Monday, April 27, 2009

Capivaras outra vez?

Nem todas as capivaras são iguais. E eu não pretendo me transformar numa nova Cora Rónai, escrevendo artigos em defesa do estilo de vida destes animais.  Mas, de volta ao Rio, com muitas fotos de capivara, já que elas estavam por toda a parte no Pantanal, e as aves e outros animais que eu pretendia fotografar eram apressados e deixavam o cenário antes que minha câmera inábil as clicasse, me vi com um acervo que faria inveja a qualquer estudioso dessa espécie. Estou viajando na companhia de uma amiga, americana, cujo filho de 12 anos lhe informou, ao ser contemplado com uma das suas também incontáveis fotos capivarescas, que "capybaras are my favorite rodent". Em português: são o roedor favorito deste menino da Nova Inglaterra!

A mãe dele e eu nos admiramos muito, mas o rapazinho é estudioso, está num dos melhores colégios da região,  é um ávido leitor – achamos que isso era coisa de sua educação primorosa. No entanto, ao chegar ao Rio, descobrimos que as capivaras são as favoritas das crianças aqui também. Sem que ninguém desse por isso, as bichinhas entraram na moda! Talvez já estejam até ameaçando o reinado longevo do Rato. Será?

Mas, com essas fotos que coloquei aqui cheguei à conclusão de que nem todas as capivaras são iguais: pode-se perceber um tipo de personalidade em cada um dos exemplares destas fotos. A primeira capivara é tímida, tenta se esconder atrás de um anteparo. Se capivaras fossem alfabetizadas, ela estaria com um livro, enquanto as outras brincavam de pegar entre uma e outra poça. Já a capivara da foto acima é uma sonhadora, que imagina aventuras para além da cerca, ou sonha com algum amor distante. Talvez sinta saudades de um primo que resolveu mudar-se para o Rio, e levar uma vida mais agitada e glamurosa, estampando as páginas de um  jornal.

Este amiguinho aqui em cima é resignado, pensa em se recolher para descansar depois de um árduo dia de mastigação. Como sou uma fotógrafa de muito pouca qualidade não podemos ver seu sexo, que as capivaras macho ostentam sobre o nariz. Bem, não exatamente aquilo, mas os machos têm uma glândula grande e preta no focinho e dividem seu tempo entre pastar, tomar intermináveis banhos de beleza na lama, namorar (rapidinho, prá não cansar) e esfregar o nariz por toda a parte, com evidente volúpia, marcando seu território. 
Então, meus caros capybara lovers, apreciem as fotos e essas gotas de sabedoria de sua amiga zoóloga de ocasião.

Saturday, April 25, 2009

Ontem não deu...

Pois é. Ontem tive um dia cheio. Estou oferecendo uma oficina de contos aqui no SESC Arsenal, em Cuiabá. Mas ontem tive, além da oficina, uma mesa redonda, que não foi assim tão redonda já que era composta apenas de duas pessoas -- uma poeta local, Luciene Carvalho, cujo último livro, Insânia, trata de sua experiência num manicômio onde esteve internada, pelo que eu entendi, por problemas de drogas e bipolaridade, e eu. Claro que eu não podia ter nada que fosse tão interessante quanto a loucura, eu, que sou apenas eu, embora me sinta trezentas, ou trezentas e cinquenta, como na poesia de Mário. Mas vivo no limite dessa Lucia que construí a duras penas, e que vou colando com palavras e lembranças, para não desmoronar. Quem me dera ter uma persona, como revelou a Luciene, que se pode despir à noite para ir dormir. Eu tenho que ir dormir com a cabeça cheia de idéias, frustrações, apreensões, cansaço, nem sempre descanso bem, acordo meio amarfanhada e vou à luta, esticando um pouco daqui, puxando um pouco dali, para fazer frente ao que surge.
Mas Luciene encantou a audiência com sua exuberância, sua palavra fácil e suas confidências. Afinal, ela é uma atriz, interpreta suas próprias poesias nos palcos que encontra. E tem tanta competência que vai abiscoitando os incentivos fiscais e culturais que encontra, o que permite que ela confesse, orgulhosa, que vive de literatura. Ela me faz lembrar a Elisa Lucinda, outra performática, que se expõe corajosamente, com seus versos. Não cheguei a conhecer os versos da Luciene, não aprecio o gênero de versos da Elisa Lucinda, mas isso não me impede de admirar as duas, pela garra que têm pela vida.

