Wednesday, February 20, 2008

Quase nada...

A gente precisa de muito pouco para se sentir feliz. Quase nada. Um aceno, um sorriso, uma lembrança. Saber que um amigo está quase publicando mais um romance, ou seu primeiro livro. Receber uma foto ou descobrir um álbum de fotos esquecido numa prateleira da estante. Dividir um bolo de aniversário com pessoas queridas.
A gente precisa lembrar de que tem que se sentir feliz. Pois um quase nada nos desanima: uma mensagem tristonha, a percepção de uma zanga, orgulho e preconceito... Quando as palavras e as pessoas me ferem, me coloco neste cantinho e contemplo o mar. Seu azul me redime. Sua cólera me resgata. Seu cinza me amortece. Sua limpidez me lava. Quando as memórias me entristecem, sinto o mar crescendo dentro de mim, suas águas transbordando em lágrimas que não consigo conter.
Aí lembro de algo que li: "para escrever é preciso sonhar peixes", e fico procurando os peixes em meu mar -- aquele que vejo e aquele que me habita.
Recrio peixes inábeis, que se escondem entre palavras salgadas. Pouco a pouco eles se organizam em cardumes e passeiam suas cores sem medo das aves que mergulham para buscá-los.
Um quase nada... e eu já estou sorrindo outra vez.

Monday, February 18, 2008

Iemanjá, a festa.

Fui a um candomblé no sábado. Um candomblé sui generis, comandado por uma francesa de mais de oitenta anos, socióloga, que veio ao Brasil acompanhando o marido, que era diplomata. Aqui ela se interessou pela religião de raízes africanas e acabou se convertendo. Quando o marido retornou a França, ela voltou com ele, mas não se adaptou mais e voltou para cá. Tem um sítio lá em Caxias, e montou seu centro, muito bem montado, por lá -- templo e casa, ela vive na companhia dos seus santos.
Quando cheguei, já havia por lá uma considerável multidão. Muitos carros, foi difícil até encontrar um lugar para parar. Fazia calor, e com tanta gente reunida, com roupas tão exóticas, só de olhá-los parecia que o calor aumentava, mas me concentrei nas bandeirinhas multicoloridas que se agitavam com o sopro dos ventiladores: parecia um mar sobre nossa cabeça, um mar iridescente, ondulante, festivo. As flores que enfeitavam as pilastras nem pareciam sofrer com o calor, e se mostravam orgulhosas em meio aos laços de fitas que as prendiam.

