Tuesday, January 27, 2009

Apocalipse

Fui ao teatro, assistir à peça do Domingos de Oliveira, na Laura Alvim. Não vou fazer "entrevista", outra vez, pois todos já estamos convencidos de minha chatice -- só respondo com reticências! No entanto, sei que, dessa vez, não seria esse o caso. Fui ao teatro e adorei tudo -- desde o clima de teatro de verdade, um clima de festa, de expectativa, de alegria até a platéia, onde se destacava, como uma jóia, o Paulo José.
Pois é, ele estava lá, com um ar frágil, mas com a mesma intensidade no olhar, e com um prazer que ele demonstrava nas menores atitudes: sentado na ponta da cadeira, olhos fixos no palco, respondendo às perguntas atiradas à platéia pelos atores, batendo palmas, sorrindo.
Acho que o teatro é um meio mais generoso que o filme. Os olhares de cumplicidade que trocamos com os atores -- que provavelmente nem estão nos vendo, mas que parecem olhar só para nós, no meio de tanta gente -- nos fazem ter a impressão de que a peça depende de nossa resposta. E, na verdade, depende. É como uma aula, que depende sempre dos alunos. Um caminho de mão dupla, uma parceria no agora.
Fico imaginando os teatros de antigamente -- todo aquele povo, a cidade inteira, a bem dizer, e as atenções dispersas, como num jogo. Seria assim? Ou o caráter sagrado que o teatro tinha levaria as pessoas a se comportarem com mais cerimônia que a indisciplinada platéia elizabetana?
Nossos modelos de hoje em dia vêm do século XIX, muito mais comportado e rígido que o passado. Um povo controlado, aplaudindo nas horas certas, vaiando, também, mas só quando combinava vaiar, por causa de alguma coisa fora do próprio teatro.... Mas, uma coisa que já notei que se passa nos teatros de hoje é a confusão de teatro com comédia. Podemos estar assistindo um drama dos mais tristes e cabeludos que, invariavelmente, escutaremos alguém rir. E não é de nervoso: é de incompreensão, mesmo. O dito que deveria provocar um pequeno alívio, um sorriso irônico, assim, meio de lado, provoca é a gargalhada daqueles que querem provar que não perdem nada, que sabem escutar e que estão ali para se divertir... Mas o apocalise do Domingos era mesmo uma comédia, e queria nos fazer rir, um riso inteligente, filho daquele de Gil Vicente que dizia "ridendo castigat mores". Rimos com ele, com seus personagens, rimos dos exageros, mas, ao invés de nos afastarmos do que se passa no palco, percebemos como tudo aquilo nos diz respeito. E, felizes, saímos com nossa crença na Vida, renovada.

Sunday, January 25, 2009

Engano...

Acordo, outro dia, e vejo em meu celular uma mensagem, torpedo, como chamam, me agradecendo a noite de amor!
UAU!
Sei que não era dirigida a mim, essa mensagem carinhosa. Alguém, na emoção ainda não desfeita, digitou um número errado ( Sei que existem outras hipóteses medonhas, como um número propositadamente informado errado, mas sou otimista e romântica, afasto logo essa idéia da cabeça). E, como um presente, leio e releio essa mensagem que chega do "além" para me alegrar. Pois o amor é generoso, basta nos roçar assim de passagem para que a gente se sinta um pouco mais feliz.
Ia guardar isso em segredo, mas lembrando que meu dia ficou um pouco mais feliz, um pouco mais ensolarado, achei que devia compartilhar com vocês esse acaso, e até propor uma "ONG das palavras amenas" -- A cada dia, mandaríamos, aleatoriamente, uma mensagem carinhosa para alguém que não conhecemos, cujo número elegeríamos numa loteria, comandada pelo destino.
Claro que, pensando melhor, desisto dessa prática que pode acarretar muito mais dor que prazer:
Imaginem a namorada vendo a mensagem no celular de seu amado, e, desolada, rompendo com ele por sua infidelidade. Ou o senhor indignado que telefona para o número registrado a fim de tomar satisfações, ou, ainda, a pessoa pegajosa que pode estar só aguardando essa mensagem para depois ficar ligando até te obrigar a mudar de número!
Vamos, então, mudar um pouco nossa ONG hipotética: Mandemos, a cada dia, um torpedo para algum conhecido, mesmo, com alguma coisinha boa sobre essa pessoa.
Só que aí ficaremos tão chatos como aqueles caras que nos entopem nossa caixa de mensagem com mensagens edificantes.
Esqueçam.
Mas, se por acaso receberem um torpedo errado, agradeçam ao acaso e não briguem com seus namorados nem esposas. Riam, e saboreiem o engano, essa ficção plantada no meio de nossa realidade.