Thursday, April 23, 2009

Cuiabá



Dizem que Cuiabá é a cidade mais quente do Brasil. Para mim, que estou vindo do Pantanal, até que não estou achando tão má assim. Vejam: no Pantanal acho que faz o mesmo calor, mas a gente se vê obrigada a andar de mangas compridas, calças compridas enfiadas para dentro das meias, chapéu, sapato fechado ( e o que eu não daria por uma galocha, na hora de andar a cavalo pelos campos alagados!)
É bem verdade que o pessoal daqui vai para a região do Pantanal para ficarem mergulhados nos corixos, que, pelo que eu entendi, são terrenos vizinhos aos rios, que estão permanentemente alagados, embora variem de extensão conforme a época do ano.

Na verdade, a primeira espécie animal que pudemos identificar no Pantanal foi a da foto que aqui vai. Confiram!







É isso mesmo!
Seres humanos, exibindo suas carnes brancas e suas latinhas de cerveja, na água muito transparente, ao lado de todas as 122 pontes da Transpantaneira. A estrada não é asfaltada e as pontes são de madeira. Ao lado de cada um dos quatro apoios da ponte, forma-se uma espécie de rampinha, onde o carro desce de marcha a ré e despeja a família ou os amigos para o refrescante banho de imersão. Ao lado, os jacarés vão lentamente se afastando, indignados com esa usurpação. Ninguém se incomoda com eles, que fogem do convívio humano. Quem também partilha das águas são as incontáveis capivaras. Rebolando, lentas, sempre mastigando, elas parecem as donas das poças e dos charcos. Sua vida parece tranquila e talvez por desfastio, uma ou outra se lembre de dar uma corrida, sempre curta, espadanando muita água. Outros casais combinam um encontro dentro d'água, e com a brevidade que que seus ímpetos preguiçosos permitem, dão uma namoradinha rápida, e depois mais outra, e mais outra... afinal, elas não têm nada melhor para fazer!

Pouco a pouco vamos compreendendo que o Pantanal é a república dos Pássaros. Primeiramente, nossos olhares desacostumasdos não conseguem perceber a grande variedade e o incontável número de aves. Nossos ouvidos, porém, vão reconhecendos cantos diferentes, e em breve passamos a perceber que as sombras não são sombras, e que o balançar das folhas das árvores e arbustos não se deve ao vento, mas à mudança de posição de aves solitarias ou em bandos estridentes.
Amanhã coloco mais fotos e outras impressões pantaneiras.

Tuesday, April 21, 2009

Enquanto as capivaras pastam...

Ilhada, mais uma vez! A internet e o celular n'ao funcionam, so consigo me conectar do computador da propria pousada, que, apesar de estarmos aqui desde domingo, somente hoje voltou a funcionar. A paisagem eh uma beleza, mas o calor nao da vontade de fazer mais do que fazem as capivaras -- pastar, chafurdar numa pocinha de agua e uma ou outra mudanca de posicao. Assim que estiver conectada com o mundo mando noticias de novo

Sunday, April 19, 2009

trapaças da sorte.




Prometi,estou cumprindo, só que com algum atraso, pois não contava com a falta de sinal para entrar na internet. Mas aqui estão algumas das belezas que experimentei na Chapada dos Guimarães. Ficamos na pousada do Parque, e as fotos são de lá: cachoeira inclusive, onde tomamos um banho que lavou corpos, corações e mentes, até mesmo as almas. Esta foto imediatamente acima é para dar uma idéia de como foi nossa caminhada no mato. Era assim mesmo, sem caminho, pisando entre folhas e galhos, engolindo um medo danado de encontrar alguma cobra. A primeira foto está classificada como "outono na Chapada" -- não acham que é apropriado? E a da formação rochosa se inttula Máquina de costura, pois é ao que se assemelha. Agora ciao!

Thursday, April 16, 2009

Lucia já vou indo

Este é o nome de uma historinha infantil, da qual não lembro nada a não ser o nome. A Lucia era uma tartaruga, ou uma lesma, alguma coisa lenta, que estava sempre atrasada. Eu já sou de outro tipo. Cumpro horários, não costumo me atrasar, mas estou sempre indo a algum lugar. Então, até amanhã, na Chapada. Não tive tempo de passar as fotos para o computador, mas garanto a vocês que vou conseguir colocar fotos da Chapada. Tenho uma estratégia, me aguardem! Até amanhã!