As pessoas convidadas, em suas roupas claras, aguardavam pacientes pelo cortejo, que após alguma demora veio com seus belos e calorentos trajes. Mulheres com turbantes e saias rodadas, panos amarrados, colares. Homens com seus costumes coloridos, seus chapéus bordados, suas túnicas de mangas longas. Os tambores acompanhavam os cânticos que saudavam os Orixás. Foram muitos os cantos, muita gente dançando em roda, com trejeitos ensaiados, ou predeterminados. Aqui e ali eu reconhecia um nome de Orixá. Ogum, Iemanjá, Obá, Oxóssi, Oxum, Xangô. Dançaram, dançaram, cantaram, cantaram até que, num determinado momento os santos começaram a baixar. Uma Iemanjá, três Ogum, um Xangô, três (ou quatro, se considerarmos um que só andava curvado, como se fosse um velhinho, ou uma velhinha) Oxalá, uma Obá, um outro santo que depois sumiu, que cantava como um pássaro...Foram vários. Houve, então, um intervalo nos cantos e danças e os Santos se retiraram, para se vestir com suas vestes específicas. Iemanjá, incorporada na velhinha francesa, veio muito elegante -- afinal, a festa era dela -- e dançou primeiro. Depois houve um cortejo, e uma ajudante de Iemanjá trouxe uma bilha de água equilibrada na cabeça, e essa água foi distribuída aos presentes, em copinhos plásticos. Finalmente ela se sentou, na companhia de outros santos que não reconheço, e ficou recebendo as homenagens dos visitantes e dos outros Orixás, que dançaram suas danças próprias. Após a dança eles eram levados por auxiliares para fora de cena, talvez para suas casinhas próprias, ao redor do pátio. O povo soltava algumas saudações. Sei que depois de tudo haveria um jantar, mas voltamos antes de a comida ser servida. O cheiro estava apetitoso, mas o caminho de volta era longo, e achamos melhor dispensar a comida e voltarmos em caravana com outro carro, de pessoas conhecidas.
Entendi pouco da cerimônia, mas adorei ter ido lá. Fico imaginando o que esta senhora francesa, formada em sociologia, descobriu no candomblé que a tornou uma devota. Logo uma francesa, uma compatriota de Descartes, representante de um povo tão racionalista... Ah, os mistérios da fé. Que encanto! E que linda festa, em sua sinceridade, em sua singeleza. Será que as pessoas entendem o que estão cantando? Será que percebem que os gestos que fazem são estilizações de atividades próprias de cada um dos orixás? Um caça, outro pesca, outro sega as colheitas...Isso são coisas que li, há muito tempo, quando visitei Salvador pela primeira vez. Agora que estou aqui escrevendo, estou pensando nos livros do Mia Couto. Em especial, no chamado O último vôo do flamingo.A Obá, toda vestida de cor de rosa, que estremecia como uma ave assustada, me faz evocar esse flamingo. A moça era linda, uma jovem negra de rosto redondo e olhos amendoados, que se mantinham fechados. Ela parecia uma Mia Farrow, esguia, delicada, traços finos, tão profundamente negra que seu corpo parecia absorver a luz que chegava até ela.
Lembro da entrevista em que o Mia Couto falou que manteve, no escritório, enquanto escrevia o livro em questão, uma pena de flamingo que havia encontrado. E espero manter em minha lembrança essa dança e essas imagens até que um dia elas passem a pertencer a alguma história que eu conte. Seja o tom de pele dessa moça, seja o gemido contínuo que a francesa deixava escapar em seu transe, seja o gosto estranho da água que foi compartilhada e a gentileza extremada das pessoas que nos indicaram por onde passar, sei que, em algum conto meu, mais cedo ou mais tarde, esses detalhes vão compor algum personagem, alguma cena. Talvez quando entender melhor o que presenciei, eu seja capaz de contar essa história. Até lá, guardo aqui no blog esses detalhes, aguardando o vôo, que guiará o sol... ou o sonho.

Véspera de aniversário

Mais um ano, e eu comemoro na curva descendente: não acumulo, agora me alegro por ser menos um ano a cumprir o exílio a que fui condenada. E não há nem um pingo de amargor nisso. Os que convivem comigo sabem que estou bem.
E eu tenho muito a comemorar. Comemoro com o Dudu (Eduardo Couto) pois ele está cumprindo a promessa que fez ao pai, da qual eu sou testemunha -- ele vai para as Olimpíadas, e meu coração se alegra por ele. Ele batalhou incansavelmente todos esses anos. Eu torci por ele, de longe, mas com um carinho enorme.Vai, Dudu! a medalha é sua!
Comemoro porque este ano sai mais um livro meu, filho da dor, mas qual filho não nasce da dor? E todos prometem alegrias, e todos nos dão felicidade, mesmo que pouca.
Comemoro porque, embora não seja muito boa na arte de cultivar meus amigos (detesto telefonar, esqueço datas importantes, meto os pés pelas mãos pela minha timidez e insegurança) eles e elas continuam meus amigos, sorriem quando me vêem, até se dispõem a encontrar comigo em reuniões, ou fazem reuniões para se encontrar comigo.
Comemoro porque meus filhos estão bem, são pessoas boas e carinhosas, e carregam orgulhosamente os genes que herdaram do pai.
Comemoro porque tenho um "quarto só meu", o que, segundo Virginia Woolf é requisito indispensável para a gente crescer e florescer. Sei que já não cresço e que as flores que ainda produzo são modestas, afeiçoadas à sombra. Mas me alegram muito essas flores cotidianas, que se espalham nas aulas que dou, nas conversas que tenho, neste blog e nas impossíveis histórias que escrevo.
Bem, comemoro porque ainda me resta um pouco de desconfiômetro para não insistir neste post meloso e sentimental, que se escreveu à minha revelia, pois minha intenção era falar de uma festa de Iemanjá. Acho que talvez valha a pena guardar para uma próxima vez. Prometo que conto.