Saturday, January 24, 2009

Filmes que ando vendo

Como meus leitores habituais já sabem, não sou organizada. Admiro os blogs perfeitos de outros e outras, que têm formatos de revista, separam seus assuntos em pastas, classificam. Eu vou jogando tudo aqui, numa espécie de diário, que não impõe forma, nem assunto, nem mesmo ordem. Então, hoje, sábado, não vou colocar uma poesia, como o faria a Adriana. Indisciplinada, preguiçosa e bagunceira, vou falar de filmes que assisti, anteontem e ontem.
Benjamin Button e Austrália -- os dois no cinema Leblon. Eu mesma me entrevisto:
-- Gostou?
-- ...
Bem, as reticências já revelam que estou indecisa, que os filmes não me provocaram uma reação forte e apaixonada. Fui ver o Benjamin porque sabia que era uma adaptação de um conto do Fitzgerald, e porque, há muito tempo, ando brincando com uma história de uma mulher que pára de envelhecer, enquanto seu marido continua. Juro que não tinha lido o conto e fiquei curiosa com o assunto. Fui ver o filme e acho que alguma coisa não funcionou, e talvez seja o compromisso com a realidade que a história, fantástica, deseja criar. Do conto original, sobrou muito pouco. Pouquíssimo, na verdade. Talvez só o nome do personagem. E aí veio toda aquela leitura de o tempo andar ao contrário, para se ter de volta os filhos perdidos na guerra. E mais aquela baboseira de uma criação de maquiagem que transforma o velho num monstro, um etzinho meio simpático, meio bobo que distrai e dilui. E aí, outro grande problema, o filme transforma a história numa história de amor através das idades, e cria uma "elevação sentimental" que talvez agrade a alguns sonhadores, mas que não satisfaz como proposta -- um amor sem conflitos, ha, quero ver! E tem mais, lembrando do sucesso de O paciente inglês, criam uma maquiagem de Ninja Turtle para a pobre Kate (Blanchett?) e um livrinho gasto para substituir o Heródoto, e põem a pobre da Julia Ormond ( que bem poderia ter recebido uma maquiagem mais amena) substituindo a doce e sempre bela Juliette Binoche.
Continuo a entrevista:
-- A que você atribui as 13 indicações ao Oscar que o filme recebeu?
-- ...
Outra vez reticências? Vou mudar de entrevistada, pois eu sou muito ruim para responder. É bem verdade que meu desconhecimento técnico e teórico de cinema não me permitem criar uma teoria mirabolante. Mas, por mais que eu vire e revire as imagens do filme em minha cabeça, não imagino porque alguém quereria premiar esse filme. Para mostrar que no quesito maquiagem eles continuam fazendo a mesma coisa? Para indicar que nas histórias adaptadas ninguém liga para a história original? Para revelar que estamos vivendo num mundo em que os negros já não são mais retratados no cinema americano como seres inferiores e incapazes de cultura, mas que continuam fazendo papéis de empregados fiéis? Para impor uma visão conciliadora e romântica do mundo? Para demonstrar que a montagem do filme, ao invés de fazer um trabalho ágil, agora procura nos anestesiar com histórias que duram mais que o interesse que podem suscitar?
Não me entrevisto mais, e aproveito para dizer que esse Oscar de filme mais longo do ano tem um concorrente de peso: Austrália. Neste "épico"que vem colocar o " creamy " não mais como um ser inferior e incapaz de cultura, no entanto, relegado a papéis de empregados fiéis -- é, além do mais, me repito muito, mas não é culpa minha! -- vemos a história, sem força, se socorrendo de artifícios técnicos que já eram usados nos tempos de Vivian Leigh. Austrália também vai concorrer ao Oscar de desmaquiagem, eu acho -- tirando do herói sua condição de lobisomem e forçando-o a representar, nos relembra um título do Lara -- bonitinho, mas ordinário. O corpo perfeito, os dentes tratados, as roupas justas realçam a falta de expressão, o convencionalismo, essas coisas que antes pretendiam ser evitadas. Enquanto isso, aquele espantalho que querem nos impingir como sendo a Nicole, faz caras e bocas, pinga colírios para avermelhar os olhos, e tenta, tenta, tenta mesmo nos fazer lembrar de outros filmes. Costurando tudo, os sorrisos adoráveis do creamy, as tomadas misteriosas do King George, que nos lembram nosso saci pererê, os horrores da guerra, a cobiça, o preconceito, o ser humano intrinsecamente bom versus o ser humano intrinsecamente mau... Que enjôo! E outra vez, narração. Ora, dêem-me a narração, mas do jeito que o Woody Allen fez em V.C.B. -- Grande filme? Talvez não, mas inteligente, permitindo que a gente discuta alguns dados inerentes ao ser humano, como sua eterna insatisfação, com a vivacidade da percepção contemporânea.
Para terminar, mais uma pergunta:
-- Por que você tem que falar sobre coisas que não entende?
-- Porque não entendo, mas gosto...

Friday, January 23, 2009

Palavras...

Uma coisinha ou outra que me encantam nos blogs.
Como leitora de alguns blogs ( que, infelizmente, ainda não consegui colocar na listinha para que possa fazer uma ponte com eles -- socorro, André, essa é sua deixa para me mandar um e-mail me ensinando!) me encanta essa sensação de intimidade e amizade que pode ser criada através das postagens. Como autora, também. É fascinante observar o crescimento de um novo tipo de amizade em que a gente nem tem noção de como seja a pessoa do outro lado do ciberespaço. Não sei onde estão essas pessoas, não conheço seus rostos, não sei como chegaram até a página, assim como não sei mais como cheguei à página de uns e outros.
Me sinto numa galáxia, pulsando ondas que desconheço, pois não sei nada dessas coisas eletrônicas. E essas ondas vão se ampliando e chegando a pontos distantes, ou próximos, e depois vão continuando, e talvez sejam recuperadas daqui a milhares de anos, como dizem que é possível recuperar fragmentos de sons emitidos por pessoas que viveram nas épocas mais distantes, em alguns pontos mágicos do nosso planeta. Imaginem, a gente andando por uma clareira de um bosque e de repente ouvindo vozes sussurrando juras de amor em provençal... Ou comandos de batalha em aragonês, ou canções de ninar em ladino... Mas aqui não é o caso dos idiomas exóticos: entramos numa clareira ciberespacial/ciberespecial e encontramos, no nosso bastante exótico português do século XXI, textos que nos emocionam, que revelam aspectos da realidade vistos através de outros olhos, pequenos fragmentos que, um dia, poderão ser percebidos como documentos históricos (obrigada, Cris!)
Já estou meio perdida em devaneios, mas quero dizer uma coisinha mais que me fascina -- é a sensação de contemporaneidade. Pois a leitura sempre me deu uma idéia de uma espécie de fila, de estar lendo o passado, mesmo quando estamos lendo um autor contemporâneo -- pois existe o tempo da escrita, o tempo da publicação, essas demoras todas... Mas o blog reduz isso. Tenho a certeza de que, daqui a algum tempo, se é que já não existe isso, poderemos estar escrevendo e publicando simultaneamente, e quem estiver plugado em nosso site irá vendo as letrinhas aparecendo uma a uma, num outro inquietante tipo de Big Brother (valeu, Adriana!)
E agora, vou cuidar de outras coisas, e procurar minha querida aniversariante do dia, e tratar de viver, pois, como me lembrei ao escrever a um amigo, esta manhã -- a vida não tem rascunho. Vamos a ela!