Wednesday, April 15, 2009

Hello, goodbye

Acabo de chegar, mas é só para assistir a uma aula e trocar de malas: já estou de partida de novo. Desta vez vou a trabalho, uma oficina de contos no SESC Arsenal, em Cuiabá. Só que não resisto ao desejo de dar uma espiadinha na Chapada e no Pantanal, por isso vou uns dias antes. É cansativo, mas acho que vale a pena. Desta vez levarei o computador, e minha intenção é postar algumas fotos de lá. Na verdade, queria postar fotos da viagem a Colômbia e ao Panamá, mas ainda estão na máquina, não sei se terei tempo para fazer isso ainda hoje.
 Mas quero que todos saibam que adorei a viagem, apesar de achar que San Andrés não vale a pena (é muito sacrifício, muita distância e temos aqui coisas tão belas ou ainda mais belas do que lá). O que chateia na viagem à Colômbia, é o infernal ritual de abrir e fechar malas. Quando chegamos, temos que abrir as malas. Quando saímos, também. Só que despachamos a mala, que vai para o avião, não temos mais acesso a ela e, ao chegarmos em nosso destino, temos que abri-la outras vez. E tudo isso acompanhado de uma infinidade de papéis a serem preenchidos em não sei quantas vias. Tudo é muito burocrático e as filas são onipresentes e looongas. Em compensação, recebi beijos e mais beijos de Augusto Xavier, vi a casa de Garcia Marques, ouvi histórias de piratas, bucaneiros, flibusteiros e corsários, andei pelas ruas floridas de Cartagena de Indias e depois nadei nas águas multicoloridas de San Andrés. Bem depois coloco as fotos de Augusto Xavier para que todos morram de inveja! E as fotos do Aquarium, e tudo o mais que conseguir desentranhar da máquina. Se der, até um filminho das eclusas do Canal do Panamá. Adorei o Panamá. Bem, não tenho intenção de voltar lá, mas gostei do povo, da comida, da cidade que está em pleno crescimento, de ver os barcos, cada qual mais maravilhoso que o outro. (Estou falando de iates e veleiros particulares deslumbrantes) Parece o Mônaco da América. Se eu estivesse começando a vida, acho que lá seria um bom lugar para ir trabalhar. Um país em pleno crescimento, dinâmico. É bem verdade que eles têm 9 meses de chuva ao ano, e pode ser que minha opinião fosse bem diferente se tivesse chegado lá em maio... Mas, com só posso falar do que vi, fica minha impressão positiva.
Hasta la vista!
Ah, Feliz Natal, para quem é de Natal, Feliz Páscoa para quem é de Páscoa e feliz aniversário para as muitas aniversariantes do mês: Angela, Maria Helena (é hoje!) Kim, Dedei, Sílvia....Nossa! Ainda tem mais, mas vou parar por aqui.

Saturday, April 11, 2009

Sabado de sol em San Andres

Amigos
estou longe de casa, na Colombia, num computador estranho e sem acentos. Desculpem a falta de noticias, mas depois faco um resumo da viagem para todos. Estive em Cartagena de Indias, agora estou en San Andres e antes de ir para casa, passo pelo Panama, onde espero poder visitar o canal.
Se nao der para conectar amanha, desejo a todos uma feliz Pascoa. Por favor, coloquem os acentos e as cedilhas e a pontuacao necessaria. E obrigada por me lerem, viram. Esse e meu maior presente.

