Saturday, May 30, 2009

Juiz de Dentro (do meu coração)

Acabo de voltar de Juiz de Fora, onde descobri amigos novos, encontrei amigos antigos, e vibrei ouvindo falar de literatura. Gente, como gosto disso! Seminários, seminários, seminários... Passava o dia inteiro no auditório, e, quando terminava, uma sessão ainda mais divertida começava: os seminários no bar. Aquela mistura de receitas com filosofia, de moda com cinema, de fofoca com ciência. Ia dormir sem vontade, acordava sem precisar de despertador, sorridente, me sentindo parte de uma humanidade perfeita, de gente que sonha e analisa, que desmonta e constrói, que reparte leituras e mundos com uma generosidade onde o altruísmo se mescla com uma boa pitada de narcisismo. Conheci a Prisca, velha amiga do HP a quem nunca tinha visto. Ela se desculpou de não estar colaborando com o site, mas claro que não era preciso. Nossos momentos são, infelizmente, contados. Temos uma parca ração de tempo. Prisca investe na carreira, eu já estou, há muito, desencaminhada. Sem carreira a seguir, persigo sonhos. E vou acumulando saudades de tudo. Viva a UFJF!

Tuesday, May 26, 2009

Um café e a conta

Não fui entrevistar ninguém, nem mesmo ser entrevistada. Só me sentei ali porque havia uma mesa vazia e eu tinha tempo e um livro para ler. Pedi o café. Junto veio uma história, um sujeito apaixonado, reclamando de sua amada pelo celular. Depois de separados por um ano, um ano e meio (essa imprecisão me enlouquece, não funcionaria num conto!)  Ela topa sair de novo com ele. Foram jantar. Ele pensava em levá-la para cama (juro que tudo isso eu ouvi, e não tinha como não ouvir, ele falava alto, no celular, e sua cadeira estava ao lado da minha). Ela "conversou legal", mas de repente, danou de falar de um outro, o tal que ela namorou durante a separação. Mas ele não desistiu, queria levá-la para casa, transar com ela, pois era natural, depois dessa separação, afinal, ela o procurara, aceitara sair numa sexta à noite. Mas aí ela tomou dois copos de vinho e apagou. A mulher do outro lado, pois agora ele já tinha dito o nome da interlocutora, deve ter querido saber o que ele queria dizer com "apagou" e ele repetia, "apagou, apagou, passou a falar coisas desconexas, os olhos ficaram vidrados, apagou!" Mas ele não se conformou. Propôs saírem outra vez e a amada aceitou, mas no dia D disse que não tinha com quem deixar a filha. Mas o apaixonado reclamava: "Como é que ela aceitou sair e não fez planos para deixar a filha com alguém? Ela aceitou, e no dia quis desconversar, quis arrumar uma desculpa…"
Eu estava completamente fisgada pela história. O homem já era bem maduro, mais de sessenta, ele aparentava, mas se conservava, os cabelos estavam todos lá numa farta cabeleira grisalha, as mãos eram bem tratadas. Não vi seu rosto todo, só o perfil. Fiquei pensando que a mulher tinha que ser bem mais nova, para ter uma filha que precisasse deixar com alguém. Será? Mas aí ele disse que ela, naquela idade, não ia arrumar mais ninguém. Ou melhor, ia, sim, mas um tipo de gigolô que lhe tirasse o pouco que ela ainda tinha. 
Ele continuou falando e reclamando, querendo aquela mulher de volta. Estava claro que ele dizia tudo aquilo para que a amiga fosse intermediar, fazer as pazes dos dois. Mas eu sabia que não ia dar mais. Que mesmo que ela fosse para a cama com ele, ia ser só por cansaço, por desalento. Não era ele quem acendia suas pupilas, pelo contrário, ele as apagava. E, na verdade, quem é que ia querer um homem que ficava assim no celular, contando tudo o que se passara entre eles, deixando que uma bisbilhoteira ficasse acompanhando a história feito novela? Paguei minha conta e vim para casa, escrever. Ele continuou, se queixando, insistindo. Eu aposto que a amiga, do outro lado do celular, já estava quase apagando!