Thursday, January 22, 2009

Silêncios

Há muitos tipos de silêncio, já pensaram nisso? Existe o silêncio da timidez, que conheço bem, mas a que procuro resisitir. Existe o silêncio da gentileza, o da compaixão, o do amor. Existe o silêncio da indiferença, da agressividade, da ignorância. O silêncio da paz, que se opõe ao do desespero.
Quando era pequena, eu não suportava o silêncio -- descobri isso numa viagem que fiz com minha bisavó (numa família em que as mulheres casavam-se cedíssimo, não é de admirar que eu conhecesse e convivesse com a minha). Fomos para uma velha cidade, quase fantasma, que teve seus dias de glória nos tempos do café. Mas depois, até o trem, que nos levou até lá, só parava na estação quando tinha requisições, e a gente se via obrigada a pular dos vagões, que me pareciam altíssimos, no meio de uma pastagem que rodeava a pequena estação, pois a plataforma só comportava a locomotiva... Bem, essas são memórias que reconstruo com a lógica do presente. Do passado só tenho de concreta a imagem de meu avô carregando sua mãe nas costas, até depositá-la, a salvo, no chão de mato bravo. Minha bisavó, sem saber onde se segurar, tampava com as mãos os olhos do vovô, que dava passos às tontas, pedindo para a mãe tirar as mãos de seus olhos. Certamente, uma visão que não dá para ser esquecida. Quando, anos mais tarde, li as cartas de Anchieta e me deparei com a cena do jovem sacerdote carregando o Padre Nóbrega nas costas, ria sozinha, lembrando do vovô e seu desespero.
Bem, voltando ao silêncio, quando chegou a noite, a noite mais densa que já tive que enfrentar, numa cidade sem iluminação pública, num hotel iluminado a lamparinas e alimentado a fogão de lenha, quando todos se recolheram, os barulhos familiares se extinguiram e sobrou o silêncio, mas o silêncio orgânico do mato: um perpétuo ruído de insetos e animais noturnos, misturados, era o que atacava meus ouvidos com uma vibração altíssima, estranha, que me manteve acordada e chorando, reclamando que " o silêncio estava muito alto". Desnecessário dizer que meu avô teve que voltar para me resgatar daquelas férias... Nunca fui muito feliz naquelas paragens. Anos depois, num acampamento de bandeirantes -- meu primeiro acampamento -- nossa tropa escolheu um lugar errado para montar a barraca: ao lado de um laguinho, de baixo de um morrinho, tudo assim diminutivo, mas que, devido a uma tromba d'água, se transformaram em ameaças às nossas vidinhas, também diminutivas. Todas molhadas, salvando o pouco que conseguimos de suprimentos, carregando nossos pertences ensopados, enfrentamos a enxurrada ladeira acima, até chegar ao galpão abandonado onde nos instalamos para dormir. Fiquei doente, febre alta, tive que ser resgatada mais uma vez... Não sei se adoeci graças à chuva e a lama, ou pelo susto e o cansaço. Mas, antes do dilúvio, consegui guardar algumas boas lembranças da vida de acampamento -- todas altamente perigosas. Mas depois eu conto isso. São lembranças para outros posts. Voltando aos silêncios...
Guido estranha o silêncio em resposta aos meus comentários, pensa até que está cometendo um engano, que embarcou num blog de mão única. Por favor, meu amigo, escreva! Você não é meu único leitor, embora até possa parecer. Mas é o que mais constantemente me alimenta com seus comentários. Sei que tenho outros leitores que me mandam e-mails particulares, atrapalhados sem conseguir comentar no blog, ou tímidos de colocarem seus comentários para serem lidos por outros. Também, seja justo, tenho outros que comentam com regularidade, ou deixam pequenas notinhas cordiais, como cartões de visita. Eu mesma sou uma leitora silenciosa dos outros blogs, só muito de vez em quando mando mensagens ou faço comentários.
O silêncio, ou os silêncios que julgo perceber não me parecem agressivos. Mas as palavras são muito aguardadas e apreciadas. Nesse labor solitário da escrita, quando os comentários ao que escrevemos podem demorar anos para nos atingir, um blog é um instrumento precioso para percebermos as reações possíveis ao que escrevemos. Mas ainda é uma novidade, alguns ainda têm medo -- acham que todos os seus dados podem ser sugados de seus computadores caso eles entrem nos registros necessários para as respostas. E eu não posso tranquilizar ninguém quanto a isso: Que sei eu, dessas coisas? Só digo que adoro que me respondam, que dialoguem comigo, que me corrijam ou me incentivem -- eu só saio ganhando. E agradeço, muito,as palavras descobertas e as escondidas.