Sunday, April 05, 2009

Mais um domingo de sol no Rio…

É impossível não amar esta cidade num dia como o de hoje. A temperatura amena e os tons do céu e do mar parecem um convite à alegria e ao bom humor. Sorrio, portanto, com o carinho da Cris: obrigada, amiga! Tomara que dê certo. É verdade que ali na enorme lista dos inscritos tem muita gente boa. Flavinho alça sua "cabeça baixa", entre os romances, e eu, por um lapso, esqueci de colocá-lo no post passado. Ele é amigo querido, claro que estou torcendo por ele, também. Mas não vou mencionar todos os amigos, nem falar mais nesse assunto. Volto ao meu bom humor domingueiro, mesmo com o estresse da véspera da partida, e o atraso dos trabalhos. Mas lembro do filme que assisti ontem: Simplesmente feliz. Concluo que o bom humor constante de algumas pessoas pode ser muito irritante para outras. Que saco! O mundo se acabando e a fulana ou o fulano rindo como uma imbecil, ou um drogado. 
Me lembro de uma consulta médica que muito me ofendeu – o médico, um mal-humorado crônico, achou que eu era burra como uma porta, só porque eu sorria, tentando ser simpática. E transformou a consulta numa sessão de tortura, tentando desaparafusar o sorriso do meu rosto. Eu, por teimosia, insistia no sorriso, mas por dentro tinha vontade de dar-lhe um tabefe. E assim ficamos, por toda aquela longa meia-hora, medindo forças, até que ele me dispensou e eu saí dali aliviada, para nunca mais voltar! Mas fiquei indignada, por ter de pagar por isso! O que vale é que a minha memória é seletiva: lembro do caso, mas não há maneira de me lembrar do médico. Vai ver que isso nem aconteceu comigo, mas alguém me contou a história da qual me apropriei, por me colocar no lugar da pessoa. Tenho memórias que são desse tipo – produzidas pelos outros.  Há coisas que me contam a meu respeito e que eu acredito que tenham se passado, mas das quais não tenho a menor recordação própria. Só que, de tanto a pessoa insistir, assumo aquilo como uma memória possível, e passo a guardar a versão da pessoa sobre o meu passado. Este episódio difere ligeiramente. Talvez eu tenha elegido essa versão de alguém como própria – afinal, combina comigo, sou uma sorridente contumaz, e ouvinte atenta. Nas conferências, sinto, muitas vezes, que sirvo de ponto de referência para o falante. Olho atenta, sorrio, concordo, balançando a cabeça. Se discordo, aperto os lábios, numa mímica de dúvida ( ia dizer num esgar de dúvida, mas achei a palavra muito pedante). E tenho grande amor por boas histórias. Me lembro que a editora, por ocasião de meu primeiro livro, me pediu uma "biografia" para colocar na orelha do livro. Aquilo me deixou absolutamente perplexa: quem poderia estar interessado na vida que levo? Não tinha nada para contar: nasci, fui para o colégio, aprendi a ler e escrever, casei, tive filhos, enviuvei… Escrevi, então, uma biografia possível e disse que era neurocirurgiã, amante do Salman Rushdie, o que tinha me obrigado a levar uma vida clandestina. Por isso mesmo, por ocasião do ferimento que havia abatido Osama Bin Laden, eu tinha sido levada – por pessoas não identificadas – para as cavernas do Afeganistão, onde tinha efetuado uma operação de emergência salvando a vida do terrorista mais procurado do mundo. Conseguira escapar do sequestro atravessando o deserto sem bússola, fazendo um pacto semelhante ao do Paulo Coelho, mas havia errado a fórmula cabalística e ao invés de invocar o senhor do Mal, tinha invocado um ex-malandro da Lapa que, forçado a trabalhar graças à minha invocação, havia me castigado transportando-me para uma vida sem novas emoções. Isso, ou algo no gênero.  Eles preferiram a versão tradicional: carioca, formada em Letras, pesquisando as diferenças da colocação do pronome demonstrativo entre os romances cubanos e brasileiros etc, etc.  É de morrer de tédio, não?
E o que é que eu faço, então, com o meu bom humor e o meu sorriso?
Enfio em mais alguma outra "vida possível" e conto que sou o leite que o Chico derramou, por não conseguir prestar atenção na minha fervura… Vou sonhando, vou viajando, numa busca incessante de motivos que justifiquem o sorriso que me crucifica o rosto. Vou vivendo.
E aí termino dizendo para o Guido: tenha um pouco mais de paciência com os escritores em geral, e com o Chico e o Proust em particular. Principalmente com o Proust, cuja obra, difamada como coisa de uma "bichinha fútil, fazendo crônica social" é um dos melhores estudos da alma humana que já tive a oportunidade de ler. E peço um pouco de respeito para quem, a fim de escrever, desistiu de viver. Pois mesmo essa minha vidinha sem graça, sem emoções, sem atividades, como é a única que tenho, me é cara. É muito difícil abdicar de sair para passear, de ir ao teatro, de ir viajar, de encontrar com os amigos, para se dedicar, exclusivamente, a escrever. E mesmo quando a gente diz que quer morrer, que só pensa em morrer, talvez o que a gente esteja mesmo querendo é se observar "completo", pois só o fim permite que se compreenda o que passou. Proust ficou uns treze anos recluso escrevendo, e reescrevendo, obsessivamente, sua obra. Viveu por escrito.