Monday, May 25, 2009

Twitting

Cara, entrei no twitter! Não aguentava mais saber que todo o mundo andava brincando com uma coisinha nova, menos eu.  Consegui entrar, consegui colocar uma foto e já tenho até seguidores. UAU! Agora, a pergunta que não quer calar: será que vou brincar muito com isso? Até que tenho dado as caras no facebook, mas essas coisas tomam muito tempo da gente. Tempo que me falta para ler e escrever e ir ao teatro e ao cinema, essas coisinhas básicas. Bem, fui ao cinema, ver Desejo e perigo. Bom filme, com uma história tão bem urdida que a gente não se desliga dela nem mesmo nas tórridas cenas de sexo. (Comentário que ouvi de uma amiga: "A Fulana disse que tinha posições que ela não conhecia… acho que ela está pensando que faz sexo, mas faz é outra coisa!")
Fui ao teatro assistir a peça da Susana Fuentes, que ela escreveu e ela mesma representa. Fiquei impressionada! Bem montada, com um texto poético e engraçado, e recursos teatrais explorados com muita elegância. Fiquei amiga do sumido Ramón, da vaidosa Rodinha e do Balão das lembranças. Me encantou a música tocada no acordeão, com seus gemidos que soam tão franceses, românticos. E ela também toca flauta, improvisa uma banda de circo com a platéia, envolve a todos com a magia do palco. Foi uma ótima noite. Prelúdios, chama-se a peça, e ontem foi o último dia, mas vamos torcer para ela ir para outro local, encantar mais gente!
Também li o livro do Leandro Resende, finalmente! Estava comigo há meses, mas entre viagens e trabalhos atrasados, ia adiando, certa de que ele compreenderia a demora. Agora li, e adorei. Meu companheiro de Histórias Possíveis, alguns dos contos eu já conhecia de lá. Mas os que ainda não tinha lido me surpreenderam com suas inovações, o caráter telegráfico de textos que vão sendo lançados de um lado a outro, construindo um painel que os ultrapassa, tudo muito legal. Estou muito contente por ele. Adoro meus amigos!
Para terminar, um poema de Chico Buarque de Hollanda, Soneto. É uma letra de música, mas vale sozinha, assim, e espero que inspire a semana de todos.

Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio

Saturday, May 23, 2009

Aviso aos navegantes

Gente, recebi uma coisa incrível da Gerusa, amiga de Pernambuco (Ah, Recife, cidade dos meus amores…) e coloco aqui o link para vocês poderem imaginar;
Trata-se do I leilão de manuscritos. Quem dá mais? Eu dava tudo para poder estar lá assistindo. Infelizmente, não tenho manuscritos. Não escrevo a mão. Meus originais estão nos arquivos de GZK (sabe a brincadeira do Kubrik? HAL era o nome do computador revoltado, que tinha sido batizado com as letras anteriores a I-B-M, daí que, supondo que o alfabeto forme uma roda contínua, o meu computador imaginário se chama GZK, letras anteriores a H-A-L). Voltando aos manuscritos – lindos, pessoais, verdadeiros quadros – acho que devia copiar meus livros a mão, em folhas soltas, de boa qualidade, e depois… não sei, talvez forrar as paredes com elas. Isso é um projeto para depois, um dia que me sobre tempo. Ou que me falte inspiração. Por enquanto corro atrás das tarefas, que abandono de vez em quando para escrever historinhas novas. Daí que na quarta-feira, dia 27 de maio, o blog do Prosa vai postar (acho que não cabe publicar, mas talvez caiba) um conto meu: Lorelei. Escrevi especialmente para o Prosa, me sentindo muito feliz e completamente "prosa" pela chance de participar do espaço.
Aqui vai o link, para vocês já colocarem nos favoritos e irem sempre até lá:

Thursday, May 21, 2009

Vãos pensamentos, dores igualmente vãs

http://www.youtube.com/watch?v=XwrDPucMO4k

Quem clicou já pode ver o meu estado de ânimo nesta manhã de maio. Creio que estou ficando cliclotímica ( não é esse o novo nome para bi-polar?) Um dia, eufórica ( bem, nem tanto) com as notícias da brasiliana, outro deprimida e desanimada.  Bem, mas hoje é meu dia de UFF, preciso funcionar, daí que vou à luta.