Wednesday, January 21, 2009

A perfect blogging day

Depois de tantos dias de sol, uma ameaça de dilúvio. A luz prateada, não muito intensa, os barulhinhos confortantes da chuva, quando se está abrigado, são um convite irresistível à leitura e a escrita.
Pouco a pouco vou me desemaranhando do mar de pequeninas tragédias que me acometeram -- carro quebrado, armário tomado por cupins, computador silente e emburrado--, e vou mergulhando na montanha dos livros e leituras que tenho para fazer. Um dos textos mais instigantes foi o que me foi dado pela Rachel. Ela, além de grande escritora, parece ter sido abençoada com o mais perfeito timing que se pode alcançar. Seus textos parecem que vêm preencher lacunas, responder a perguntas não formuladas. Estou com um conto chamado Estrela de Belém, que ela recuperou através do perfeito leitor e amigo. É um texto que revela um encanto juvenil com a vida, compromissado com sua capacidade de maravilhamento com as coisas mais corriqueiras. O conto não se passa no Natal, não tem nada de religioso, mas é um conto de esperança, de recomeço -- e nós, nestes nossos dias de Obama, estamos todos aptos a absorver estas aragens, a nos deixarmos amolecer de tanta fé na capacidade de regeneração humana.
Temos sobrevivido graças à esperança, não acham? E agora, esse belo jovem, alto e ereto como uma lança, cheio de boas intenções, com uma sólida formação acadêmica e uma família que parece ser verdadeiramente amada, vem com discursos que revelam um lado adorável de ingenuidade, de crença nas boas tradições, de recuperacão de valores humanos e éticos, que abandonem,ao menos por um tempo, toda a ganância, o egoísmo, o meuprimeirismo que andam nos assolando. Chegamos a acreditar que será possível mudar. Ele mesmo já mudou imperceptivelmente seu discurso -- Não mais yes, we can -indicador de possibilidade, para yes, we will - indicador de compromisso e ação.
Inclusão, pés no chão, rostos alegres e entusiasmo para o trabalho. A festa que presenciamos, não só em Washington, mas pelo mundo afora nos anima. Talvez o século XXI esteja, finalmente, começando, e comece, diferentemente do XX, não com guerras, mas com a paz. Que este seja o século que todos esperávamos: reinventando a civilização baseada no conhecimento e no amor ao próximo, em que todos tenham valor igual. Oferecendo, ao invés de tomar. Construindo juntos, ao invés de destruir. Pondo ordem em nossa casa, cuidando dos recursos naturais, alimentando filhos, contando nossas histórias uns aos outros, aceitando e admirando as diferenças...
Para terminar, uma palavrinha a respeito das roupas de Mrs. Obama -- teremos chegado ao fim das ilusões de super estrelas? Pois os trajes escolhidos por Michelle não foram nada especiais -- foram roupas de realidade, que passam uma mensagem ao povo dizendo -- a gente não vale pelo invólucro, não é o papel que faz o presente. Eu não me visto para ofuscar, estou aqui como alguém que vai a uma festa importante, mas que não empenha as jóias para alugar um vestido.
Bravo, dona primeira dama! Obrigada por ostentar as cores brasileiras -- isso talvez signifique alguma coisa. Obrigada por sorrir e acenar calorosamente quando via alguma coisa que a agradava ou alguém de quem gostava. Nada do ar blasé do passado: apetites naturais e humanos, reações sinceras e transparentes, dinamismo... Obrigada por ser, e demonstrar que é, gente como a gente.

Tuesday, January 20, 2009

Outros aniversários

Está muito escuro e estou escrevendo num computador estranho, daí que o post vai ser breve. É só para expressar a alegria que sinto neste mês de aniversários. Ontem foi o do André, hoje é o da Daisy, amanhã do primo Pereira! Coisa boa, três dias seguidinhos de lembranças de gente querida, que são meus amigos queridos e eu nem sei o que fiz para merecer ter gente assim especial a meu redor! Dia 23 é o da Florinha, minha florzinha encantadora, que tem sempre a palavra certa para dizer! Nem sei se esses amigos lêem meu blog, mas, se lerem, saibam que meus dias estão mais alegres graças às boas lembranças que tenho de vocês.

Sunday, January 18, 2009

Via Crucis

Essa não é do corpo, nem do cotidiano. É cibernética e está me deixando louca. Há muito tempo atrás, quando voltei dos EUA trazendo comigo um computador McIntosh repleto de escritos e arquivos importantes, o pobre coitado teve um "choque cultural" e não se adaptou ao Brasil. Ficou mudo por um bom tempo até que eu conseguisse arranjar alguém que consertasse Apple, que aqui no Brasil era coisa rara. Depois de algumas semanas encontrei uma oficina no Centro e para lá foi meu computador,com síndrome do encarceramento... Quando voltou, ele falava outra língua: todos os meus arquivos, que os técnicos deram como recuperados, estavam escritos em sinais matemáticos. Infelizmente, na época, eu não tinha um filho adolescente, que me ensinasse tratar disso. Agora, há pouco tempo atrás, precisei de uns arquivos que estavam num back-up. Como sou muito desligada, fiz os back-ups, mas não identifiquei, com precisão, o nome dos arquivos nos CD`s, daí que precisei ficar horas olhando um por um e, como sempre,no último ou no penúltimo é que encontrei o que procurava -- Não que eu não tivesse posto algum tipo de identificação, mas, na época, achei que seria muito interessante classificá-los por data: Arquivos de fevereiro a março de 2003, por exemplo. Se eu não lembro o que comi ontem, como vou lembrar o que escrevi entre fevereiro e março de 2003? Bem, não era isso o que estava tratando, falava das vantagens de ter um filho adolescente. Pois abri as pastinhas e meus arquivos estavam todos em sinais incompreensíveis, quadradinhos, tracinhos, cifrões... Passei a tarde desesperada, procurando em papéis velhos para ver se tinha alguma versão escrita da pasta que precisava. Achei alguns textos incompletos, outros repetidos, e quando meu filho chegou me encontrou irritada, cheia de alergia, na frente do computador, tentando transcrever tudo aquilo, achou que eu estava doida. Depois do diálogo de praxe, com o objetivo de demonstrar bem como as mães são seres irracionais e suas ações fruto da sua total incapacidade, ele finalmente me sorriu e, sem nem precisar sentar na frente da tela, inseriu o CD, olhou para o arquivo em questão e com um único comando transformou o incompreensível em texto outra vez. Depois de algumas súplicas ele me ensinou o que fazer, mas eu já esqueci. Acho que era mandar "save as text", uma coisa banal. Sei que era save as, mas não sei qual o formato, vou ter que perguntar de novo. Bem, agora o caso é mais grave, ou ele já está mais velho e perdendo sua capacidade cibernética: ele tentou e não conseguiu resolver o problema. Mas também desconfio. Já há alguns meses ele vem me buzinando, dizendo que eu preciso de uma "máquina" nova, que meu computador já está ultrapassado... Ah, céus! Odeio trocar minhas coisinhas tão amadas por coisas novas e desconhecidas. Quero meu carrinho de dez anos, meu computador de oito, gosto que as coisas envelheçam comigo, que só eu ainda lembre o que dizia aquele botão que, de tão premido, se apagou...Gosto do jeito que a poltrona se adaptou ao meu corpo, do controle remoto que finalmente aprendi a usar, do DVD que não congela quando quero assistir um filme novo. Outro dia saí no carro do meu filho (é, o carro também está pifado) e fiquei louca, sem conseguir desligar o rádio, nem trocar de estação. Depois de algum tempo, encontrei o botão que comandava o som, e, vitoriosa, diminui todo o volume. Não consegui desligar o rádio, mas também não fui obrigada a escutar a música que não queria....
Bem, por isso peço perdão se não estou sendo capaz de responder aos amigos, nem de atender aos pedidos. Quem tiver urgência de falar comigo, ligue para mim, sim? E não se admirem se eu ligar para vocês, como aconteceu com a Maria Helena: sou louca, mas dentro de um limite razoável, expliquei. Quando não dá para escrever, eu falo, sim senhora!
Bom domingo, que os ventos sejam portadores de boas coisas, para todos nós.

