que confessa que nunca encontrou o escritor, mas "quase" que conseguiu uma entrevista. Numa de suas conversas com uma amiga de Salinger, ela lhe perguntou:"Se você o encontrasse pessoalmente, o que ia querer saber?" O homem respondeu que gostaria de saber se ele continuava escrevendo, e se ele estava bem e tinha planos para o futuro. A mulher respondeu afirmativamente a todas essas questões e lhe disse que, uma vez que ele já estava de posse de todas as informações que desejava, não havia motivo para encontrá-lo pessoalmente. E esta é a minha dúvida: O que é que eu quis saber ao ir ao cinema, ver a vida de Salinger? O que essas informações sobre a vida amorosa, o que esses acertos de conta entre familiares e fãs influiu na minha leitura de suas histórias? Nada. Agora tenho um rosto para colocar no autor (antes eu nunca tinha nem sequer visto uma foto sua). E agora que sei que ele foi um péssimo marido para suas mulheres e um mau pai para seus filhos, qual a importância disso na sua obra?  Mas saber que ele levou seus manuscritos para a guerra, que brigou com um amigo por causa do título de uma história, que era obsessivo com seu texto, isso sim vai me obrigar a ler o texto com uma maior atenção aos detalhes. Portanto, biografias – literárias – têm seu valor, não como reality shows nem acertos de conta, mas como reveladoras da relação do autor com sua obra. Mas duvido que isso alguém queira saber. Tenho amigas que estão lendo a vida de Catarina da Rússia, e seu maior encantamento é com a quantidade de amantes que a rainha teve. Até agora nenhuma me disse o que levou Catarina a obter o apelativo de "a grande". O que ela fez, além de ir para cama com apreciadores de vodka e generais? Alguma coisa ela realizou, mas deve ter passado desapercebida ao biógrafo. Ou aos leitores.

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