Wednesday, May 20, 2009

Brasiliana, José Mindlin e Zezinho

Não sei do que falar primeiro: Dr. Mindlin e  sua incrível simpatia e paixão compartilhada? A Brasiliana, orgulho de nosso país, apresentada ao mundo todo? Ou o Zezinho, esse incrível robot, criado para ler livros e compartilhá-los? Acho que fico com o Zezinho, que eu aperfeiçoaria e já o conectaria com um chip na minha cabeça, e me alimentaria, incessantemente, com páginas de histórias e Histórias, de sabedoria e diversão.  Quero o Zezinho! Mas, será que o prazer da leitura poderia ser substituído pelos implantes de chips? O processo de decodificação dos textos não seria a fonte de todo o prazer de ler? O que nos atrai na leitura, o ato de ler ou o conhecimento da história? Acho que é da combinação das duas coisas que nasce esse prazer (como, talvez, todos os prazeres – estímulo e estimulado). Daí que meu pensamento-borboleta já se dirige a outra flor colhida no jornal da manhã: o movimento dos sem-namorados. Combino-o com a entrevista que assisti, outro dia, a uma médica que se dedicou a estudar o cérebro dos apaixonados, e traduz paixão em dopamina, serotonina e outros "inas". Ela escaneia cérebros de pessoas apaixonadas e tira suas conclusões a partir das partes dos cérebros que se iluminam. Fico pensando (estou muito cibernética, hoje) num novo cartão para o dia dos namorados, onde apareça o catscan do remetente e as palavras: meu cérebro se ilumina quando te vê, ou quando pensa em você ( a versão visual é para os remetentes do sexo masculino, a outra é para os remetentes do sexo feminino, pois, no estudo, a Dra. descobriu que as mulheres amam através da memória, e os homens através da visão). O mais incrível de tudo é que ela gosta de poesia, essa doutora, diz ser uma apaixonada leitora de poesia. Voltamos, assim, ao Dr. Mindlin, que, enquanto sua esposa foi viva  e ele ainda enxergou, todas as noites lia poesia para ela. Na sua simplicidade, ele dizia: ela gostava de escutar poesia, e eu de ler poesia em voz alta, era um casamento perfeito. Ah, Dr. Mindlin, o senhor nem pode imaginar como o meu cérebro se ilumina ao falar do senhor. Pois não deve ser só a paixão que provoca belas cores em nosso catscan, mas a amizade e a admiração também devem ter as suas luzes especiais. Gosto do senhor e da sua família, adoro um dos livros da sua filha Betti, Muqueca de maridos, imperdível recompilação dos mitos de origem do ponto de vista feminino (a Betti é antropóloga). E deixo aqui, para meu publiquinho pequeno, mas fiel, e que tem se ampliado com a adesão do David e de outros recém-chegados cujos nomes ainda não decorei, mas que são muito benvindos, o agradecimento pela Brasiliana.