Thursday, January 15, 2009

ANIVERSÁRIO

Sim, hoje é dia de aniversário na família. A filha está longe, mas comemoro em meu coração. Sempre gostei de dias de aniversário, os das pessoas queridas -- o meu não ligo muito. Mas no dia do aniversário de meus amigos e parentes fico toda feliz, pensando na maravilha das coincidências do mundo que criou aquela pessoa para ser minha amiga, ou minha filha, ou meu marido, ou até mesmo meu cantor preferido... Coisas, mas o fato é que sou assim, e me alegro, e vejo o dia, mesmo se enevoado e de mau começo, como uma promessa de felicidade. Parabéns à minha filhota distante, parabéns ao mundo por ter entre seus habitantes pessoas tão especiais como ela!
Felicidade a todos. E agora, lá vou eu, para a via crucis do cotidiano.

Wednesday, January 14, 2009

Fashion Passion

Ontem, mal postei o blog, minha internet caiu. Fiquei até hoje à noite sem internet nem telefone. O telefone não me incomodou -- continuo com a loucura de não querer falar ao telefone --, mas a falta da internet me causou uma grande ansiedade. Quando foi que me viciei dessa maneira? Só sei que me aproximo do computador como se estivesse visitando um oráculo capaz de me revelar o motivo de minha existência.
Se a minha existência tem motivo, deve estar ligado à literatura. Hoje, quando o Carlos Herculano, do Estado de Minas, telefonou (para o meu celular, é claro) avisando que vai sair uma notinha no caderno Pensar, fiquei toda feliz. Basta esse pouquinho para me deixar achando que "tudo vale a pena".
E é coisa semelhante o que deve animar os frequentadores do Fashion Week. Fui lá hoje, pela primeira vez, convidada pelo Márcio. Obrigada, amigo! O lugar é lindo, os cenários montados são deslumbrantes, mas eu fiquei perplexa, com tudo. Tanto trabalho, tanto investimento, e tudo para ficar em segredo, numa espécie de segredo, pelo menos. As pessoas montam stands lindos, refrigerados, mas quem vai à Marina da Glória não pode circular por todos eles. Quem vai à Vogue não vai ao Ela. Quem vai ao Fashion Business nem sempre pode ver tudo, pois alguns stands se fecham com cortinas receosas ou meramente antipáticas. Quem vai ao espaço vip do Sebrae não vai ao espaço Vip da Levis...É preciso ter convite para cada um dos espaços. E os desfiles, então, nem se fala. É preciso convite, cadastro, entrar na fila, sentar no setor indicado, e, se a pessoa se distrair um pouco, corre o risco de não assistir ao desfile, que é rápido, quase corrido...
Acho que o que mais gostei foi de ficar na porta, esperando o resgate de meu amigo, o portador dos convites. Ali naquela tribo fui confundida com alguém importante (talvez por estar toda vestida de preto, cor fetiche dos fashion victims), compartilhei cigarros e telefones, avaliei roupas e pessoas, surpreendi sonhos e desencantos. Dezenas, ou centenas de pessoas passaram por ali nos poucos minutos que esperei. Gente de todas as tribos: o povo das sandálias baixas e despojadas, o povo das sandálias baixas e complicadas; o povo do salto alto; o povo da roupa justa; o povo dos vestidos largos; o povo dos vestidos curtíssimos, o povo das bermudas; o povo do terno...Talvez o mais numeroso e ativo seja o povo das tatuagens. Logo na chegada vi uma que carregava todo um varal de roupas em suas costas. Aquilo me fascinou. Redundante, mas pertinente...
Bem, agora vou dormir, quem sabe consigo sonhar que estou desfilando?

