Tuesday, January 29, 2008

De charretes, camelos e mulas

Oi, estou de volta, e achava que ia contar a vocês as peripécias de minha viagem, mas achei algo ainda mais interessante para falar: uma amiga foi para Petra e voltou cheia de histórias de charretes, camelos e mulas. De charrete eu já andei, e em mula também. Já andei até num cestinho sobre um elefante, mas num camelo nunca tive a chance. Fiquei me imaginando ao fundo de um desfiladeiro, no lombo de um camelo (provavelmente fedorento), sacudindo sob o sol implacável, meio adormecida, sonhando com um bom ar-condicionado. Estou aqui no conforto do meu cantinho ventilado, olhando a chuva miúda que cai lá fora e me enche de preguiça, sentindo falta das Cagarras, encobertas pela névoa. Nem parece que estamos a dois passos do Carnaval, e que eu estou cheia de coisas para fazer. Ainda nem desfiz as malas, não retomei minhas leituras, mas já terminei a resenha que precisava entregar e já recomecei as aulas de Pilates. Graças a essas aulas pude me divertir na Tirolesa, em Cerro Gonzáles, lá em Bariloche. Me pendurei naquela cordinha (na verdade, um poderoso fio de aço) e subi em plataformas presas em árvores por toda uma manhã. Eu teria passado lá o dia inteiro, mas os guias já estavam cansados, e nos enxotaram... De resto, em Bariloche passeei pelo lago Nahuel Huapi, fui a ilhas e bosques, contemplei a lua cheia sobre o lago em noites frias e lindas. Em seguida, em Buenos Aires, fui aos tangos e às compras e aos museus. Vi uma exposição de Miró encantadora, lá no Centro Cultural Borges. E descobri um fotógrafo extraordinário Bony não sei o quê, lá no Malba. Assim que desfizer as malas, volto a escrever, falando dos quadros deste cara, simplesmente geniais. E conto as reminiscências do Chile -- espelho de vulcões.
Não fui à feira de Santelmo (que só ocorre aos domingos) mas perambulei pela praça e pels ruas do bairro. Fiz o mesmo em Puerto Madero, e em Palermo Soho. Comprei cd's de Jorge Frexler (Uruguaio), de Kevin Johansen (Argentino, mas que adora música brasileira) , Mimi Maura (Argentina, também) e da Carla Bruni (Noiva/esposa do Sarkozy). Ah, e comprei partituras de tango -- hei de tocá-las ao piano, não sei quando, mas já estou me preparando para os grandes concertos que vou dar...E Buenos Aires está agradável mesmo no verão. E por hoje é só.

Friday, January 18, 2008

La Chascona, La Sebastiana...

Ora vejam só! Lá fui eu em Santiago visitar a casa de Neruda e dei com a cara na puerta! La Chascona tinha ido se pentear (chascona quer dizer descabelada) e estava fechada para balanço. Consolei-me indo visitar La Sebastiana, a casa dele em Valparaíso. Uma gracinha, cheia de mosaicos e de vidros antigos, recantos e escadas e mais escadas. Uma vista deslumbrante, da entrada na baía, e essa contemplação de barcos partindo sempre nos faz sonhar. Pelo menos a mim faz.
Estou sem sorte com as fotografias. Minha máquina não está funcionando, e estou tirando fotos com a máquina de minha amiga, mas não tenho como passá-las para o computador. Depois, se conseguir, publicarei as fotos de La Sebastiana e do vulcão Osorno, lindo de encantar. Santiago é uma graça de cidade, Valparaíso é colorida e montanhosa, Viña del Mar é florida e alegre, Puerto Varas é tão tranquila quanto as águas do lago que reflete o vulcão Osorno. Tentarei colocar uma foto de cada lugar. Mañana parto para Bariloche. Assim que conseguir me conectar de novo, conto o que estiver acontecendo. Obrigada a todos pelas dicas, mas não consegui fazer nada de recomendado. Tentei, mas Isla Negra não estava incluída na excursão, e os restaurantes e vinhos terão que ficar para uma próxima ocasião. Alguém aí tem alguma sugestão para Bariloche e Buenos Aires?