Wednesday, February 13, 2008

A falta que ela nos faz...

Mano André, amiga Adriana, e agora eu -- eles reclamaram e eu assino embaixo. As editoras não promovem nossos livrinhos: sniff, sniff.
Livro não é mercadoria, gente não é mercadoria, mas vivemos num mundo de valores trocados e truncados e parece que a gente só sabe se relacionar através do "Mercado". Já há muitos anos falava-se de "capital social", "capital intelectual", coisas assim. O mestre Graciliano escreveu uma obra-prima, um dos maiores livros de nossa literatura, revelando a "reificação" do homem. Na época a palavra era nova, o conceito também. Hoje em dia banalizou tanto, que é capaz das pessoas lerem São Bernardo e nem se comoverem. Fico imaginando um curta metragem em que um motorista, engarrafado num dos enormes congestionamentos de São Paulo, se ponha a ler o conto de Cortázar (Autopista del sur), e, num delírio, comece a agir como os personagens do conto. Em nosso very big brother, com as câmeras de vigilância em cada esquina e estacionamento, estamos vendo,-- se quisermos ver, pois a maioria tem olhos de não ver,-- uma sociedade que só vale enquanto espetáculo. O espetáculo que é vendido como vida real, como modelo, como ideal de comportamento. Mas que não vale nada, que é tão ilusório quanto um holograma. Aliás, existe uma teoria filosófica de que somos todos hologramas, que a vida se desenvolve em outro lugar do universo e o que experimentamos aqui não passa de ilusão, holografia capaz de se reproduzir. Acho que nós, escritores, nos debatemos para termos um lugar nessa projeção. Convenhamos, nada mais chato que assistir a um escritor vivendo: nossas imagens de vida se repetem -- escrevemos, escrevemos a lápis ou em computador, de pé ou sentados, com canetas ou máquinas antiquadas, com laptops ou bloquinhos de notas. Quando não estamos escrevendo, estamos lendo. Sentados, deitados, na praia... Um ou outro se enclausura num canto claustrofóbico e se deixa ficar anos a fio, escrevendo e lendo. Criamos mundos tão ilusórios quanto os hologramas que talvez sejamos. Mas nossa construção fala diretamente a algo que ainda possuímos: nosso cérebro, máquina de pensar. Não pretendemos iludir, mas des-iludir. Oferecemos a verdade que surpreendemos nas coisas, desvelamos, desmascaramos. Mesmo quando nossa obra é um castelo de cartas, ele se sustenta na lógica e os leitores podem decodificar essas construções, corrigi-las, melhorá-las. Mas esse processo não dá para ser revelado em imagem.
Ia falar de uma coisa e acabei falando em outra: mas, conserto, com um remendo. Nesse mundo "reificado", viramos mercadoria. E mercadorias existem para serem trocadas por dinheiro. Um bom livro é uma mercadoria que se comporta de uma maneira muito peculiar: a gente compra, lê e não joga fora. Empresta aos amigos, dá para um primo, recomenda para um colega. Um bom livro dura para sempre. E os deuses do mercado não sabem como lidar com um objeto que escapa às suas leis. Daí que os mercadores prefiram promover esse sub-lixo escrito nas oficinas de escrita criativa... Aliás, alguém conhece o software de roteiro que as grandes produtoras de filme de Hollywood têm? Incrível. Você vai alimentando, tipo: quantos personagens, tipo de conflito, quantas cenas de sexo, quantas de violência, e o roteiro vai saindo pronto do outro lado, e por isso a gente tem a sensação de que muitos filmes de Hollywood são iguais.
Bem, já falei demais e estou outra vez saindo do assunto.
Mais uma vez conserto, com outro remendo: leiam lá no blog do André e no da Adriana Lisboa as considerações sobre este assunto. E vejam se não é para concordar com o André, quando ele reclama: gastem cem mil dólares (ou seriam reais?) promovendo meu livro e vejam se ele não vira o primeiro da lista de mais vendidos!
Queremos entrar para o grupo dos Cem, e não ficar no grupo dos sem.
Ah, só para esclarecer: quem está nos fazendo falta é a propaganda mesmo, já que ninguém está nem aí para a literatura.