Tuesday, January 13, 2009

Releitura

Relendo o que escrevi ontem, tive uma sacada: o momento em que se começa a envelhecer é quando a gente pensa como eu -- não sou, fui. Aí, já era. Acabou-se o que era douce, como eu dizia quando era pequena... Voltando, então, ao filme, aqueles homens acabadinhos, gastos, de gestos endurecidos, olhares incertos, podem parecer velhos, mas não estão nem um pouco velhos. Eles SÃO, acreditam ser, têm apetite para ser e se entregam, sem cerimônia, ao espetáculo de viver. Pois, outra sacada, viver é um espetáculo -- vivemos para os outros, contracenando, expondo ou impondo, dissimulando, enfrentando...
Gente, estou filosófica demais. Vou ficar caladinha até passar, prometo.
Mudando de assunto, mas continuando no clima de tristeza não tem fim, a revistinha eletrônica Histórias Possíveis, fundada pelo André de Leones vai acabar. Dia 31 de janeiro é a última edição. André cansou, e como ele era a alma da HP, sem ele nós nos debandamos. É uma pena terminar assim em pleno verão: carioca começa tudo no verão, tem um gás extraordinário nesta estação. Eu, que extreei num verão -- bem numa terça-feira de Carnaval -- sou meio assim. Reclamo do calor, mas adoro os dias de verão, principalmente os de praia, e sempre me encanto com as mudanças que se operam nos cariocas (nos acidentais também) durante o verão. É época de namoro, de roupas graciosas, de cabelos molhados e rostos corados, de turma reunida tomando sorvete, ali na boca da noite, aproveitando que "refrescou". É época de olhadas surpreendidas para o relógio e de exclamações do tipo: Quêêê?! Sete e meia, jáááá? Mas ainda está tão claro.... Nem senti o tempo passar! Pois o tempo não passa, no verão. É uma estação mítica, com partidas de vôlei, bicicletas, frescobol apesar dos pesares, futevôlei e chuveirinhos.
Bem, o tempo não passa, mas o relógio não para, e eu vou ter que sair. E só volto com coisas alegres e divertidas, prometo.

Sunday, January 11, 2009

Decrepitude

Fui ver um filme, nessa tarde gostosa de domingo, depois de pegar uma praia (sem livros!) Haviam me dito que Juventude era ótimo e eu, como sempre fui fã das peças do Domingos de Oliveira, deixei de lado O menino do pijama listrado e embarquei nesse outro filme, mas um pouco receosa. Bastou olhar à minha volta na platéia: eu era decididamente a mais jovem. Muito mais jovem que todas as outras mulheres que ali estavam. Pensei que isso se devesse à sessão, ainda cedo que era, mas, mal o filme se iniciou que percebi que as pessoas que estavam ali queriam era se contemplar envelhecendo... É uma meditação muito interessante, tentar dignificar esse descompasso entre o corpo e a libido. Um corpo que vai se limitando, se anquilosando, adquirindo marcas e cheiros, e uma libido que, num cérebro que se mantém vivo e ativo, também se mantém viva, pulsante. A única coisa que me incomodou foi a dicção, as palavras emitidas com dificuldades variadas, num filme onde o mais importante são exatamente as palavras. Mas houve momentos de pura beleza, como a cena do Paulo José, vestido de cardeal, de costas, braços abertos, imponente. E as comoventes declarações de amor ao teatro, à vida, ao próprio amor. Por que renunciar ao amor? Como amar sem sexo? O amor salva? O amor destrói? O amor acaba? E a juventude, aprecia o amor?
Já não tenho mais meu parceiro amoroso, e muitas vezes me pergunto se é justa essa separação. Num momento, o personagem do Domingos de Oliveira conta de sua separação da mulher de sua vida, Pinky, e revela que, no rompimento, confessa a ela que não sabe se vai continuar vivendo, ao que ela lhe responde para não se preocupar pois, se ele morresse, ela também morreria. Sempre achei que eu morreria também, e não me conformo de estar entre os vivos. Mas "viva" mesmo eu não sei se estou. Sei que meu organismo funciona, mas não me reconheço mais como uma pessoa inteira. Sinto-me cindida, dividida: uma metade de mim, morta e inerte, contempla essa que se mexe, que ingere, que vai à praia, que escreve, que sorri, que se deixa fotografar e sabe que está vendo uma impostora. Mas chega de confissões desnecessárias. Para quê? Para quem? Vivo. Respiro. Bebo água. Transpiro. Leio. Escrevo. Mas não sou. Fui.

Friday, January 09, 2009

Começar o ano

Parece que meu ano demora a começar... Com a viagem, fiquei meio desorientada e volto para um verão já em andamento, com amigos programados, outros viajando, outros simplesmente mudados. Levo susto ao tentar organizar os e-mails e a vida. Quem é esse que se anuncia de partida, tão diferente do amigo que deixei ao sair daqui? E aquela, brigando por uma causa, apaixonadamente furiosa, ameaçando e vituperando? Onde foi minha amiga viajante, a quem contava encontrar quando chegasse?
Desfaço malas e planos... Vejo, nas malas, o quanto mudei:-- para mim só comprei óculos de leitura, e livros. Nada das novidades que me encantavam, das maquiagens que me seduziam com suas paletas de cores, de roupas e bijoux. Livros, e óculos, para alguém cujas fantasias já não são mais tão fáceis, e cujos olhos já não são mais tão eficientes. Imagino se na próxima estarei trazendo aparelhos de surdez e produtos para os dentes, ou bengalas... Bem, espero não demorar tanto assim. Mas, no momento, estou sofrendo de um enjoo de viagem. Penso em nunca mais sair de casa. Nem mesmo para ir até a esquina! Só que, quando olho para fora, vejo o mar azul me chamando, sedutor. Quem sabe quanto tempo ficarei com essa resolução drástica...E, sem nem mesmo me aperceber, vejo que a agenda vai começando a ostentar compromissos. Domingo, segunda, quarta... Um pássaro chega voando aqui em minha janela, com uma saudação apressada. Outro chega logo em seguida, e eles partem, num voo tão simples e fácil que parece arte, e não vida. Porque a vida é complicada, é trabalhosa, e ininterrupta. Me pergunto como resolver as coisas que se problematizam sem necessidade, os prazos que nos são impostos sem que o desejemos, me vejo no meio de um vórtice. Para onde me leva esse ano que começa assim abrupto? Um solavanco, um empurrão, e eu fujo. Quero abrir as páginas de meus livros, me deixar ficar no mundo encantado para onde o tapete mágico das lentes artificiais ainda consegue me levar...
Ah, quanto a pedidos de fotos, sinto desapontar a todos. Não levei máquina para a viagem. Estou numa nova fase, egoísta: quero as vistas só para mim, para minhas lembranças. Na verdade, essa tal de máquina digital, que me inunda com fotos desnecessárias e redundantes, tem me deixado um pouco cansada. Não levei. Mas pousei dócil para quem desejou me fotografar, e foram poucos os que o quiseram. E eu sorri, como me pediram. Disse o que me pediram para dizer, me coloquei nas posições indicadas... Se receber alguma dessas fotos, publico, obediente. Enquanto isso, acreditem no que digo, que é muito mais do que o que posso revelar com uma lente digital... Lá vou eu aos livros...