Friday, April 03, 2009

Portugal Telecom

André me avisa que estamos inscritos para o prêmio Portugal Telecom. Ah, quem me dera!... Ele e eu vamos ficar torcendo para conseguirmos ser escolhidos nesta fase inicial. Passar adiante, chegar um pouquinho mais para a frente, ganhar uma extensão para nossos sonhos. Os dois irmãos em SESC desse ano também estão inscritos. Vou dizer o nome de nossos livros: Linha de sombra, é o meu. Paz na terra entre os monstros é o do André; do Maurício é Beijando dentes, e ainda tem o Zé Mizé, do Sérgio. Caso algum de meus leitores seja jurado do Telecom, ou tenha amigos jurados do Telecom (basicamente, todos os jurados são professores universitários e jornalistas culturais) favor lembrarem desses livros. E chega de campanha!
Só um comentário pequenino, pois ando muito sem tempo: Já li o livro do Chico Buarque, que gostei e que já emprestei e até já dei de presente – não admira que o livro se esgote, é um presente que agrada, pois todo o mundo quer ler. Do livro só não gostei do nome : Leite derramado. Talvez por que me lembre de frias manhãs do passado, quando, sonolenta, ficava encarregada de tomar conta da leiteira e acabava me distraindo e deixando que o leite se derramasse pelo fogão, sujando tudo, prendendo-se, queimado, do lado de fora da leiteira, deixando minhas manhãs infelizes, e fazendo meu dia ter um cheiro meio doce, meio azedo, forte e insistente, sublinhando outros cheiros mais felizes, como a hortelã da pasta de dentes, e a alfazema dos abraços mais queridos.
Bem, mas, como contei, emprestei para alguém que conhece a família do Chico, e que reconheceu a mãe dele direto. Sabia de que casas ele falava: essa de Copacabana, disse-me ela, ele só conheceu de ouvir falar, quando ele nasceu já não existia. Contou casos de exílios, de infância, de sonhos, de doenças – e repetia, está tudo ali. Mas ela foi categórica: não é um livro machadiano, como diz a crítica, nem proustiano, como eu me atrevi a dizer. Ela não achou nada de Proust ali. Eu, no entanto, achei que o trabalho da memória e as retomadas das histórias, que se repetem, e nas repetições revelam um novo aspecto, é muito proustiano. É um livro triste, livro de velhice e tristeza, de um olhar que se recusa a envelhecer, mas de alguém cuja decrepitude impiedosamente descrita só pode levar à aniquilação. Um livro maduro, bom de ler, sem complicar a vida do leitor, e cujo fantasma do ciúme (seria por aí que a crítica fala que é machadiano?) não leva à criação de uma Capitu, pois Matilde se desfaz, se esconde, desaparece como o leite derramado. E, no entanto, é um livro difícil! Ainda bem que tirei férias do Rascunho e não vou ter que resenhá-lo esse mês.
Para terminar, esta semana peguei um texto antigo de Cortazar, onde ele fala de uma viagem à Índia. Que show! Que diferença de Caminho das Índias!
Por falar na novela, quem é que aguenta ficar uma semana inteira no enterro do falso morto? Morre, não morre, prepara o corpo, desaparece com o corpo, e tudo que a gente queria era ver o festival das luzes e as danças, e quem sabe descobrir um lugar onde servissem comida indiana, para a gente balançar nossas pulseiras e exibir os brincos da Maya, que já estão à venda no Rio?
Enquanto isso, o tempo passa e eu perco meus prazos. Então bye-bye. Vou trabalhar. Sei que é noite de sexta-feira, mas para mim os dias ficaram perigosamente iguais. Então trabalho, que é o melhor que posso fazer.

Wednesday, April 01, 2009

Nobel de literatura vai para brasileira!