Sunday, February 10, 2008

Domingo de chuva...

Não, não começou com chuva, até deu praia, mas eu não pude ir. Agora contemplo a súbita tempestade, que coroa os morros com seus raios e curva as árvores por onde vai passando. Lembro do que disseram nesse Carnaval: "A Mangueira enverga mas não quebra." Olho para as árvores, olho para o mar, olho para o céu dividido: um lado tão escuro, outro se mantendo sereno e indiferente. Minha vida enverga, mas não quebra. Perco meus galhos, minhas flores e frutos, tudo levado por ventos mais ou menos fortes. Ao contrário das raízes da árvore apadrinhada pelo Rubem Fonseca (leiam o livro, leiam, que é muito bom), as minhas estão solidamente fincadas no chão. Como foi isso? Cuidados do meu jardineiro, que se foi, agora que a árvore já não é mais tenra e frágil? Acaso? Ou alguma literatura que se encarregou, compadecida, de me fornecer água e nutrientes? E por falar em literatura, quem se lembra de um romance chamado Vento Forte? Acho que era do Astúrias. Como eu adorei esse romance. Depois fui relê-lo, e já não encontrei o mesmo encanto. Mas, quando me lembro do romance, é com a emoção da primeira leitura que a lembrança vem, forte como o vento, com cheiro de chuva, inquietante.
Tenho algumas leituras urgentes para fazer, embora minha vontade fosse ficar aqui de papo. Mas não dá. Vou, então. Antes quero dar um abraço no Leandro -- o da Geovanna, lá no Histórias Possíveis. Ele me deixou um recado muito simpático, que eu agradeço de todo o coração. Achei engraçado que nossas histórias combinaram embora a gente nem soubesse nada um do outro. Recebi recados da Rô e do Henrique, também, no e-mail. Obrigada. Foi bom vocês mandarem as mensagens, pois eu estava muito insegura com esse meu conto meio canalha. E quero corrigir o que disse: meus parceiros não estão bem legais -- estão ótimos, instigantes, com textos vivos e variados. Parabéns ao mano André, nosso "editor".
PS -- verde de inveja: Tenho uma amiga, a quem muito admiro, que circula pelas altas esferas municipais e administrativas, que teve como chefe o Rubem Fonseca. E um outro amigo, do mesmo grupo, que além de ter sido colega de trabalho do RF ainda aparece nas páginas de A grande arte. O que eles não sabem é que eu também sou personagem do RF. Ou ninguém ainda lembrou de Lúcia MacCartney?... A história não é minha, mas o nome é. Ou foi, quando eu era beatlemaníaca.

Saturday, February 09, 2008

Sábado de sol

Finalmente um sábado de sol! Fui à praia, obedecendo aos instintos que fazem os moradores do Leblon se deslocarem em massa para a beira do mar em dias ensolarados. Que programa tão bacana. Levo um trocado para a barraca de praia, os óculos e.... ganhou um doce quem falou em Livro! Desta vez fui com o Rubem Fonseca me acompanhando, e, mal cheguei na praia mergulhei na leitura. Delícia. Fonseca em seus melhores dias de boa escrita e boa conversa. Falo de O Romance morreu, livro de crônicas, com um pequeno trecho autobiográfico que me fez ficar totalmente apaixonada. Por que é que eu cruzo com todos os artistas da Globo aqui no bairro e nunca tropecei com o meu vizinho? Quero dar um encontrão bem forte, prá ver se alguma coisa dele se transfere para mim. Quero que ele leia alguma coisa que eu tenha escrito e se diga:" puxa, como é que eu nunca esbarrei nessa minha vizinha?"
Aqui vai meu agradecimento público pelo belo dia de praia que a leitura de O romance morreu me proporcionou.
E, para terminar, um dedinho de auto-propaganda: Hoje é dia de Histórias Possíveis e lá tem novo conto meu. Não deixem de ir lá conferir, e ler as produções de meus colegas, que estão muito legais.