Sunday, May 17, 2009

Domingos de sol

Adoro essas manhãs preguiçosas de domingo, quando o sol nos convida a um passeio, mas o corpo, preguiçosamente, se recusa a sair. Ficamos, então, passeando apenas em pensamento, o olhar comprido mergulhado no azul, nos azuis que competem em beleza entre si. Meus leitores devem ter percebido o quanto me agrada a cor azul. Agrada tanto que não titubeio em pintar de azul os olhos de meus personagens. Volta e meia aparece um de olhos azuis, o que não significa que a cor imaginada seja mesmo azul. É o espírito de alguns olhos que são azuis. Meu amor tinha olhos azuis, embora os dele fossem castanhos, escuros. Mas ele tinha essa qualidade de olhar, olhos que, ao olharmos dentro deles, nos mostram surpresas, abismos, liberdade e sonho. São olhos que nos convidam a aventuras, ao mundo. Não hesitamos em aparelhar nossas naus e partir. Ou, mais impacientes, largamos tudo e mergulhamos, em ondas que nos sustentam e nos trazem, sãos e salvos, para a praia.
Passeio no barco que tivemos juntos e ancoro, mais uma vez, entre as Cagarras. De lá julgo me ver aqui nesta torre, prisioneira, desejando quem já partiu. Vejo-me a me contemplar, e me pergunto se algum dia alguma lágrima desceu pelas minhas faces salgadas, apiedada. Mas sei que não. Ao lado dele, julgava que o que via era uma miragem, impossível de acontecer. Nas minhas faces apenas os seus lábios deixavam traços doces, desenhando um mapa de meus prazeres.
Imagino beijos, borboletas, pássaros e nuvens se desfazendo no azul. Sonho com o nada. Azul.

Friday, May 15, 2009

Frases que ando lendo - o retorno

"No 'homem cordial', a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência".
Todo mundo conhece o termo, mas acho que poucas pessoas leram o excelente Raízes do Brasil, do pai do filho famoso, Chico. É engraçado ver como gerações diferentes identificam as pessoas de maneiras diferentes. Tenho amigas mais velhas que falam daquele menino, o filho do Sérgio, ou, até mesmo, o filho da Maria Amélia. Para consumo atual, temos que falar no cara que é pai do Chico Buarque. 
O Sérgio ( e aqui se manifesta minha cordialidade, afastando o nome de família) não é o pai do termo, cunhado por Ribeiro Couto. Mas é o pai do homem menos cordial da história do Brasil: seu filho preserva sua intimidade, é polido, civilizado como um japonês, pouco expansivo nos seus atos - embora seja dos mais expansivos nas suas obras. Somente as palavras do Chico são cordiais, e nos aproximam de seu coração dele. (Essa construção meio arrevezada, tirei do José de Alencar, não é erro, não.) De uma certa maneira, também é pai do "My man cordial", já que foi um dos fundadores do PT, e o PT floresceu em Lula, personificação mais perfeita do homem cordial tal como explicado por Buarque de Holanda. Essa sacação da cordialidade do Lula não é minha, é de Lívia Reis, minha orientadora e amiga de toda a vida.
Voltando às amigas mais velhas, uma delas contou um comentário de D. Maria Amélia (que já vai chegando aos 100) sobre o filho: "Ainda bem que ele não entrou em decadência." O que será que ela quis dizer com isso? Eu agora vou me labirintar com Borges, lá no TELEZOOM. Bye!

Wednesday, May 13, 2009

Fotos no facebook

Oi, Turma.
Consegui. Postei algumas fotos no Facebook. Vou ver se consigo postar outras. E depois vou ver se descubro como vocês podem ir até esse tal de Facebook, se é que vocês ainda não sabem.

Frases que li hoje

Hoje estava lendo A Prisioneira, de Proust, e ele descreve Albertine como um ser em fuga, uma amante que lhe escapa entre os dedos e que por isso mesmo ainda se torna mais desejável. Aí está o cerne do amor e do ciúme em Proust: a incapacidade de se possuir o que se deseja, pois só se pode desejar aquilo que não se possui. Os amores serão sempre infelizes, em Proust, e desencontrados. Uma gangorra amorosa, pois quando um deseja o outro se escapa, e quando o outro deseja, o um já não o pode amar…
Outra descrição digna de nota são os "olhos fragmentados". Fiquei lembrando de Machado. Num, o perigo, noutro, a desconstrução, quase pós-moderna. Olhos fragmentados: uma escolha vocabular tão inesperada, que nos obriga a pensar que, afinal, Picasso já estava pintando e fazendo sucesso nesta época. Quando foi que o mundo passou a ser visto como um caleidoscópio? O impressionismo, o fauvismo, o cinemascópio, tudo isso revelava uma nova maneira de olhar, que nos afastaria cada vez mais da UNIDADE. Um mundo que se desfaz, visto por olhos fragmentados. Impossível harmonia, como diria Alejo Carpentier, anos mais tarde, em seu Concerto Barroco.
Bem, depois de amanhã tem mais um encontro no Telezoom. Mais labirintos, desta vez, espero, com o powerpoint funcionando direitinho. Meus slides estão bem bonitos. Os contos que escolhi para comentar são excelentes. Tomara que tudo dê certo.
 Agora vou a Mariátegui, a Sérgio Buarque de Holanda, a Nélida Piñon. Mistura de UFF e Rascunho que vai ampliando a fragmentação de meu olhar.Pois, foi com Mário de Andrade que aprendi que é preciso ser trezentos, ser trezentos e cinquenta.