Wednesday, January 07, 2009

Despedidas

A neve veio tímida, uma pequena poeirinha que deixou os carros esbranquiçados. Depois a chuva congelou os arbustos e transformou-os em esculturas de cristais. Acho isso lindo, o problema é que é perigoso à beça para dirigir. Hoje as escolas foram canceladas, ninguém saiu de casa ainda pois aconteceram inúmeros acidentes nas estradas... Mas o tempo vai melhorar mais para tarde, o que é bom para mim, já que tenho um longo caminho até o aeroporto. Já está bem melhor, a neve dos parabrisas, e o gelo acumulado já começa a derreter. Então, aproveito para conversar um pouco mais com minha amiga, curtir seus filhos e marido que estão em casa, minhas últimas horas de visita...

Tuesday, January 06, 2009

Mais visitas ao passado

Hoje fiz de novo um flashback, mas, desta vez, ao invés da vida acadêmica, foi a vida de dona de casa: lá fui eu às compras de ingredientes, para preparar um jantar de dia de Reis, de despedida, de aniversário de casamento... Minha amiga estava com saudades da comida brasileira, e aí lá fui eu atrás de uma lojinha de portugueses, escondidinha em Bridgeport, onde costumava encontrar todos os produtos brasileiros, de guaraná a pão de queijo. Só que os brasileiros se foram, só restam por aqui os portugueses, a dona me falou. E comprei, então, especialidades de Portugal. Uma Rosca de Rei, ou Bolo Rei, para o dia de hoje. Pastéis de nata, para a sobremesa. Farinheira e outras especialidades para um cozido, que vai ser à brasileira, pois encontrei farinha de mandioca, para fazer o pirão. Pães e queijo completam nossa festa. Ah, e guaraná, marca Brasília. Outra coisa que agora é popular por aqui é o açaí. Um rapaz que visitou o Rio se encantou com o açaí tomado à beira da praia e passou a importá-lo e vender aqui. Encontrei em todos os aeroportos pelos quais passei, uma maquininha vendendo açaí, "a fruta milagrosa do Brazil". Mas esse não comprei. Nemaí eu tomo açaí... Mas comprei bacalhau, que vou ensinar a minha amiga como preparar. E agora, ao trabalho, pois tenho muito que cozinhar. Só para terminar, estou aqui à espera de neve, prometida para hoje. Até agora não chegou. Ia cair às 4, depois mudou para as 8. Vamos ver o que vai acontecer.

Monday, January 05, 2009

Down Memory Lane

Hoje foi um dia de volta ao passado: depois de tanto tempo, resolvi ir até Yale, e conferir as lembranças com a realidade. As velhas torres, a enorme biblioteca, as construções antigas e fingindo ser ainda mais antigas do que são. E as modernizações, muitas, muitas diferenças que tornam a Universidade mais agradável de se viver/estudar, mas que a transformam numa coisa mais "pasteurizada", que faz com que ela perca sua individualidade. Bem sei que Yale tem a fama de ser um dos Campi mais feios dos Eua. Dizem que o de Cornell é muito bonito, mas minha amiga discorda, dizendo que o inverno lá dura 9 meses por ano, e que nenhum lugar assim pode ser considerado bonito... O de Princeton é muito lindo, Stamford é bonito, também, imitando uma Hacienda mexicana... Há quem goste. Gosto muito de Harvard, mas isso é porque gosto da cidade de Boston (na verdade, Harvard fica em Cambridge, mas tenho dificuldades em separar Cambridge de Boston. Para mim Cambridge é apenas um bairro de Boston, ali do outro lado do Rio Charles). Mas adoro Yale, com todas as suas falhas e defeitos. É parte de minha vida, e sinto que deixei um pouco de minha alma colada naquelas pedras... Quase caí dura quando soube que o último filme de Indiana Jones foi filmado na "minha" biblioteca, meu templo sagrado, presidido pela imagem da deusa da sabedoria, por Nossa Senhora da Cultura, para quem fiz tantos sacrifícios... E agora ela virou back-ground para as correrias de moto do senhor Jones. Bem, muito pior que isso é saber que os estudantes não vão mais às bibliotecas da Universidade, pois tudo foi digitalizado e eles fazem download dos livros em seus laptops, que carregam para as salas de aula. Tudo é muito diferente. Acabaram-se as colunas Morris, com os avisos das atividades no campus. Agora, quem quiser anunciar alguma atividade, e conseguir presença dos alunos, tem que fazê-lo no Facebook, que é uma espécie de Orkut daqui.
Entre ontem e hoje comprei "apenas" dez livros. Um sobre Proust, três sobre "comida" e literatura: um oferece uma "história da literatura mundial em 14 receitas" meio que de mentirinha, pois todas as histórias foram escritas pelo mesmo autor, Mark Crick; outro é de artistas falando sobre comida e o terceiro esqueci, mas também é assim desse jeito. Espero que sirvam para minha tese. Comprei o Firmin, o White Tiger, um de Virginia Woolf falando sobre seus passeios em Londres, Ah, nem sei mais. Ganhei um de presente, um romance histórico sobre Maria Antonieta, escrito pela mulher do Harold Pinter, Antonia Fraser, acho que é esse o nome. Comprei o Shadow Line, do Conrad. Chega de listas. Para terminar, uma pequena memória de Las Vegas, o show das fontes do Bellagio. A cada vez que assisti o show, as músicas eram diferentes, a coreografia maravilhosa, o encantamento geral. É uma das mais interessantes coisas para se fazer em Vegas, e nunca nos cansamos de assistir o espetáculo. Em compensação, o show "A queda de Atlântida"no Caesar's Palace é um horror. Uns robots horrorozinhos, interpretando Zeus e mais outros dois deuses, que disputavam a cidade a fogo e água... O mais interessante era ver a fonte se transformando neste teatro, as estátuas sumindo e em seu lugar subindo os bonecos animados. Outro show bonito, mas nem tão interessante, era o do Mirage, com o seu vulcão em erupção. Não assisti ao show dos piratas, mas, pelo que me falaram, não perdi muita coisa -- é que adoro o show da Disney, e não quis atrapalhar minhas lembranças com esse outro superpovoado e que molha todo mundo...
Até mais, então.