Sunday, January 13, 2008

Por que me ufano de meu país.

Esse negócio de escrever ficção está me deixando meio...diferente. Minhas memórias agora tendem a se mesclar com minha imaginação, e eu já não sei se me lembro de ter que fazer redações com esse título ou se isso é uma lembrança adquirida em leituras. Sou assim, agora me vejo lembrando de países que não conheço, recordando histórias de personagens como se fossem de pessoas reais...tudo se confundindo e se esbarrando pois, na minha vida tão sem ocorrências, acabo ficando marcada pelas leituras. Aliás, me lembro de uma vez (essa aconteceu mesmo) que estava viajando com um grupo de pessoas do trabalho do Guilherme e depois de, pela milionésima vez, falar de alguma coisa que tinha lido (para cada assunto eu "tinha lido" alguma coisa) uma das mulheres me perguntou: "Você nunca viveu nada, não? Só leu?" Acho que data daí essa minha confusão, pois, refletindo sobre a pergunta, percebi que vivenciava mais o que lia do que o que vivia, pois a leitura envolve reflexão, necessariamente, enquanto que a vida simplesmente acontece. Às vezes a gente reflete sobre ela, e é isso que estou tentando fazer aqui, agora, apesar de me deixar levar pelas digressões.
Voltemos ao título -- não me lembro de ter escrito nada que prestasse sob este título, até porque tenho uma grande antipatia pela palavra ufano, que me faz lembrar o desconforto causado por gases... Gosto do meu país, adoro minha cidade vitimada, me encanto com os brasileiros, mas não me ufano de nada assim como não arroto em público. Isso até ontem à noite, quando fui assistir ao espetáculo Aquarelas do Ari. Aquelas músicas encantadoras, cada qual melhor que a outra, e eu pensando que aquilo era obra de um único compositor, unzinho só, que nós ainda temos Noel Rosa e Cartola, Tom Jobim e Chico, Caetano e Antônio Maria e Cazuza e Renato Russo e Marina e toda uma legião de compositores geniais. Isso prá só falar no popular, pois até em música clássica temos compositores maravilhosos. Gente, tive um legítimo ataque de ufanismo: queria me levantar e gritar bem alto: Sou brasileira, da terra que tem a melhor música popular do planeta! Foi uma senhora noite.
Saí dali e fui ao Rio Cenário, comemorar minha epifania ufanista. Fiquei pensando que até as músicas bregas daqui são mais legais: nossos amores têm mais cores, nossas cores mais sabores, nossos sabores mais odores e por aí vai. Amar ao som de Kleiton e Kledir tem seu valor, declarar-se com uma canção de Tim Maia, é declarar-se para sempre, deixo que vocês completem essas minhas afirmações com suas lembranças...
Agora me despeço por uns tempos. Vou ao Chile: Santiago, lagos andinos, e depois Bariloche e Buenos Aires, na Argentina. Não será a primeira vez que contemplo os Andes, nem o Oceano Pacífico (Vou a Viñas del Mar e a Valparaiso, também) mas isso ainda me entusiasma como novidade. E é minha primeira vez no Chile e em Bariloche, vou voltar cheia de novidades e de fotos, espero. Se eu conseguir, mando notícias de lá. Se não, só na volta. Até.