Tuesday, May 12, 2009

Beleza pura

Tanto trabalho, tantas leituras, mas não resisto: não tenho tempo para escrever, mas coloco aqui um mimo, como diriam Marco Polo, Breno, José Manoel e meus amigos de Recife:
O que eu queria mesmo era já colocar o vídeo, para vocês já irem se deliciando, mas vale o link, que é a única coisa que sei postar.
Deleitem-se. Escutem em pensem  nos amores de suas vidas. E ofereçam para quem merecer. Eu ofereço a vocês, meus leitores, com emoção.

Saturday, May 09, 2009

Facebook, dia das mães, idéias desconexas

No meu proverbial desajuste internético e computadorial, vou levando uma vidinha não de todo desconectada. Capenga e surpreendente, decerto, mas muito melhor do que a alternativa:
Escrever à mão, por exemplo, para mim é uma dificuldade: minha letra pequena (mínima, dizem alguns) e pouco caprichada se torna ininteligível até mesmo para mim. E tenho a mania de só escrever com lapiseira 0,5 mm, com mão leve, delicada, sem deixar marca no papel (me corrigiram muito para que isso acontecesse). Resultado: o pouco que consigo ler, em breve torna-se apagado e desaparece.
Escrever à máquina também não me serve. Meus dedos fracotinhos, que nunca conseguiram aprender a arte da datilografia, se intrometem entre as teclas e se ferem. Houve um tempo em que eu ostentava band-aid em quase todos os dedos da mão direita ( o polegar escapava) e no indicador e dedo médio da mão esquerda. 
Tenho um caso de amor com computadores, mas é um amor mal-correspondido. Eu o amo, tento seduzir, ofereço o que tenho de melhor, mas ele me maltrata, indiferente aos meus carinhos. No entanto, malandro, me dá sempre o suficiente para que eu não abra mão de nosso caso.
De vez em quando troco de "amante", mas eles todos são da mesma laia. Esse agora, um Apple, tem a vantagem de ser lindo. Artístico! Me dá vontade de experimentar com um monte de coisas para as quais não tenho tempo (nem talento, diga-se de passagem). Ele brinca comigo, oferece coisas que não pedi, mas que são fáceis de usar, então acabo indo na dele. Mas, na hora do trabalho, ele às vezes, me prega uns sustos, mudando de tela, num jogo de esconde-esconde. Como estou falando de Borges em seus labirintos, penso que também estou num labirinto e que ajo como uma Ariadne louca, sem amarras, mas também sem Minotauro que me apavore. Me deixo encurralar em alguns becos, mas depois, com calma, encontro o caminho a seguir…
Bem, quero comunicar a todos que entrei para o Facebook. E para o Plaxo. Legal? Não faço a menor idéia. Durante anos tive (acho que ainda tenho) um Orkut, mas não sei o que fazer com ele. Linkei o Plaxo e o Facebook. Para quê? Também não sei. Tinha essa opção, e achei que seria legal. Deixo o Facebook vigiando o Plaxo e vice-versa. Meus amigos devem achar que vou usar isso à beça. Bem que eu gostaria.
Num dos dois, já esqueci qual, aparece meu estado civil. Não havia a opção viúva, daí que apareço como solteira, com um coraçãozinho vermelho vibrante do lado. Se houvesse a opção viúva, será que apareceria um coração partido? 
Voltando ao Facebook, parece que todo o mundo se comunica por ele e pelo tal do twitter, que desconheço. Acho que estou lascada. Mandam fotos, informações, trocam juras de amor, enviam documentos, e eu mal consigo manipular meu imeio. Como é que vai ser? Onde vou arranjar tempo para ler tanta coisa, escrever, publicar, encontrar URLs, fazer uploads, inserir filmes, etc, etc? Aprendo uma coisa e já me soterram com novas necessidades.
O pior é que as necessidades do passado não desaparecem. Daí que não vou poder celebrar o dia das mães pela internet. Vamos celebrar ao vivo e a cores, em duas reuniões, sábado e domingo. Em compensação, já coloquei todas as fotos no computador, graças a um "chupa-cabra" que descobri e adquiri, feliz por não precisar mais do meu filho para isso. Gosto de autonomia. Agora só preciso descobrir como colocar as fotos do Pantanal e da Chapada no Facebook. Aí terei colocado, finalmente, meu pé no século XXI!
Para terminar, coloquei minha foto, tanto no Facebook quanto no Plaxo. Numa estou me escondendo atrás de meu livro emblemático. Noutro estou sendo atacada pela natureza em fúria, personificada pelo Chico, uma macaquinho safado, que queria roubar meus óculos de leitura. E roubou! Tive que fazer mil acrobacias e trapaças para conseguir de volta os meus olhos.
Bem, se algum de meus leitores souber como utilizar essas duas maravilhas internéticas e quiser me ensinar (sem muitas complicações) para que servem, agradeço.
Feliz dia das mães, para quem o for, para quem as tiver, para quem não está nem aí, mas quiser curtir um belo domingo.