Thursday, February 07, 2008

Agora eu conto

Aposto que alguém quer saber as respostas dos ganchinhos que deixei no questionário: A mulher foi a preclara senadora Benedita da Silva. A droga do século (juro que em alguns lugares ela é conhecida assim) é Viagra. Tenho algumas histórias interessantes sobre esse remédio. Logo depois que a pílula saiu, meu marido e eu estávamos em Paris, passeando pela Île St. Louis e, na vitrine de um restaurante, havia um cartaz anunciando Bife com Viagra. Francês come de tudo, né? A outra história é sobre os "poderosos" que, numa reunião, receberam uma caixinha de viagra nas respectivas suites -- Nenhum deles admitiu ter usado, é claro. Mas algumas mulheres estavam bem satisfeitas com o resultado... E algumas modelos e manequins estavam com caras mais enjoadas do que nunca...
Agora vou contar mais uma outra coisa: assisti um filme excelente! Trata-se de Desejo e Reparação (não sei porque encompridaram o título que era apenas Reparação -- Attonement -- no original) O romance é maravilhoso e o filme ficou excelente, lindo, com um final grandioso da maravilhosa Vanessa Redgrave. Ela é uma grande atriz, das melhores que conheço. Aliás, naquela ilha o pessoal sabe representar. Deve ter alguma coisa a ver com Shakespeare, será? Ou com as águas do Avon? Richard Burton, Lawrence Olivier, Glenda Jackson, Vanessa Redgrave, tanta gente boa...
Bem, se vocês ainda não viram o filme, parem de ler imediatamente e corram para o cinema. Vocês vão me agradecer muito! E, por falar em agradecer, obrigada pelas palavras carinhosas, Thali. Adoro vocês, meus leitores queridos! Obrigada a todos.

Monday, February 04, 2008

Passando a bola

Meu meme desmemoriado ficou sem passagem de bola. Passo aqui, para o André, para a Ronize e para a Vera. Com carinho, viu?

Meme desmemoriado

Bem, No dia 23 de janeiro, estava viajando e lá longe recebi este Meme, da Adriana Lisboa. Como estava num hotel que me cobrava caro a internet, soube que ela havia me mandado esse tal de meme, mas fiquei sem saber o que era até chegar no Rio e ir ver de que se tratava, lá no www.caquiscaidos.blogspot.com Transcrevo aqui em baixo:

1. O que você estava fazendo em 1978 (há 30 anos)?
Escrevendo poesia e brincando de boneca na estrada da fazenda do meu avô, metida no vestido de casamento da minha mãe.

2. E em 1983, há 25?
Escrevendo poesia, enquanto ao fundo Frank Sinatra cantava “New York, New York” e tudo tinha um certo ar de novela das oito.

3. O que você estava fazendo em 1988?
Escrevendo poesia e cantando MPB na França, quando era moda por lá “Essa moça tá diferente”, do Chico (por causa de um comercial de Orangina).

4. E em 1993?
Escrevendo poesia e tocando flauta – mas prestes a jogar a flauta para o alto, assim que me formasse, para me enfiar de vez nos livros.