Finalmente! O mundo se curva ante o Brasil, e descobre nossa literatura! Infelizmente, esta é apenas uma brincadeira de primeiro de abril, embora, como toda brincadeira, com seu fundo de verdade. Parece que nossa Nélida, que não é brasileira, mas que não o deixa de ser, pois sendo galega é ligada ao Brasil pela língua, alegria e generosidade, é uma das candidatas ao prêmio deste ano. Vamos torcer por ela e fazer de nossa manchete de 1º de abril, uma manchete de 31 de março. Isso já foi feito antes, talvez alguns se lembrem ainda da "gloriosa", quem sabe?
Aproveito para relembrar meus amigos da Galiza. Quanta saudade do sorriso sempre aberto da Carmen, de sua incrível disposição para a vida, de sua capacidade de trabalho! E do poeta e fotógrafo e professor e conhecedor de café, o homem para todas as estações, Carlos Quiroga! E das peças do Quico Cadaval! E das conversas com tantos amigos e amigas nos bares e restaurantes (hmmm!), dos dias dourados em Santiago de Compostela, das ruelas onde os apaixonados se abraçavam com paixão, e enchiam meu coração de saudade!
Continuemos na literatura, vamos falar um pouco dos livros que ando lendo: Numa mistura doida, um coquetel sem método, sem motivações a não ser o mero acaso, junto ensaístas hispano americanos com Amós Oz e Chico Buarque. Já li o Leite derramado. Estou ainda lendo a Caixa Preta e salpico este preto e branco com o matiz intenso de Alfonso Reyes, Cortázar e Borges. Na fila, que sempre aumenta e nunca tem fim, estão Nélida, Nietzsche e Barthes. Me lembrei agora de Machado, que não está na lista, mas que é bem vindo a qualquer hora, dizendo que "quem mamou da teta gótica…", ou seja, quem havia se criado sob a égide romântica, não conseguia se separar dela. Pois eu fui "criada" com o leite derramado de Nietzsche e Barthes. Os outros (Derrida, Foucault, etc.) nunca me pegaram tanto como os dois primeiros, pois estes me pegaram pela emoção e os outros pela razão. Mal comparando, estes últimos seriam "amas-secas", e não de leite (viram o trocadilho? juro que foi acidental!). Daí que, ao ver um livro bonito relançado, não resisto, vou revisitá-lo. A capa do livro Wagner em Bayreuth é absolutamente sedutora!
Bem voltando ao retrato em preto e branco que vou criando a partir de Oz e Chico, enquanto um faz a rememoração de uma paixão, o outro faz reviver o desamor, que, por incrível que pareça, convive com muita facilidade com a paixão. E isto está evidente nos dois livros: ambos são histórias de amor acabado, e em ambos a gente vê que nenhum dos apaixonados jamais conheceu realmente o alvo de sua obsessão. Ambos falam de morte e solidão, de ciúme e de desencanto. Chico, sempre mais suave, terno, mesmo, valoriza as perdas e confere um encanto às falhas de memória, dando sentido à perda de sentido e ao vazio. Oz é cáustico: suas palavras doem, são letais. Falando do envelhecimento de sua ex-mulher, ele pinta um dos retratos mais aterrorizantes da velhice feminina. Nem vou copiar aqui, pois só relembrar o que ele diz me dá engulhos (será que me sinto tão ameaçada assim?). Mas não é justo falar aqui de um livro que ainda não terminei de ler. Depois comento mais. 
Quanto aos ensaístas, com que prazer vou lendo o texto inteligente e culto dos autores citados. E, com alguma surpresa, vejo que vou criando, sem maiores pretensões, meus próprios ensaios aqui na rede. Sou ensaísta! Ora, viva! Mas, brincadeiras à parte, começo a criar uma outra indagação: o gênero que os brasileiros tanto prezam, a crônica, é, no fundo, um ensaio. Vou ter que comentar isso na aula.
Para terminar: estou com um texto publicado numa outra revista eletrônica, a diversos-afins
O que chama a atenção logo à primeira vista nesta revista são as fotos. Gente, que beleza! E são da Leila que tem um fotoblog muitíssimo legal, e de um outro amigo. Fiquei entusiasmada! Parabéns, Leila! E obrigada por me chamar para fazer parte do grupo. Nesta "leva", como eles chamam, tem Maurício de Almeida, outro irmão em SESC. E muitos outros autores legais. Chamo atenção do Guilherme, meu amigo poeta lá de Maceió, pois neste site eles publicam poesia. No Histórias Possíveis ficou determinado que só prosa, poesia só quando for dos colaboradores regulares.
Bem, preciso ir. Deixo vocês na esperança que todos cliquem no endereço acima e se encantem com as coisas que encontrarem por lá.
E feliz dia da ficção! Pois a mentira, quando bem contada, é uma boa história!