Friday, May 08, 2009

Dendrolatria


Tinha uma lista de coisas sobre as quais queria escrever, mas o tempo não estica e eu, indo de um lado para o outro no espaço, só me desloco num único sentido no tempo (isso foi tema de minha aula hoje no Espaço Telezoom: Labririntos de Borges).  Como o tempo não estica e se desloca num único vetor e eu estava no carro ou pelas calçadas do Leblon, não anotei as coisas e acabei me esquecendo delas. Uma, porém, consegui gravar, pois munida do celular e de meu inepto talento para as fotos, registrei em imagem que agora compartilho com vocês, queridos e desconhecidos leitores: 
Ao parar para atravessar uma rua en

contrei uma árvore florida, bela em sua singela oferta de cores e vida a uma rua do Leblon.
Quem saberá me esclarecer dos mistérios da internet?
Estou desde ontem tentando postar esta foto, e agora que consigo, tudo muda.
Estou escrevendo da direita para a esquerda, as letras saem numa cor que não escolhi, acho melhor parar e continuar em outro post.
Bye.

Thursday, May 07, 2009

Lady Frankenstein

Vejo uma imagem e as idéias me assaltam. Estamos presenciando a criação de Mary Shelley nos vídeos do mundo afora. Costurar, colar, unir pedaços de gente que já se foi, e pedaços de gente que por aqui ainda anda. E essas colchas de retalhos falam, nos emocionam, nos assustam e nos empolgam. Mary, será que ao lermos tua história hoje em dia ainda nos assustaremos? Ainda sentiremos algum arrepio na nuca? 
Penso numa época em que a esfera era sinônimo da perfeição. Como tal, era sagrada. Falar do círculo ou da esfera era falar de Deus. Com o tempo, o divino foi perdendo sua substância, até que Aristófanes, o engraçadinho grego, fez piada com isso, cortou-os ao meio, combinou-os por gêneros, explicou amor e homossexualidade com essas imperfeições marcadas pela sua cicatriz.
Agora explicamos a vida toda através da cicatriz. O monstruoso torna-se assombroso, e nem mesmo isso: engenhoso, apenas. Olhamos por alguns segundos, e já pensamos em outras coisas, em enchentes, em secas, em aviões que caem, em países que desmoronam. Nem lembramos do nome do criador nem da criatura. Mary, acho que já ninguém compreenderá o susto que tua história gerou. Hoje tua criação é pasto para possiveis engraçadinhos pós-modernos. Mas a pós-modernidade não sabe rir de si mesma. Leva-se muito a sério, sem sonhos nem delírios. Exibe a realidade e a fragmenta, como criança entediada que após construir a torre de Lego a desfaz, procurando uma nova distração. Em algum lugar de minha lembrança, tão fugaz, grava-se a lembrança desta Lady Frankenstein. Dizem que ela sorri, testemunham sua fala e seu júbilo. Eu não vi nada disso. Vi a cicatriz. Olhei os olhos de um ser solitário, criado pela mão humana, após ter sido destruído por mão desumana. Vi uma solidão. Que se multiplica em outros assombros, em mais antigas engenhosidades. Pergunto-me: para quem Mary Shelley contaria sua história nos dias de hoje?