Saturday, January 05, 2008

São Jorge e os dragões

Janeiro, o mês que deve seu nome ao deus Janus, um deus de duas caras, que olha o passado com uma e tenta divisar o futuro com a outra, começou com inúmeras festas espalhadas pela cidade. Eu estava numa delas, e, no apartamento ao lado, havia outra festa, ainda maior do que a em que eu estava, e que foi se expandindo para dentro da casa de minha amiga. Primeiro foram as bolas de gás que buscaram as cores alegres das paredes de Helena como refúgio. Depois foram os vizinhos e seus amigos, que se achegavam para brindar e para trazer bons votos a todos. No fim, o "dia da confraternização universal" fez jus a seu nome, pelo menos ali naquele oásis atlântico, e tudo virou uma grande festa. Agora escuto as histórias de outras festas, e me divirto com os rituais que juntaram champanhe francês, brilhantes de família, São Jorge e, ouso acrescentar, os dragões que cuspiam fogos de artifício na paisagem serena da Lagoa. Ou histórias mais íntimas de quem passou o reveillon dormindo na Serra ou na própria Lagoa, com os filhos pequenos protegidos entre braços maternos e paternos contra os ruídos ecoando no granito dos morros. Ou comemorações improvisadas em aeroportos de vôos atrasados para que a tripulação tivesse a chance de ver, mais uma vez, a festa no Rio. Pois bem, São Jorge, descubro hoje, será o padroeiro deste ano! Viva o Santo popular, bem amado pelos brasileiros, que o colocam na Lua e o celebram com lindas canções como a de Caetano. Invoco, então, a proteção do santo para minhas histórias, já que uma delas está publicada em http://historiaspossiveis.wordpress.com/.
Ia falar da qualidade das histórias e dos colaboradores, mas, como sou integrante do grupo, acho meio cabotino dizer como está excelente o nível dos textos, etc... Só vou lembrar a meus leitores o propósito do site: histórias cujos estopins se encontrem em notícias recentes. Algumas se prendem àquelas notícias que chamam a atenção de todo o mundo, às grandes manchetes. Outras procuram as pequenas historinhas marginais. Eu sou deste tipo, prefiro as pequenas notinhas que me trazem inspiração. Minha história possível desta vez é "Sísifo", e fala sobre o processo de digitalização das obras da literatura mundial. Aproveito para passar um puxão de orelha em público no Mano André, pois coloquei-o ao lado de Joyce, Proust, Machado e ele nem notou! Ô mano distraído! Presta atenção, hein? Em breve estarei colaborando em outro projeto do André, um site de poesias. Depois dou as indicações de como acessá-lo.
E vou seguindo, pensando em mais outras histórias impossíveis para torná-las possíveis.

Tuesday, January 01, 2008

Um sorriso inesperado

Passei um reveillon diferente: fui ao aeroporto, dirigindo um carro alheio, que, na volta, parecia grande demais, vazio demais... As ruas estavam vazias, desertas de carro e de gente. Pelas saídas da Linha Vermelha, carros de polícia insistiam em lembrar-nos da violência de uma cidade que se modifica com os anos. Ao chegar na Lagoa, encontrei todos os carros que não havia visto pelas outras ruas. Um engarrafamento bloqueava a chegada ao Corte Cantagalo, e os carros progrediam devagar.Tinha pensado em seguir a pé, mas o calor era grande, a hora já estava adiantada, e a visão de um ônibus não muito cheio que entraria no Corte, me convenceu que era melhor tomá-lo. Nos arrastamos lentamente e mesmo assim consegui chegar a tempo na casa de minha amiga, na Avenida Atlântica, onde me maravilhei, como sempre, com o espetáculo das gentes, aquele mar vivo que se movimentava em ondas brancas, e ressoava em uníssono sua admiração pelos fogos de artifício. Que, diga-se de passagem, estavam lindos, mesmo.
Depois de tudo, uma lua parecendo um gomo de laranja, sorriu na noite, e depois desapareceu. Foi uma passagem de ano tranquila, sem muitas esperanças no futuro, mas com alguma paz no coração ferido que carrego.

Hoje sei que o que me pareceu pacífico e ordenado ontem, desmente minha crença: gente baleada, gente morta, nem mesmo o reveillon escapou incólume. Mas fico com a lembrança do sorriso irônico daquela Lua zombeteira e esquiva, cor de laranja, de bons augúrios.

Esse primeiro dia de 2008, ensolarado e belo, passou suavemente, com um bom filme: A culpa é de Fidel. Que coisa boa acreditar que talento é hereditário! Parabéns ao Costa Gavras que assina a vida de Julie (ou seria Julia?) . Não deixem de ver essa jóia de filme, estrelado por uma menina genial, de olhos expressivos, reveladores.