5. O que estava fazendo há 10 anos?
Escrevendo poesia e esperando.

6. E há cinco?
Sonhando com as montanhas e pensando em voltar a escrever poesia.

Vejam só como são as coisas: eu não me lembro de nada do que fazia, nem há 30 horas, nem há 30 meses, nem há 30 anos. Fui procurar coisas para falar no google. Esse mexeriqueiro me contou tudo o que sabia, e eu vou tentar reconstruir meu passado aqui:
1. O que você estava fazendo em 1978 (há 30 anos)?
Assistindo aos bons filmes daquele ano: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (ganhou o Oscar!), The Deer Hunter; Expresso da meia-noite. Não dei muita importância ao suicídio coletivo orquestrado pelo louco do Jim Jones, nem às mortes dos papas Paulo VI e João Paulo I -- quando a gente é jovem, nem liga para essa coisa de morte, que nos parece muito distante. E escrevia romances de amor para a Ediouro, uma curtição. Colocava o nome de minhas amigas nas personagens, e me divertia muito com essa ocupação.
2. E em 1983, há 25?
Estava ouvindo, pela primeira vez, os Paralamas do Sucesso, e também Capital Inicial e Titãs. Os EUA estavam invadindo Granada e nas Bahamas o "crack" estava sendo desenvolvido, e logo começou a se espalhar nas terras do Tio Sam: seria vingança?No cinema, estava assistindo The Big Chill (esqueci o nome em português) naquele cinema que acabou lá na Praça da Paz.
3. O que você estava fazendo em 1988?
Estava vivendo nos EUA, e sendo aceita em Yale, indiferente ao fato de que o Estado de Tocantins estava sendo criado no Brasil, que ia haver eleições e eu não estaria presente para votar, sem saber que Chico Mendes tinha sido assassinado. Neste ano, Nagib Mafouz ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Até hoje não li nada dele...
4. E em 1993?
Escrevendo poesia -- Tinha um livro pronto (A Contramão da palavra) e estava escrevendo outro cujo título é Alma Ocidental, por enquanto. Nosso país decidia, num plebiscito, se íamos optar pela monarquia, pelo presidencialismo ou pelo parlamentarismo. E eu conhecia algumas pessoas que eram monarquistas.
5. O que estava fazendo há 10 anos?
Em 1998, pela primeira vez na História do Brasil, uma mulher presidiu a sessão do Congresso Nacional... Sabem quem foi? Só conto no próximo blog. Neste ano, a FDA aprovou a droga do século...No próximo blog eu conto. Quem gosta de futebol sabe que esse foi o ano da Copa da França, um grande vexame. Eu jurei que nunca mais ia assistir a um jogo da seleção. Ah, o José Saramago ganhou o prêmio Nobel de Literatura.
6. E há cinco?
A Columbia explodiu no ar e matou seus sete tripulantes. Eu fiquei comovida com a história. Durante dias fiquei revendo aquele céu muito azul cortado por uma linha de fumaça, como tinha sido mostrado na TV, e me perguntando como é que se pode desaparecer assim? Uma hora estamos lá. Na outra, somos apenas lembrança. Como vêem, a morte já tinha começado a me incomodar em 2003, mas não tanto como em 2005, ano de minha tragédia pessoal.
Eu ainda achava que seria feliz para sempre. Escrevia e lia, sonhando com o dia em que seria lida.

Saturday, February 02, 2008

É Carnaval

Vejam só: Comprei uma fantasia de Melindrosa, improvisei uma fantasia de Espanhola, outra de Gênia da Lâmpada, e tenho uma fantasia do Império Serrano. Tudo pendurado num cabide, esperando a animação da dona... Só que a animação não chegou ainda. Acho que ficou pendurada nas cordas da tirolesa lá de Bariloche. Hoje à noite, porém, irei, na madrugada, para o Sambódromo. Se vocês que me lêem virem um palhacinho sem muita graça, já sabem que sou eu.
Enquanto isso, releio Walter Benjamin -- pelo menos tento. Como as aulas vão recomeçar, tenho que cultivar meu lado sério e trabalhador. Mau sinal: peguei o livro e já esqueci no carro. Vou lá buscar, para ficar com a consciência mais tranqüila.
Outra coisa: recebi um "meme" da Adriana Lisboa (autora excelente, que recomendo a todos os leitores). Eu confesso que nem sabia o que era meme, parecido só o DJ, mas era Memê. Descobri mil coisas interessantes, tipo, é o equivalente ao genoma, mas do lado cultural - unidade mínima transmissível de saber. Chique, né? Meu meme não vai transmitir nada, pois minha memória não é mememória. Já não lembro de mais nada. Por isso estou demorando a passar a bola. Vou catar pelos albuns (se achar algum) ou pela internet, para saber o que se fazia há 30 anos atrás, para ver se me lembro de fazer alguma coisa nesta época. Eu, provavelmente, só lia. Ah, acho que estava escrevendo romances de amor para a Ediouro. Bem, vou ver e volto com meu meme desmemoriado.