Tuesday, May 05, 2009

Paris e a plástica

Pronto! E essa agora? Acabo de saber que estão pensando em mudar a cara de Paris… Fiquei sem saber o que pensar, e então resolvi filosofar sobre cirurgia plástica. Conheço dois tipos de mulheres muito bonitas: aquelas que estão sempre pensando em melhorar um pouquinho, submetendo-se a todo tipo de cirurgia e tratamento, e outras que dizem que não suportam a idéia de deixar que alguém corte e costure seus rostos. Achei que Paris era deste último tipo, daquelas madames que juram que não fizeram plástica mas que, nas encolhas, deram uma suspendidinha aqui, uma esticadinha ali, tudo muito discreto, com elas cheias de medo de que alguma coisa não dê certo, mas sem resisitir a tentar manter sua beleza. Agora vejo que Madame quer se submeter a uma cirurgia radical, a famosa cirurgia macacão, da qual não escapa nada.  Uma reurbanização. Isso porque, na meia idade, bem, ali pelo século XIX, Madame, na época casada com Napoleão III, não resistiu e contratou o famoso cirurgião urbano, Barão de Haussmann, para lhe fazer uma plástica radical. Suas irmãs, pelo mundo afora, seguiram seu exemplo. Aqui no Rio, o cirurgião contratado foi o Pereira Passos. Confesso, tanto Paris quanto o Rio ficaram lindas, mas Paris conservou o trabalho de seu cirurgião, enquanto o Rio danou-se de fazer modernizações e a bela Avenida Central desapareceu. Hoje, a Rio Branco, praticamente não tem mais nenhum dos prédios do início deste século. Sobrados pelas redondezas caem ou se incendeiam, ou são dilapidados pelo descuido de seus proprietários. Quando a gente vê esforços como os do pessoal da Rua do Lavradio, até se admira. 
Semana passada fui a um prazeroso encontro na R. Sá Ferreira, na Casa Vuillot (acho que é este o nome), uma casa construída por Virzi, o mesmo arquiteto da Mansão Martinelli. Confesso que, embora tenha sido moradora do posto 6 por muitos anos, não conhecia a casa, nunca tinha notado aquela construção esdrúxula, que se projeta em ângulo, como uma ponta de seta agressiva. Hoje, graças à Prefeitura, a casa foi toda reformada e virou uma biblioteca. Somente ao entrar reconheci o encanto que a construção possui. Misteriosa, submarina, com cantos e recantos em ângulos agudos ou retos, mas nem porisso menos evocadora de um útero (um útero projetado por um engenheiro, pode ser), oferecendo a possibilidade de vida, de um renascimento, que agora se concretiza ao ser transformada em biblioteca. Foi um presente que minha querida Rachel nos ofertou, mais um tesouro escondido dos muitos que ela possui, e que divide, generosa, com seu grupo.
E, no entanto, apesar de meu aparente saudosismo, também gosto de apreciar as novas construções. Toda semana, quando vou a Niterói, me maravilho com o perfil dos prédios no centro da cidade. Passando pela Perimetral (pois assim visito todas as belezas da orla), sempre me encanto com o contraste entre o moderno e o antigo, no reflexo do prédio antigo nos espelhos do arranha céu a seu lado. Olho para o mosteiro, escondido ali sobre seu pequeno monte, e imagino o que não pensam aquelas paredes que viram a cidade crescer. Parece um avozinho, maravilhado com netos altos e fortes, que já nem falam mais a mesma língua…
Não quero me estender muito mais, porém recordo um tempo em que a enseada de Botafogo e o próprio Aterro eram circundados por cartazes luminosos, que amenizavam os longos engarrafamentos dentro de ônibus calorentos. Eu lia e relia as manchetes de um jornal luminoso, precursor da internet, informando-nos das últimas novidades, exasperando-nos com a temperatura, e mostrando, implacável, a passagem do tempo. Ou me distraía olhando o balé das cores das lâmpadas que se acendiam e apagavam, ora azuis, ora vermelhas, ou verdes, ou brancas, ou amarelas, nos cartazes de tantas empresas desaparecidas.
Mas chega de saudade. Deixo de lado a lenda do palacete Martinelli, já abandonado, quando eu passava por ali. E outras memórias, mais modestas, dos mosaicos das calçadas, dos vendedores de cataventos coloridos, dos parques com fontes em que se podia matar a sede... Fico aqui no meu Leblon, que já foi só de casas, no alto de minha torre, olhando minha nesguinha de mar. Hoje água e céus estão prateados, tão diferentes do colorido de ontem que até posso acreditar em gênios que, durante a noite, transportam cidades inteiras para lugares bem distantes. Estou, talvez, às margens do Sena, na nova Paris…