Sunday, January 04, 2009

Colecionando conchas...

Em Connecticut, à beira do Long Island Sound, num frio de rachar lábios e dedos, lá vou eu, acompanhando meus amigos, numa caçada às conchas.Estou na casa de uma sereia, fascinada pelo mar, com conchas, vidros e marinhas por toda a parte. Assim se tem a ilusão de que estamos um pouquinho mais quentes, um pouquinho mais tropicais. Mas, na verdade, calor aqui só o humano. Passamos ontem o dia colocando os assuntos em dia, e a maior parte de nossos assuntos são os livros que lemos. Trocamos informações e entusiasmos, depois fomos jantar em um restaurante japonês numa mesa de Habashi. Por incrível que pareça, nunca tinha feito isso na vida: assistir a performance do chef samurai, com suas facas e garfos ameaçadores, quebrando ovos e depositando as cascas no oco do chapéu, atirando pedaços de comida em nossas bocas, nos fazendo rir com suas brincadeiras, ou assustando-nos com seus flamejantes espetáculos. E, o mais importante, nos deliciando com a comida muito gostosa. Hoje foi mais um dia de conversa, fruit-kebobs preparados com carinho para o café da manhã, mais livros, em conversa e em compras: livros para todos! Uma alegria!
Tinha começado a escrever um post sobre a jogatina em Las Vegas, mas acho muito melhor ficar aqui nesta conversa tranquila, e sair para apreciar o por-do-sol, esplendido, com todos os tons de vermelho, e pinceladas escuras atravessando o céu, enorme, sempre tão amplo, os famosos "Spacious skies" da canção America, the beautiful. Realmente, este nosso novo mundo é muito lindo, e variado. Lembro agora do passeio ao Grand Canyon, com paisagens de tirar o fôlego. As rochas desenhadas e pintadas de cores vivas, formando verdadeiras esculturas naturais -- aqui uma águia no vôo (que agora é sem acento, meu Deus!). Ali uma tartaruga, logo abaixo uma cabeça de leão da montanha, mais atrás um perfil de índio... Bosques de Joshua's trees, deserto de Mojave, tudo isso me maravilhou no caminho até o canyon que, enorme, me fez ficar achando que o Rio Colorado parece um riachinho... Bem sei que não se trata disso, é tudo uma questão de proporção, mas a imagem visual que guardo do rio é a de uma estreita faixa serpenteando lá embaixo, de cor pardacenta, imóvel, sem nem ao menos reverberar o sol, que não chegava a alcançá-lo. Lá de cima, a gente fica olhando um horizonte longínquo, tão distante como os sonhos daqueles desbravadores que atravessaram montanhas geladas e desertos inclementes à procura de uma "terra prometida" que se revelou uma espécie de inferno agitado -- a Califórnia e seu ouro. Não termino sem antes falar da represa que criou o enorme lago Mead com as águas do Colorado. Diferentemente de Itaipu que se estende, esta se eleva entre as montanhas que formam um desfiladeiro estreito. E se enfeita com o capricho arquitetônico próprio dos anos 30, com detalhes de art-déco nas construções. Mas, o mais espetacular no momento é apreciar a construção da nova ponte, uma ponte suspensa, daquelas que, depois de prontas, parecem tão leves e delicadas, mas que no estágio de construção em que está revela todo o prodígio de força e o cálculo necessário para sua realização. É de ficar fazendo Uhhhs e Ohhhs, ponderando sobre cada centímetro já avançado... Depois conto mais coisas.

Friday, January 02, 2009

Muitas novidades e pouquíssimo tempo...

Nossa! Que falta que faz internet no hotel. Nem acreditei que, bem lá em Las Vegas, não fosse dispor de conexão fácil, mas depois percebi que, por causa dos jogos, os computadores, celulares e outros brinquedinhos eletrônicos não são bem vindos. Os telefones ficavam meio malucos,por lá.Os serviços de mensagens, tinham uma demora enorme, para evitar trapaças, eu acho.
Mas a verdade é que também tive muito pouco tempo para pensar em internet e em blog. Há muito o que fazer, muito o que ver, e o dia não é elástico. E lá tudo demora: os hotéis são quilométricos, para ir do hall de entrada para o quarto é preciso ter preparo físico. Bem, agora preciso deixar vocês, com a promessa de que volto a escrever em breve. Vou embarcar em meu vôo para NY. Passei o dia hoje em aeroportos: Las Vegas, Dallas e agora a caminho de Newark.
Até breve.