Sunday, May 03, 2009

uma notícia triste

Leio no jornal sobre a morte do Boal, o criador do Teatro do Oprimido. Quantos sonhos morrem quando morre uma pessoa? Boal, creio eu, levou esperança e compreensão a tanta gente, aqui e pelo mundo. Iluminou um pouco a minha juventude, deu esperanças ao meu idealismo, `a minha vontade de fazer algo pelos nossos irmãos – só em nome, infelizmente.
Nos dias assim tão lindos a morte nos parece tão distante, que é difícil acreditar que haja gente morrendo. Principalmente Gente assim, com maiúscula, que tocou corações e mentes e que eu gostaria que nunca fosse esquecida.
Como diria Drummond, ele (e nesse pronome cabe tanta gente!) agora é apenas um retrato na parede. Mas como dói!

O tempo passou na janela...













Caraca, mano! Há quanto tempo não escrevo. Já estamos em maio, o mês mais cruel já passou (T.S. Eliot), chegamos ao mês das noivas, das mães, de Maria, e eu num silêncio beneditino, trabalhando em coisas de literatura, me preparando para as aulas da UFF que assisto sem passividade, e para as aulas que dou para meus grupos queridos.
Falei em tempo passando na janela e olhei para fora, para ver o dia lindo, espetacular, um verdadeiro dia de maio, com sua luminosidade especial. Mas, enquanto vejo coisas belas, penso nos e-mails com que meu amigo Márcio F. me presenteia todos os domingos: e-mails de arte, sempre com belas imagens e informações interessantes. Hoje, a propósito do dia, ele me mandou as gravuras que roubei para ilustrar minha postagem. Três de maio, chamam-se as pinturas acima. Um dia tão violento, que marcou a imaginação de três grandes pintores, mas que hoje se apresenta numa versão calma e suave, cheia de beleza e, me parece, aqui do alto de minha torre de concreto, de paz.
Estou sumida do mundo, mas não deixo de amar meus amigos, em silêncio. Neste post homenageio a todos os que não têm recebido uma palavrinha minha, mas que não saem de meu coração: Para umas, o caraca, mano, private joke. Para outros, as imagens, para mais algumas, o Eliot. Para o meu amor, a lembrança de outros dias de maio, cheios de menções a Baudelaire... Para meus leitores, meu coração, que bate sem esperanças, mas que não se cansa de contemplar o jardim!
Só para terminar, mais uma bela imagem de uma fotógrafa inepta, mas sortuda: